Em Mendoza, vive-se uma verdadeira febre por Cabernet Franc, a cepa da moda. Mas ela terá tanto sucesso quanto Malbec?
por Por Patricio Tapia
Desde que a Argentina invadiu o mercado com seus graciosos e suculentos Malbec, paralelamente tentaram encontrar um par, tanto tinto quanto branco. Falou-se da Cabernet Sauvignon, por exemplo, mas, com minha experiência, essa variedade ainda não consegue se equiparar em qualidade e, sobretudo, em confiabilidade e consistência com a Malbec.
Também se falou da Bonarda, como uma espécie de irmã mais nova. Se no Piemonte a Nebbiolo está acompanhada da refrescante Barbera, por que na Argentina não podem coexistir felizmente a Malbec junto com a suave e vibrante Bonarda? E se existem Bonardas como esses – tintos bebidos com a facilidade de um suco de amoras –, o problema é que eles não são abundantes, pois trata-se de uma cepa de pouca acidez, de aromas herbáceos bem marcados. É difícil encontrar um ponto exato para que se converta nesse suco refrescante e não em uma compota intragável.
No momento, a parceira mais certa da Malbec é a Torrontés. O problema aqui, no entanto, é que, independentemente do grande avanço que teve essa cepa branca (nunca houve tantos bons exemplares no mercado), a Torrontés é dessas uvas que ou se ama, ou se odeia; não há meio termo com ela.
Recentemente, surgiu outra alternativa ou, se preferem, outra candidata para acompanhar ou talvez superar a Malbec. Trata-se da Cabernet Franc, a nova grande casta da moda hoje na Argentina.
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Os amantes da Cabernet Franc saberão que essa variedade, ao menos na França, pode adotar identidades contraditórias – desde os frescos e ligeiros exemplares do Loire, até os muito mais corpulentos expoentes de Saint-Émilion, em Bordeaux. Essa dicotomia, que pode dividir os fãs do Cabernet Franc no mundo, na Argentina, em geral – e em Mendoza especificamente –, ainda não existe.
Os melhores exemplares da cepa vêm da altitude do Vale do Uco
O estilo dos Cabernet Franc mendocinos segue a linha de Saint-Émilion, com vinhos mais redondos, concentrados e maduros
Agora, os melhores exemplares da cepa – salvo mínimas exceções – vêm da altitude do Vale do Uco. Os nomes mais citados são Aleanna, comandada por Alejandro Vigil, ou as excelentes tentativas de Alejandro Sejanovich, em Zaha. “Como a Malbec é doce e carece de notas herbáceas, encontrar aromas assim na Cabernet Franc foi magnífico”, disse Vigil, enólogo da Bodega Catena Zapata. A primeira vez que ele vinificou a casta foi para a linha Angélica Zapata, na colheita 2001. “Mas, nessa época, o que buscava era força e maturação. Porém, ainda assim, sobretudo nos vinhedos de Gualtallary, no Uco, a Franc me dava frescor”, acrescenta.
Todavia, por mais frescor que esses vinhos tenham (frescos para os padrões de Mendoza), se colocam-se ao lado de um Chinon ou de um Saumur-Champigny, a verdade é que ainda não alcançam esse nível de crocância e clareza. Alguns dirão que o solo ou o clima de Mendoza não permite esse tipo de vinhos, mas o mesmo foi dito sobre a Malbec, e os novos exemplares da cepa – verdadeiros “vins de soif” (vinhos de sede) argentinos – comprovam que não é assim. Logo falaremos deles.
É assim no momento, o estilo dos Cabernet Franc mendocinos segue a linha de Saint-Émilion, com vinhos mais redondos, concentrados e maduros, deixando um pouco dessas notas herbáceas que são tão próprias da variedade.
Mas claro que tão apressado quanto dizer que a Franc é a nova Malbec também é apressado dizer que só é uma moda que passará e pronto. Ao menos os exemplares que provei denotavam um início interessante. A experiência acumulada com a Malbec lhes permitiu partir de um ponto mais alto com essa cepa francesa.
Já chegará o dia em que não seja preciso comparar o Franc argentino com nada mais do que apenas si mesmo, o dia em que terá personalidade própria e mais de um foco, mais de um estilo que é o que hoje tem ocorrido com o Malbec. Paciência, então. Falta muito, mas isso não impede que vocês comecem a provar os novos Cabernet Franc argentinos. Estão muito bons.
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