Que tal conhecer o Douro de barco? “Cruzeiros” pelo rio são cada vez mais procurados e empresas oferecem passeios customizados
por Arnaldo Grizzo
Acordar de manhã em sua suíte, abrir a escotilha para espiar o clima, ir até o deck para apreciar as águas plácidas que serpenteiam as montanhas recortadas pelos socalcos das antigas videiras. O timoneiro pergunta a hora de zarpar. Antes de ir para o próximo destino, um lauto café da manhã em uma quinta logo ao lado. Um banho de piscina com sua estonteante borda infinita. Tudo pronto para um dia subindo ou descendo o rio Douro de barco.
Nos últimos anos, uma das modalidades de turismo que mais cresce no Douro é a dos passeios de barco. Não é de se estranhar, pois, há séculos, os portugueses vivem acima e abaixo pelo rio transportando os preciosos Vinhos do Porto em seus clássicos barcos rabelos do interior do país até o litoral, em Vila Nova de Gaia – cidade em frente ao Porto –, onde se instalaram as caves dos principais produtores.
Essa modalidade de transporte de produtos e escoamento da produção caiu em desuso quando a malha ferroviária se expandiu até a região de Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior (já na fronteira com a Espanha). Hoje, a tradição dos rabelos é mantida por algumas casas de Vinho do Porto, mas apenas como atração turística, já que eles não fazem mais as grandes, e muitas vezes perigosas, viagens de antigamente.
No entanto, quem chega à cidade do Porto e desce aos cais da Ribeira ou de Vila Nova de Gaia logo percebe que a navegação fluvial no Douro está muito viva. Dos anos 1960 até 1990, um projeto de barragens hidroelétricas em Portugal fez com que o rio fosse “domado”, facilitando a navegação e a transposição pelas cinco eclusas. O ano de 1990, por sinal, marcou a inauguração da via navegável do Douro em toda a sua extensão (cerca de 210 quilômetros) com uma viagem turística até Barca d’Alva – localidade fronteiriça com a Espanha.
O órgão de administração de portos do Douro aponta que há cerca de 52 embarcações turísticas operando no rio atualmente, com capacidades que variam de 10 a 350 passageiros. Em seu site, ele lista 32 empresas credenciadas que fazem passeios de todos os tipos, desde rotas curtas ou trajetos circulares, com viagens de ida e volta do Porto até Barca d’Alva em apenas um dia, até programas de uma semana de duração ou então personalizados ao gosto do cliente.
ADEGA então separou algumas sugestões para quem quer apreciar as maravilhas do Douro subindo ou descendo por suas águas.
Bate e volta
Os passeios mais comuns para quem vai fazer uma passagem rápida pela cidade do Porto são os roteiros circulares que margeiam o rio perto da cidade e de Vila Nova de Gaia passando pelas pontes, também conhecido como “Cruzeiro das Pontes”. Ele é muito similar aos passeios de bateaux-mouche pelo rio Sena, em Paris. Ou seja, por um valor fixo por dia (cerca de 12 euros, geralmente), você pode embarcar e desembarcar em pontos específicos quantas vezes quiser, usando o barco como meio de transporte para se locomover de um ponto turístico ao outro das margens do Douro. E o passeio se chama “Cruzeiro das Pontes”, pois veleja sob as seis pontes que ligam o Porto a Vila Nova de Gaia. O trajeto todo dura cerca de uma hora. Diversas empresas oferecem esse serviço, como a Douro Azul e a Tomaz do Douro, por exemplo.
Com esse serviço, um bom programa para quem estiver no Porto é ir até o movimentando cais da Ribeira (de onde muitos desses barcos zarpam). Lá estão diversos bares e restaurantes. Uma boa dica é o Chez Lapin, com quase 80 anos de história e especialidades que vão do polvo ao coelho, e o Wine Quay Bar, excelente para “tapas e vinho”. Ali perto também fica o Palácio da Bolsa, com sua arquitetura deslumbrante e interior ricamente ornado.
Outra das paradas dos barcos costuma ser no cais de Gaia, logo na outra margem do rio, onde se tem acesso a diversas caves de Vinho do Porto. Uma ótima pedida é fazer uma visita à Graham’s, com seu museu, e depois almoçar em seu restaurante Vinum, com uma vista privilegiada do Douro. Na mesma margem, não muito longe está o hotel vínico The Yeatman, uma ótima alternativa para bebericar em seu bar no fim de tarde, isso sem contar ser uma opção de hospedagem luxuosíssima e imprescindível para todo enófilo.
