Os vinhedos que margeiam o rio Loire representam a terceira maior região vinícola francesa e somam cerca de 10% da produção do país.
por Arnaldo Grizzo
Conheça nesse guia rápido algumas curiosidades sobre essa incrível região e veja no final uma lista com os melhores vinhos do Loire recém-degustados pela Revista ADEGA.
Os vinhedos que margeiam o rio Loire, com 51.100 hectares, representam a terceira maior região vinícola francesa, congregando 51 denominações de origem e seis indicações de procedência, com vinhos que somam cerca de 10% da produção do país.
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De Nantes até Nevers, pontos bem extremos do que é considerada a região vitivinícola do Vale do Loire, são cerca de 400 quilômetros de distância. Borgonha, Bordeaux, Rhône e Champagne certamente recebem mais destaque do que essa bela região de castelos históricos, que foram usados por diversos reis franceses como residência de verão ou então acomodaram suas esposas e amantes.
Diante de tanto território e tantas denominações, nem sempre é fácil “se localizar”. Nomes como Muscadet, Savennières, Anjou, Quarts de Chaume, Coulée de Serrant, Vouvray, Sancerre, Pouilly-Fumé, entre outros, são relativamente conhecidos, mas, muitas vezes, há quem se confunda com o tipo de vinhos que essas regiões produzem.
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Para alguns, o Loire é sinônimo de vinhos brancos, que, é bem verdade, representam cerca de 40% da produção local. Mas, para outros, seus tintos, (cerca de 20%) não podem ser ignorados, assim como os rosés (25%) e espumantes.
Os vinhos do Vale do Loire provêm de uma variedade de castas, de Chenin Blanc a Cabernet Franc, passando por Sauvignon Blanc e Melon de Bourgogne, compreendendo 24 cepas ao total na região.
O vale é geralmente dividido em quatro partes para uma melhor compreensão e também por suas características climáticas e territoriais. A primeira, mais ao oeste, é Nantais, depois vem Anjou-Saumur, seguida por Touraine, e, por fim, Centre-Loire.
O clima é oceânico na região de Nantes e em Anjou; uma influência continental aparece de Saumur a Touraine, com os fluxos oceânicos sendo gradualmente interrompidos pelo relevo.
De Touraine ao Centre-Loire, o clima muda para se tornar semi-continental com uma influência oceânica cada vez mais limitada. O rio Loire e os seus afluentes desempenham um papel importante ao favorecer a existência de uma multiplicidade de microclimas.
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Na região de Nantes, a influência oceânica atenua as variações sazonais: os outonos e invernos são amenos, os verões quentes, muitas vezes úmidos. Anjou é caracterizado por um clima oceânico: invernos amenos, verões quentes com sol e baixas diferenças de temperatura. Em Saumur, as colinas abrandam os ventos de oeste, o clima torna-se semi-oceânico e as variações sazonais são mais acentuadas. Este é também o caso de Touraine, situada no cruzamento de influências oceânicas e continentais. Por fim, os vinhedos do Centre-Loire experimentam um clima continental com fortes variações de temperatura.
Em geral, estas regiões caracterizam-se também por uma variedade muito grande de microclimas, com diferenças de altitude e orientação das encostas e uma influência mais ou menos acentuada do vento.
Já os solos de Nantais são formados por rochas ígneas e metamórficas do Maciço Armoricain, principalmente gnaisses, micaxistos, greenstone e granito. Em Anjou, o subsolo é principalmente ardósia, arenito e xistos carboníferos, bem como rocha vulcânica, todos originários do Maciço Armoricain. Entre Angers e Saumur vemos a transição entre o leito rochoso mais antigo a oeste e a bacia sedimentar a leste. Em Saumur e Touraine, o subsolo é composto por tufo calcário, areia e argila siliciosa da Bacia de Paris.
Os terraços que margeiam os rios Loire e Vienne são compostos de areia e seixos, arredondados pela ação da água e depositados aqui ao longo dos anos.
A região de Nantes possui sete denominações e tem 12.600 hectares de vinhedos. A principal variedade de uva aqui é a Melon de Bourgogne.
