Pesquisa com o genoma de 204 variedades, sugere ainda que as uvas viníferas são descendentes das uvas de mesa
por Silvia Mascella Rosa
Vista do Cáucuso a partir de um vinhedo do Azerbaijão
A controvérsia está presente sempre que o assunto é a origem das uvas viníferas.
A fitogeografia já provou que as uvas selvagens tiveram origem nas montanhas do Cáucaso, na Ásia Ocidental, em regiões próximas do mar Cáspio, conhecidas como o Levante Fértil. O cultivo das videiras, já na região do mar Mediterrêno (fato que pressupõe sua “domesticação”, pois teriam sido levadas de um local de cultivo para outro) tem mais de 4 mil anos, e é através dele que as uvas se misturaram, se modificaram e deram origem à novas variedades que tomaram a Europa.
No entanto, a classificação botânica das uvas, sejam elas selvagens ou cultivadas, é um assunto tremendamente complicado, debatido por cientistas de todo o mundo, por causa de fatos como classificações de uvas selvagens que existiam há 500 ou 600 anos e simplesmente sumiram da natureza e que podem ter dado origem a outras variedades que conhecemos hoje. Dessa forma, parece quase impossível provar a origem das uvas viníferas. "Quase".
Um novo estudo, publicado na plataforma Nature.com, conduzido pela pesquisadora Gabriele Magris (do Instituto de Genômica Aplicada da Universidade de Udine, na Itália) com um time de pesquisadores do Departamento de Agricultura, Alimentos e Meio Ambiente da universidade italiana, mapeou o genoma de 204 variedades de uvas Vitis vinifera e chegou a diversas conclusões.
Uma delas afirma que os processos que levaram até o desenvolvimento das uvas viníferas europeias foram determinados pela domesticação e transformação das uvas de mesa vindas da Ásia: "Está claro que todas as cepas cultivadas derivam de um único evento de domesticação, que aconteceu no Cáucaso, atual Georgia e Armênia, mesmo que algumas teorias afirmem que houve um outro evento de domesticação já na Europa. Desse único evento na Ásia foram produzidas em primeiro lugar as uvas de mesa, das combinações entre elas se obtiveram as uvas viníferas que posteriormente foram trazidas para a Europa, onde se recombinaram novamente", afirma a pesquisadora Dra. Gabriele Magris.
O estudo também revela que a diversidade genômica entre as uvas selvagens e as cultivadas é similar, provando que a domesticação das uvas não teve grande impacto na transformação do germoplasma. Por outro lado, o mesmo estudo demonstra algo que os enólogos e agrônomos já argumentam há séculos: que o padrão de variação genética das uvas é sim associado a variação geográfica e climática, ou seja, o terroir é capaz de modificar geneticamente uma cepa de uva.
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