Mas, além desses trajetos curtos de barco entre Porto e Vila Nova de Gaia, também há roteiros um pouco mais longos, que duram um dia todo e podem ir até Barca d’Alva e voltar. Ou, então, a localidades não tão distantes como Régua e Pinhão. Esses passeios costumam começar muito cedo, antes das 7h da manhã, e terminar quase meia-noite. Muitos deles, aliás, não são feitos 100% de barco, mas apenas um braço da jornada (subida ou descida do rio) e o outro é realizado de trem, ou comboio, como os portugueses o chamam. Esses tours têm paradas programadas ao longo do Douro e custam de 20 a 150 euros por pessoa dependendo da distância e do tipo de serviço oferecido – refeições podem ou não estar inclusas. Aqui, vale mencionar um dado importante: esses roteiros costumam ser realizados somente entre a primavera e outono, pois, no inverno, as barragens do Douro ficam fechadas.
Os trajetos do Porto até Régua ou até Pinhão são mais “lights” em termos do horário que se retorna ao Porto (no meio da tarde ou no começo da noite). Assim, você pode aproveitar a noite para um jantar em algum dos excelentes restaurantes da cidade como “O Paparico”, por exemplo, que reconstrói os pratos tradicionais portugueses com um toque moderno, mas sem ser pedante e contando com um serviço primoroso, especialmente no que tange o vinho. Para quem prefere algo mais ao estilo “balada” de fim de noite, vale a pena dar uma volta pela região dos Clérigos, especialmente na rua Cândido dos Reis e arredores, repleta de bares e gente jovem.
No leito do Douro
No entanto, para aproveitar mesmo as maravilhas do Douro e não somente do Porto, o ideal é dedicar três dias ou mais para um verdadeiro cruzeiro fluvial regado a paisagens estonteantes, ótima gastronomia e, obviamente, vinhos excelentes. As empresas oferecem roteiros pré-estabelecidos que variam de 400 a mais de 2 mil euros dependendo da quantidade de dias e tipo de programas oferecidos. Paradas em Régua e Pinhão costumam fazer parte desses cruzeiros.
Para quem tem a oportunidade de sair do roteiro oficial oferecido pelas empresas e criar seus próprios passeios, em Régua, pode almoçar no excelente Gato Preto, e depois fazer uma visita à Quinta do Vallado – vale lembrar que a vinícola possui hospedagem de primeiro nível em apenas 13 quartos. Perto de Régua, a Quinta da Pacheca também tem ótimo restaurante e aconchegante hospedagem. Na cidade ainda está o Museu do Douro, com um simpático winebar.
Subindo um pouco mais o rio, chega-se a Folgosa. Lá definitivamente é preciso fazer uma parada (talvez um cruzeiro comercial não faça), pois é necessário provar as iguarias preparadas pelo chef Rui Paula em seu célebre restaurante DOC. Um pouco mais adiante outra parada providencial seria na Quinta do Crasto. Aliás, seria uma ótima opção de pernoite também. Lugar encantador, aposentos aconchegantes, comida de primeira e vista contagiante. A piscina de borda infinita é uma atração. Você certamente vai querer ficar por lá um tempo. Mas, lembre-se, faça reservas.
Navegando um pouco mais, chega-se a Pinhão. Lá encontramos o maravilhoso Vintage House Hotel, com seu serviço primoroso e vista magnífica. Seu restaurante, o Rabelo, é uma ótima opção para um almoço. Logo ao lado está a Quinta do Bomfim, do grupo Dow’s, que pertence à família Symington, uma ótima visita. O cais da cidade é também o ponto de partida dos elegantes iates vintage da empresa Pipadouro, que oferece passeios exclusivos e customizados por todo o Douro pelo período de tempo que o cliente desejar, disponibilizando timoneiro e camareira, possibilidade de fazer refeições a bordo etc. Entre seus passeios clássicos, há um de 4 horas de duração (para até 12 pessoas) com opção de almoço com menu do chef Rui Paula. Trajetos mais curtos de 2 horas podem ser feitos à noite com jantar à luz de velas no deck. Outra empresa que dispõe de iates particulares é a Douro Azul.
Para quem vai ainda mais longe no rio, vale a pena visitar a histórica Quinta do Vale Meão, já em Vila Nova de Foz Côa. E, ali perto, quem sabe se hospedar no exclusivíssimo Casa do Rio, empreendimento da Quinta do Vallado com apenas seis quartos em um edifício “suspenso” feito todo em madeira. Ele conta ainda com linda piscina de borda infinita e cais privativo. Enfim, navegando, você pode vivenciar grandes experiências pelo Douro.