Uma das regiões mais tradicionais de Portugal, o Douro tem uma profusão de grandes rótulos de vinhos tintos
por André Mendes, Arnaldo Grizzo e Eduardo Milan
Ao se falar do Douro vinhateiro, as primeiras referências que surgem são as do Vinho do Porto. Remonta-se então ao século XVII quando surgiu a primeira designação desses vinhos e posteriormente aos acordos com os ingleses que garantiram exclusividade dos tecidos britânicos em solo português e, com isso, o fluxo de Vinho do Porto para o Inglaterra.
Todavia, hoje o Douro é reconhecido como uma fonte de grandes tintos e brancos, além obviamente dos clássicos fortificados. Para se ter ideia da grandiosidade desses vinhos, desde 2020, quando ADEGA passou a editar o ADEGA Portugal Guia de Vinhos, todos os consagrados melhores tintos do ano vieram do Douro. O primeiro com Chryseia 2015, depois com Quinta do Vale Meão 2015 e, por fim, Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa 2018; três dos mais cultuados vinhos da região.
Em 10 de setembro de 1756, quando o Marquês de Pombal institui a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, criou-se uma das primeiras regiões demarcadas de vinho do mundo.
Na época, diante da crise de preços, buscava-se assegurar a qualidade do produto, evitando adulterações, equilibrar a produção e o comércio e estabilizar os valores pagos pelos vinhos. Definiu-se então a “demarcação das serras” e a região produtora foi limitada por 335 marcos de pedra com a designação de Feitoria – que referendava o vinho de melhor qualidade, único que podia ser exportado para a Inglaterra.
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O tempo passou e essa relação entre Douro e Vinho do Porto seguiu tão estreita que, para muitos, era difícil conceber que a região produzia algo mais do que os seus famosos fortificados. Durante muitos anos, a elaboração de vinhos tranquilos acabou sendo escanteada. Foi somente em meados do século XX que a história desses rótulos passou a mudar.
Alguns produtores decidiram elaborar vinhos tranquilos de alto padrão nos anos 1950. Um dos primeiros a surgir e inspirar novas aventuras nesse sentido foi mítico Barca Velha, um tinto criado na safra de 1952 pelo lendário enólogo Fernando Nicolau de Almeida – nas terras do Meão de propriedade da Casa Ferreirinha, uma das mais tradicionais casas de Vinho do Porto.
Com a fama do Barca Velha, aos poucos, novos rótulos foram aparecendo e, além disso, uma legião de jovens enólogos – como os Douro Boys, grupo formado por nomes consagrados como João Ferreira Álvares Ribeiro e Francisco Ferreira da Quinta do Vallado, Cristiano Van Zeller, da Van Zellers, Francisco Olazábal, da Quinta do Vale Meão, Tomás e Miguel Roquette, da Quinta do Crasto, e Dirk Niepoort, da Niepoort –passou a apostar nos tintos durienses.
Sendo assim, desde 1982, criou-se a DOC Douro, que regula também a produção de vinhos tranquilos (tintos e brancos). Aos poucos, os tintos locais passaram a chamar a atenção e uma série de projetos e enólogos.
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Alguns dos nomes que alavancaram a produção no Douro recentemente são Sandra Tavares, Jorge Moreira, Olga Martins, Rui Cunha, Jorge Serôdio Borges, entre tantos outros, assim como as famílias Prats (que se juntou aos Symington para elaborar o Chryseia) e Cazes (que se uniram aos Roquette para projeto Roquette &b Cazes, e criar o rótulo Xisto).
Situada no nordeste de Portugal, na bacia hidrográfica do Douro, a região estende-se por uma área de cerca de 250 mil hectares e é dividida em três sub-regiões. Antes, a cultura da vinha era mais presente apenas no que se chamava de Alto Douro. Um dos limites originais de demarcação separava o Alto Douro do Douro Superior, na parte do Cachão da Valeira.
Esta divisão devia-se a um acidente geológico (um monólito de granito existente no rio que impedia a navegação do rio para além desse obstáculo). Posteriormente, com a remoção do bloco de granito no reinado de D. Maria, a cultura da vinha estendeu-se para leste, no Douro Superior.
Foi com a reforma administrativa de 1936 que a região do Alto Douro passou a ser designada por Baixo Corgo e Alto Corgo. A área de vinha assumiu maior importância no Baixo Corgo, onde ocupa cerca de 29% da sub-região, que se estende desde Barqueiros na margem norte e Barrô na margem sul até à confluência dos rios Corgo e Ribeiro de Temilobos com o Douro.
É a parte mais ocidental, próxima ao mar, e nela se sente a influência atlântica. As encostas são menos inclinadas e a produção é relativamente abundante (cerca de 50% do total).
O Cima Corgo estende-se para leste até Cachão da Valeira e engloba a parte central da zona. As encostas são difíceis e irregulares, e as montanhas muito inclinadas. O índice de chuvas é mais baixo do que no leste. Finalmente, desde o Cachão da Valeira até a fronteira espanhola, encontramos o Douro Superior, onde o clima é ainda mais seco. As encostas das montanhas são menos íngremes, aceitando alguma mecanização.
A maior parte do Douro, em particular ao longo do vale do rio e seus afluentes, pertence à formação geológica do complexo xisto-grauváquico ante-ordovícico, com algumas inclusões de uma formação geológica de natureza granítica.
Os solos são derivados de xistos daquele complexo e distribuem-se por dois grupos fundamentais:
O primeiro em que a influência da ação do homem é muito marcada, durante os trabalhos de arroteamento e terraceamento que antecede a plantação da vinha, e constituem a grande maioria da área ocupada por vinhedos e designam-se por Antrossolos áricos.
O segundo grupo é constituído por unidades em que a ação do homem foi mais suave e conservou o seu perfil original, com modificações apenas na camada superficial. Neste grupo distinguem-se três unidades principais: Leptossolos (cuja característica principal é a presença de rocha dura a menos de 30 cm de profundidade); Cambissolos (com espessura superior a 30 cm) e Fluvissolos (derivados de depósitos aluvionais recentes, localizados em superfícies de deposição de sedimentos).
O clima duriense é grandemente influenciado pelas serras do Marão e de Montemuro, que servem como barreira à penetração dos ventos úmidos de oeste. Situada em vales profundos, protegidos por montanhas, a região caracteriza-se por ter invernos muito frios e verões muito quentes e secos.
A precipitação, distribuída assimetricamente, varia com regularidade ao longo do ano, com valores maiores em dezembro e janeiro e menores em julho ou agosto. Em termos de valores anuais, varia-se entre 1.200 mm (Fontes) e 380 mm (Barca d'Alva), ou seja, a precipitação decresce de Barqueiros até à fronteira espanhola.
A margem norte do rio está sob a influência de ventos secos do sul e margem sul exposta aos ventos do norte, mais frios e úmidos, e a uma menor insolação. A temperatura é mais alta nas exposições a sul. As temperaturas médias anuais variam entre 11,8 e 16,5 ºC.
As castas são majoritariamente autóctones. Entre as tintas destacam-se a Tinta Amarela, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Francesa, Touriga Nacional e Tinto Cão; as castas brancas predominantes são a Malvasia Fina, Viosinho, Donzelinho ,Gouveio.
O rendimento máximo permitido é de 55 hl/ha (cerca de 7.5OOkg/ha). A produtividade média é de cerca de 30 hl/ha (4. 100kg/ha).