Variedades como a Oeillade, Terret e Ribeyrenc estão sendo reintroduzidas por produtores
por Silvia Mascella Rosa
Um produtor de vinhos do extremo sul do Brasil costumava dizer: "quem não é visto, não é lembrado". E isso aconteceu com muitas uvas ao redor do mundo, que já foram muito cultivadas e acabaram sumindo dos parreirais. Afinal, são aproximadamente 10 mil variedades de uvas ao redor do mundo. E quantas você consegue lembrar o nome de cabeça?
Mas os viticultores do sul da França, especialmente da Ocitânia, estão recuperando muitas variedades esquecidas com alguns objetivos: a reconexão com as tradições regionais, a sustentabilidade e a possibilidade de oferecer produtos diferentes para os novos consumidores.
Thierry Navarre, viticultor de Roquebrun, cultiva nos seus 12 hectares variedades como a Oeillade, Terret e Ribeyrenc: "Existiam algumas plantas na propriedade quando eu era mais jovem e minha avó me pedia para colher pois ela gostava da pele fina dessas uvas. Quando eu assumi a fazenda, comecei a multiplicar as variedades e replantar em três encostas de xisto e agora estou vendo como se comportam na vinificação", contou ele numa mesa redonda do evento "Dégustez V.O", um simpósio dedicado às uvas, no sul da França semana passada.
A Ribeyrenc noir (também conhecida como Aspiran ou Rivairenc) já representou quase um terço das plantações do Languedoc, mas praticamente sumiu por dois fatores, a praga da Phyloxera e por condições climáticas extremas na década de 1950. Recuperada e bem adaptada ao clima mediterrâneo, produz vinhos frutados e de baixo teor alcoólico (ao gosto dos novos consumidores)
O sudoeste da França é a região com a maior biodiversidade vitícola do país. Existem plantações da uva Négrette em Fronton, Malbec em Cahors, Fer-Servadou em Marcillac, Duras e Prunelard em Gaillac, entre outras, mas segundo o engenheiro agrônomo Olivier Yobregat, gerente de material vegetal do IFV (Instituto Francês do Vinho) o próprio sul da França ainda tem 32 castas de uvas autóctones cujo plantio é permitido pela legislação regional. Dessas, 25 são cultivadas em pouquíssimos hectares e podem ser mais exploradas.
Para vários vinhateiros, o desafio agora é introduzir novas variedades, mesmo que nem todas sejam tipicamente francesas, e reintroduzir as variedades antigas que já eram das regiões. Em caso de sucesso, o próximo passo é pedir para que os órgãos governamentais aceitem essas uvas nas diferentes denominações. "Quando são bons, os vinhos das uvas ancestrais (varietais ou não) se vendem sozinho porque têm história para contar", afirma Gregory Langevin, vendedor de vinhos parisiense, especializado em uvas antigas.
Cerca de apenas 20 variedades de uvas ocupam 90% das áreas vitícolas da França, sendo que as seis mais cultivadas são a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Grenache, Merlot, Syrah e Pinot Noir.