Christian Burgos, CEO de Adega, avalia a inesperada compra da importadora Cantu pela Wine.com.br
por Christian Burgos
Os mais importantes players do mercado acompanham a situação como jogadores de xadrez
A possível abertura de capital da Wine.com.br no ano passado previa recursos para expansão através de aquisições. Os mais importantes players do mercado acompanhavam a situação e, como jogadores de xadrez, já previam quais poderiam ser seus movimentos frente às opções e reconfigurações do tabuleiro.
A decisão de não realizar a tal abertura de capital gerou um anti-climax e colocou alguns movimentos em fogo brando.
Posteriormente veio a informação de que a Wine.com.br iria mesmo captar R$ 120 milhões através do lançamento de debêntures e o jogo recomeçou.
A noiva na porta da igreja parecia ser a importadora Grand Cru, dado o desejo do fundo Acqua de vender suas cotas para sair do negócio – que poderia ocorrer também em uma fusão, de acordo com outras importadoras que foram abordadas pela direção da Grand Cru.
A compra da Grand Cru pela Wine.com.br já havia sido inclusive aventada no passado.
Ficou claro que as empresas “.com” que só atuam na internet precisam expandir sua presença multicanal e reforçar seu portfólio premium para continuar crescendo em ritmo acelerado no longo prazo.
Nos bastidores do mercado, ouvimos que tanto Wine como Evino mantinham conversas com alguns players e no mês passado a especulação sobre a Wine conversando com Cantu e Casa Flora pareciam apenas mais uma exploração de opções.
Tanto Cantu como Casa Flora, até recentemente, se mantiveram tímidas na venda direta ao consumidor por e-commerce.
Eu esperava que Wine estivesse namorando para sair às compras depois de receber novo funding. Mas eles e Cantu foram mais ágeis e pegaram o mercado de surpresa neste domingo, em furo dado pela jornalista Suzana Barelli.
O mercado ainda está digerindo o fato, mas algumas informações já estão circulando oficialmente e especulativamente.
A Cantu Importadora, eleita pela revista ADEGA e Ideal Consultoria como importadora revelação de 2020, foi comprada pela Wine por R$ 180 milhões. Peterson Cantu, presidente da Cantu Importadora, passa a integrar o conselho da Wine e as operações caminharão com estruturas independentes, pelo menos por enquanto.
Os ganhos de sinergia são grandes e as zonas de conflito pequenas. A capacidade de distribuição B2B da Cantu sempre foi admirada por nós. Assim como o seu portfólio, que conta com Ventisquero, Susana Balbo, entre outros, e está crescendo com outros players de peso como a espanhola Torres.
Estes vinhos agora encontram uma plataforma de venda direta ao consumidor invejável na Wine e os clientes Wine passam a contar com um portfólio mais robusto, para encontrar marcas que estão presentes em outros canais.
A Cantu entrava timidamente nas vendas diretas ao consumidor para evitar o conflito com seus canais tradicionais. Agora, um dos desafios será como administrar isso e continuar crescendo neste segmento.
Pode ser, no entanto, que isto seja um “non issue” visto que Antônio Carvalhal Neto, da Casa Flora, já havia me dito que o fato de impulsionarem seus ícones no e-commerce estava fazendo com que o mercado desejasse também ter estes vinhos em seus pontos.
Comentava hoje pela manhã com um grande produtor, que o casamento Wine/Cantu cria um importante player com capacidade sólida de distribuição on line + off line, B2B + B2C, aumentando muito o poder de atração de produtores de prestígio, inclusive entre marcas consolidadas no Brasil que estejam numa DR com seus importadores atuais.
Todos os importadores estão avaliando os efeitos desta mudança no tabuleiro e acredito que as três principais perguntas são:
• Como reagirá a Evino?
• Isto acelera/aumenta os investimentos dos players atuais? Quem tem condições de acompanhar a corrida?
• Há outras fusões a caminho?
• A Wine está apenas começando a comprar?
Para finalizar, vale lembrar que, se somarmos os mais de 1,5 milhões de caixas importadas em 2020 por Wine+Cantu, de acordo com os dados da Ideal Consultoria, a união assumiria o 2º lugar entres os grandes players do mercado de vinho, atrás da VCT, a maior importadora do Brasil, atualmente.
O Grupo Pão de Açúcar cairia para a 3ª posição.
Mais um lado positivo da fusão é que agora existe um multiplicador para ser aplicado no valuation das empresas do setor.
Nós, em ADEGA, vamos acompanhar este movimento e continuaremos trazendo para você as análises e informações deste fascinante momento do vinho no Brasil.
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