Entre as denominações de maior destaque está Muscadet, cujo nome apareceu pela primeira vez em 1635, e a Melon de Bourgogne, variedade de uva originária da região, surgiu no século XVI.
Os vinhos Muscadet são os únicos no mundo produzidos a partir desta casta. Na denominação Muscadet-Sèvre-et-Maine estão os produtores mais famosos, ao redor de Vallet, La Haye-Fouassière e Le Landreau.
A denominação se estende por 20 comunas a sudeste de Nantes e leva o nome de dois rios que atravessam os vinhedos: o Sèvre Nantaise e o Maine. Ali há sete crus reconhecidos e outros dois em fase de validação.
A região de Anjou e Saumur contém 19 denominações e tem 21.400 hectares de vinhedos. As principais castas são Cabernet Franc (para os tintos) e Chenin Blanc (para os brancos). Entre as denominações mais conhecidas está obviamente Anjou.
Quando Henrique Plantageneta se tornou rei da Inglaterra em 1154, os vinhos de Cabernet Franc de Anjou foram servidos na corte durante seu reinado. Já Saumur é mais reconhecida pelos rosés, e Saumur-Champy, pelos tintos, também de Franc. Savennières com seus brancos de Chenin é outro destaque.
Há ainda dois locais bastante famosos, o primeiro é Coulée de Serrant e depois o Grand Cru de Quarts de Chaume (branco doce), que ganharam renome especialmente nas mãos de Nicolas Joly, um dos maiores defensores da cultura biodinâmica.
O nome Quarts de Chaume deriva de uma tradição que remonta à Idade Média, quando os agricultores eram obrigados a pagar um quarto de suas colheitas ao senhor feudal, mantendo os três quartos restantes para si mesmos.
Há ainda a denominação Coteaux du Layon com seus seis villages que também brilham por seus brancos doces à base de Chenin.
Ao redor da região de Touraine estão 17 denominações. A área compreende 16.300 hectares de vinhedos. As principais castas são Chenin e Sauvignon Blanc (para os brancos), Côt, Gamay e Cabernet Franc (para os tintos).
Talvez a denominação mais falada seja Vouvray. Seus vinhos são produzidos a partir da casta Chenin Blanc e podem ser vinificados como espumantes ou tranquilos, secos, demi-sec ou doces.
O desenvolvimento da cultura vinha na região é atribuído a Saint-Martin, que estabeleceu a famosa abadia de Marmoutier. Chinon e Bourgueil também estão entre os vinhos mais famosos de Touraine, sendo elaborados a partir de Cabernet Franc, e geralmente muito equilibrados. Já o próprio Touraine é feito principalmente de Gamay e Sauvignon Blanc, assim como o Valençay.
Os vinhedos Centre-Loire ficam ao redor do vale do Cher e nas encostas com vista para o Loire. Com cerca de 5.900 hectares, a principal cepa cultivada é a Sauvignon Blanc. São nove denominações, entre elas Sancerre e Pouilly-Fumé, as mais conhecidas.
As duas variedades de uva que reinam nas 14 comunas de Sancerre são Sauvignon Blanc e Pinot Noir, mas o destaque fica para os brancos. Já nas sete comunas de Pouilly dominam Sauvignon Blanc, chamada localmente de Blanc-Fumé, e Chasselas, permitida para a produção da DOC Pouilly sur Loire.
Algumas variedades de uva destacam-se em determinadas regiões. Melon de Bourgogne, por exemplo, é importante nos vinhedos de Nantes. Chenin Blanc, Cabernet Franc e Gamay em Anjou, Saumur e Touraine. Sauvignon Blanc e Pinot Noir em Touraine e Centre-Loire.
As três principais variedades brancas são Melon de Bourgogne, Chenin Blanc e Sauvignon Blanc. Mas outras castas como Folle Blanche, Chardonnay, Chasselas, Romorantin, Sauvignon Gris, Tressalier etc., também possuem penetração.
Já as principais tintas são Cabernet Franc, Gamay e Pinot Noir, com Grolleau, Cabernet Sauvignon, Pineau d'Aunis, Côt, Négrette etc. completando o leque de variedades.
Conheça na lista abaixo os melhores vinhos do Vale do Loire degustados recentemente pela Revista ADEGA: