Vinho Madeira

Como o vinho Madeira conquistou reis, escritores e revolucionários

Histórias curiosas e citações literárias reforçaram a aura e o requinte do vinho madeira

por Carolina Almeida

vinho madeira
A Ilha da Madeira é responsável por fazer uma das bebidas mais marcantes do mundo do vinho

Desde que foi descoberta, em 1419, a ilha da Madeira produz um vinho homônimo, conhecido por seu aroma complexo, que foi apreciado por personalidades históricas como Napoleão Bonaparte, William Shakespeare e Winston Churchill.

Pouco tempo depois de descoberta, o Infante Dom Henrique tratou de enviar navios com mudas da uva Malvasia trazidas da Grécia para consolidar a conquista da ilha, produzindo com elas vinhos doces e fortificados. Mas foi apenas dois séculos após o início da colonização que o vinho começou a ser exportado para a Europa. Os ingleses passaram, assim, a conhecer a Madeira como a “ilha do vinho”.

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Nas camadas mais altas da sociedade norte-americana, durante o século XVIII, o vinho era disputado pelas famílias mais importantes de Boston, Charleston, Nova York e Filadélfia, que competiam entre si para adquirir os melhores Madeira. Ele esteve, até mesmo, à mesa durante o brinde de independência dos Estados Unidos da América, no dia 4 de julho de 1776, provavelmente por influência de Thomas Jefferson, profundo conhecedor deste vinho.

taça de vinho madeira
Um episódio envolvendo o vinho Madeira foi retratado por William Shakespeare

Shakespeare

Um caso curioso envolvendo o vinho Madeira ocorreu em 1478 e foi retratado por William Shakespeare em sua peça Ricardo III, baseada na vida do rei inglês. Nela, George de York, Duque de Clarence e irmão de Eduardo IV de Inglaterra, é condenado à morte após uma tentativa frustrada de assassinar o rei e escolhe ser afogado dentro de um tonel de vinho Malvasia da Madeira:

“Dá-lhe na cabeça um golpe com o punho da espada e depois o colocamos num barril de Malvasia que há no quarto ao lado”. Clarence acorda sonhando e pede um copo da bebida, ao que o futuro assassino responde: “Terá bastante vinho, logo mais, Senhor!”.

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Outra passagem memorável do vinho ocorre em mais uma peça de Shakespeare, rei Henrique IV, na qual o personagem John Falstaff, amigo do futuro Henrique V, é acusado de vender sua alma ao diabo por uma perna de frango e um cálice de vinho da Madeira: “Que acordo fizeste tu com o diabo, que lhe vendeste a alma na passada Sexta-Feira Santa por um cálice de madeira e uma coxa fria de capão?”

Rasputin
Rasputin sobreviveu a tentativa de envenenamento com vinho Madeira

Na Rússia

Nas obras literárias russas, em citações de Fiódor Dostoievski ou de Léon Tolstói, o vinho Madeira aparece nos ambientes mais requintados. Reza a lenda que Grigori Rasputin, polêmico personagem da história da Rússia pré-revolucionária, teria sofrido um atentado pelo príncipe Félix Yussupov que envenenou o vinho Madeira que ele consumia. Como Rasputin continuou vivo – sua úlcera crônica o fez expelir todo o veneno –, coube a seu inimigo disparar onze tiros contra o monge, que mesmo assim não morreu.

Enfim, quem conhece o lado glorioso da história do Madeira jamais irá imaginar que, antes do sucesso e graças à sutileza de seus aromas, o vinho era utilizado não para degustação e apreciação, mas para perfumar os lenços das damas da corte da Rússia.

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Molho madeira?

O Vinho Madeira ostentou grande fama até meados do século passado, quando, vendido a granel, passou a ser visto como um produto de baixa qualidade. Por ser excelente na culinária, ele passou a ser diluído e usado em molhos, o que fez com que seu prestígio caísse. Somente nos anos 2000, foi proibida a venda a granel e estipulado que todo o engarrafamento deveria ser feito na ilha para garantir a qualidade do produto, que assim voltou a ser visto como um grande vinho.

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