Enólogo produziu o vinho vencedor da famosa degustação e faleceu em 2024
por Arnaldo Grizzo
Stag’s Leap Vineyards era nada mais do que cerca de 18 hectares de um pomar de ameixas secas quando Warren Winiarski e alguns investidores resolveram comprar essas terras e transformá-las em vinhedos em 1970.
Somente três anos depois, um novo terreno serviu de sede para a vinícola de Stag’s Leap Wine Cellars e, assim, para a produção dos primeiros vinhos. Foram essas primeiras garrafas de Cabernet Sauvignon, aliás, que se tornariam mundialmente famosas em 1976 ao vencerem o “Julgamento de Paris”.
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Foi assim que o nome de Winiarski, falecido aos 95 anos no dia 7 de junho de 2024, passou à história. Nascido em uma comunidade polonesa em Chicago em 1928, Warren nunca esteve ligado ao vinho, apesar de seu sobrenome estar associado à palavra “enólogo” em polonês.
Seus pais tinham uma empresa de fardamentos e produziam “vinhos” sem uva para consumo próprio. Na juventude, ele frequentou o St. John's College, em Annapolis, Maryland, para estudar clássicos ocidentais como Nicolau Maquiavel. Lá conheceu a esposa, Barbara, uma pintora. Formou-se em 1952.
Voltou a Chicago para lecionar artes liberais na universidade. Nesse meio-tempo, foi à Itália para estudar para seu doutorado e lá passou a se interessar avidamente por vinho. Em 1962, recebeu o título de Mestre em Artes pela Divisão de Ciências Sociais da Universidade de Chicago, mas sua mente já estava na vitivinicultura.
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Diz-se que, após a visita de um amigo que trouxe uma garrafa de vinho californiano, Warren abriu definitivamente seu leque e passou a cogitar mudar de vida e partir para o Napa Valley. Dois anos depois, ele e a esposa partiram.
Ao chegar lá, em 1964, Warren deparou-se com Lee Stewart, que o aceitou como seu único aprendiz na Souverain Cellars. Era uma operação de apenas dois homens, então foi um período intenso de trabalho e aprendizado. No ano seguinte, ele e Barbara compraram um pequeno terreno na montanha Howell, onde plantaram vinhas de Cabernet Sauvignon, embora essa variedade nunca houvesse sido plantada em tal altitude. Mais tarde, Howell Mountain ganharia notoriedade pelos seus Cabernet Sauvignon.
Em 1966, o filho de Robert Mondavi, Michael, estava a serviço da reserva militar. Então Winiarski foi selecionado para ser enólogo assistente na nova vinícola Robert Mondavi. Foi uma nova visita que mudaria outra vez a história de Warren.
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De passagem pela casa de Nathan Fay na área de Stag’s Leap, em Napa, para discutir uma técnica de irrigação que Fay havia desenvolvido, eles provaram o Cabernet Sauvignon caseiro de Fay. Isso o teria convencido de que a área de Stag’s Leap era o local onde os vinhos de “estilo clássico” poderiam ser produzidos.
Assim, em 1970, junto com vários investidores, eles compraram o famoso pomar de ameixas secas, não muito longe do vinhedo de Nathan Fay, e o replantaram com Cabernet Sauvignon e Merlot. Nasceu assim Stag’s Leap Vineyard, hoje conhecido como S.L.V. Em 1973, Stag’s Leap Wine Cellars surgiu formalmente. Apenas três anos depois, os primeiros Cabernet Sauvignon de Winiarski foram selecionados por Steven Spurrier para participar de uma degustação que ficaria conhecida como “Julgamento de Paris”.
Seu Cabernet 1973 ficou em primeiro lugar em uma prova que contava com clássicos franceses como Château Mouton-Rothschild, Haut-Brion, Montrose e Léoville-Las Cases, diante de um júri repleto de personalidades do vinho da França. Esse evento abriu os olhos do mundo para os vinhos californianos e colocou Warren entre os personagens principais da revolução vitivinícola norte-americana.
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Winiarski assumiu papel líder da indústria vinícola de Napa Valley. Ele foi um dos primeiros proponentes da Napa Agricultural Preserve em 1968 – a criação de uma Reserva Agrícola para proteger o vale da expansão urbana que estava eliminando rapidamente as terras agrícolas na maioria dos outros condados do norte da Califórnia – e ajudou a definir os requisitos de rotulagem para vinhos que levam a designação Napa Valley AVA.
Ele vendeu a Stag’s Leap Wine Cellars em 2007 para uma parceria da Ste. Michelle Wine Estates e Piero Antinori da Toscana por US$ 185 milhões. Da propriedade, Winiarski manteve Arcadia Vineyard, inicialmente adquirido em 1996 e localizado em Coombsville AVA. Ele continuou a produzir seus próprios Cabernet Sauvignon, Chardonnay e Merlot até sua morte. Ele ia completar sua 60ª colheita no Napa.
Ele e a esposa Barbara, falecida em 2021, criaram a Winiarski Family Foundation, que financiou generosamente a preservação da história do vinho em toda a América, bem como apoiou muitas causas locais no Napa. Os Winiarskis foram os principais apoiadores e doadores do Smithsonian Museum, da Universidade da Califórnia, Davis, do St. John's College, do Providence Queen of the (Napa) Valley Medical Center e muitas outras instituições e organizações sem fins lucrativos.