Alexis Lichine e seu inigualável ímpeto que levou o Château Prieuré-Lichine, a ser novamente reconhecido no mundo
por Arnaldo Grizzo
Quando Alexis Lichine adquiriu o Château Prieuré-Cantenac em 1951, a propriedade ostentava um vinho Quatrième Cru de Bordeaux, mas estava reduzida a poucas vinhas, bastante decadentes, e nada lembrava sua antiga glória.
Foi seu inigualável ímpeto que levou o Château, rebatizado como Prieuré-Lichine, a ser novamente reconhecido no mundo. O local, antigamente base de um priorado, tornou-se seu santuário, sua casa, onde o “papa dos vinhos” morreria em 1989.
Lichine tinha 76 anos quando faleceu. Nascido em 1913, era filho de um rico banqueiro de São Petersburgo. Sua família fugiu da Rússia durante a revolução de 1917, indo primeiro para a América e depois para a França.
Depois de trabalhar em vendas de publicidade para a edição francesa do New York Herald Tribune em Paris e também em Argel, ele seguiu para os Estados Unidos quando a Lei Seca estava chegando ao fim. Trabalhando como gerente de vendas de um comerciante de vinhos, ele percebeu o potencial do mercado americano para os vinhos franceses e se tornou representante de muitos produtores.
Ele foi um dos incentivadores da “onda varietal”, ou seja, convenceu alguns produtores californianos a nomear seus vinhos por suas variedades de uva para facilitar a compreensão dos consumidores. Durante a II Guerra, ele trabalhou na inteligência militar e se tornou o ajudante de campo do então general e futuro presidente Eisenhower na Itália e no sul de França. Pouco depois desse período, ele comprou o Chateau Prieuré-Cantenac.
O local era um antigo mosteiro beneditino com origens em 1444, então conhecido como Priorado de Cantenac, ligado aos monges da abadia de Vertheuil.
Seus vinhos passaram a ser reconhecidos na época do Papa Clemente V, no século XIII. Foi quando os vinhedos floresceram.
Em 1745, a Intendência de Bordeaux (Administração Real) classificava os vinhos do Prieuré na categoria de troisième cru das freguesias de Margaux e Cantenac. Contudo, na classificação de 1855, feita a pedido de Napoleão III, quando o Château estava nas mãos do négociant Durand Delains, ele foi apontado como um Quatrième Cru. Um século depois, tendo de enfrentar o oídio, o míldio e a filoxera juntamente com a Grande Depressão, poucas vinhas sobraram na propriedade. Foi quando Alexis Lichine interveio.
O “papa dos vinhos” passou a adquirir terras para aumentar a propriedade, então com apenas 11 hectares, assim como investir para melhorar o vinho. Em 1953, com a ajuda do conde de Lur-Saluces do Château d’Yquem, Lichine rebatizou o Prieuré para Château Prieuré-Lichine e, no ano seguinte, as vinícolas da vizinhança de Cantenac tiveram o direito de usar o nome de Margaux no rótulo.
Ele comprou terras dos vizinhos Palmer, Ferrière, Kirwan, Giscours, Issan, Boyd-Cantenac, Durfort-Vivens e Brane-Cantenac e também chamou os enólogos Emile Peynaud e Patrick Léon para serem seus consultores. Após longo período com a família Lichine, o Château Prieuré-Lichine foi adquirido pelo grupo Ballande e hoje tem cerca de 77 hectares.
Amplos estudos de solo permitiram que a equipe técnica melhorasse a combinação entre o porta-enxerto e a variedade da uva, que tem proporção maior de Cabernet Sauvignon, depois Merlot e Petit Verdot. Em 2013, as instalações técnicas foram totalmente reformadas e uma nova sala de cubas foi inaugurada.
A área de recepção da colheita foi modernizada para incluir fluxo por gravidade com 34 novas cubas, 20 das quais em forma de tulipa. Desenhada por Sylvain Lagarde, da agência Archi Concept, a nova adega permite uma melhor seleção das variedades do terroir e mais precisão no blend. Em 2009, o enólogo Etienne Charrier assumiu a vinificação em conjunto com o consultor Stéphane Derenoncourt.
O primeiro vinho do Château Prieuré-Lichine costuma ter de 65 a 70% Cabernet Sauvignon, de 25 a 30% Merlot, e 5% Petit Verdot. Há ainda um segundo vinho denominado Confidences de Prieuré-Lichine. Também se faz o Le Clocher du Prieuré, na denominação Haut-Médoc, um 100% Merlot. Por fim, há o Blanc du Château Prieuré-Lichine, uma produção limitada com blend de 70% Sauvignon Blanc e 30% Sémillon.