Dicas para você entender e comprar melhor
por Silvia Mascella
A França é, provavelmente o país produtor de vinhos que mais fascina e mete medo nos enófilos. Todo o peso dos séculos de tradição de produção, toda a fama (e o preço) dos grandes ícones do mundo como os Champagnes, os Borgonhas e os Bordeaux e a barreira da língua nos rótulos, afastam muita gente de boas experiências.
Sim, a França é um dos objetos de desejo do mundo do vinho. Senão o maior (isso não é demérito para os outros países, bom deixar claro) e um teste fácil é só pedir para você lembrar o nome de 5 uvas - brancas ou tintas, tantos faz - é bem provável que a maioria delas sejam francesas. Eles têm sido bons de marketing através dos tempos também.
LEIA TAMBÉM: Riesling: uma uva e muitos estilos de vinhos
No entanto, vários bebedores de Cabernet Sauvignon, de Merlot ou de Syrah (três uvas francesas clássicas) raramente provam os vinhos dessas uvas vindos da França por desconhecimento de como comprar rótulos interessantes. Como um dos maiores produtores do mundo, a França tem desde grandes ícones até vinhos medíocres. E região de produção não é garantia de qualidade, bom avisar desde já. Mas é necessário saber um pouco de geografia para facilitar a compra.
Do norte do país (região mais fria) vêm o Champagne (por ser a região demarcada mais importante do mundo, os vinhos serão caros mesmo, não tem desculpa e se estiverem baratos, tome cuidado), mas Champagne não é o único local que faz espumantes de segunda fermentação na garrafa com boa qualidade. Prove os Crémant da Borgonha ou de Limoux (ao sul) e você vai se surpreender.
LEIA TAMBÉM: Bordeaux e Borgonha, guia rápido das mais famosas regiões
Brancos com toques especiais de mineralidade, floral e outros compostos aromáticos difíceis de achar em outros vinhos virão também do norte, da divisa com Alemanha e Suiça, da região da Alsácia. Sim, você precisa provar um Riesling e um Sylvaner daquela região. Vai enriquecer seu paladar e seu conhecimento.
A França tem um sistema de regiões demarcadas que pode ser complicado, mas você verá no rótulo a sigla AOC (Apelação de Origem Controlada). Isso não é garantia de bons vinhos, mas já é um filtro para algumas regiões como o Vale do Loire, no noroeste do país. Por lá os brancos das uvas Sauvignon Blanc, Chenin Blanc e Muscadet são famosos. Não troque as taças: para começar a conhecer brancos, prove os Sauvignon Blanc do Loire e deixe os Riesling para a Alsácia.
Os fãs de Malbec vão achar seu cantinho do mundo no sudoeste, perto da Espanha, na região chamada Cahors e é bom aprender que por lá a Malbec pode ser conhecida como Côt. E que não é a Argentina, os vinhos não são tão densos e nem extremamente frutados. É sempre importante saber o que esperar ao provar rótulos diferentes.
A França inteira praticamente produz rosés, mas a 'terra' deles é a Provence, no sudeste. Delicados, de cor clara, com excelentes aromas, busque sempre as garrafas de safra mais recente. Se estiver na prateleira pegue a garrafa de trás, aquela que pegou menos luminosidade. Também vale provar os rosés do Languedoc, região ao lado da Provence, beirando o mediterrâneo. Para tintos frescos e frutados, escolha os das uvas Carignan ou Grenache.
Se no seu mundo tem que ter Syrah, vai ter que ter Vale do Rhône, berço dessa uva. Procure AOC no rótulo e não se deixe levar por vinhos muito, muito baratos e velhos. Para envelhecer bem, nessa região, tem que ter safra legal e preços mais altos, o que pode dificultar a compra. Não esqueça que essa região tem excelentes brancos da uva Viognier. Prove!
Na Borgonha, onde reinam a Chardonnay e a Pinot Noir, pedra de calçamento é objeto de desejo e tem cotação em euro. Sabemos que não é fácil, mas na lista que mostramos aqui em baixo tem Borgonhas avaliados com mais de 90 pontos AD que não vão fazer você vender um carro para comprar uma garrafa.
O mesmo vale para Bordeaux, com seus grandes vinhos raros e caros. Nessa região ao lado do Atlântico, os tintos de corte (combinação de várias uvas que não vão aparecer no rótulo) são os reis de tudo, e os grandes Château cobram o que valem. Mas dá para começar a conhecer a região com seus brancos da uva Sémillon, com o vinho de sobremesa Sauternes (que harmoniza perfeitamente com queijos azuis) e com alguns Château que vão encantar seu paladar sem furar o bolso. Todos os vinhos da lista abaixo custam menos de 300 reais.
Por fim, visite as lojas das importadoras, os sites, as dicas de compras de empresas confiáveis. Para conhecer França não dá para brincar de 'contatinho' que traz vinho mais em conta. Dá para beber muito bem conhecendo um pouco. Aproveite!