Dois nomes de uma mesma uva, será mesmo? Entenda as diferenças e semelhanças entre elas
por Eduardo Milan
Antes de mais nada, será que há um erro gramatical no título deste artigo? Afinal, Primitivo e Zinfandel são “a uva” ou “as uvas”? Geneticamente, as duas cepas são bastante semelhantes. É bastante lógico que a similaridade genética acabe por se traduzir em similaridade de aromas e sabores. De fato, os traços em comum existentes entre os vinhos elaborados a partir de uma e de outra foram notados pelo professor da Universidade da Califórnia/Davis, Austin Goheen – obviamente familiarizado com a Zinfandel – durante uma viagem à Puglia em 1967, quando provou tintos de Primitivo. Esse foi o pontapé inicial de estudos que, através de análises ampelográficas e de DNA, acabaram constatando e declarando que, realmente, Primitivo e Zinfandel são clones distintos de uma mesma variedade, a croata Crljenak Kastelanski.
A Zinfandel é reconhecida mundialmente como “a” uva da Califórnia, onde é largamente cultivada, seja para a elaboração de varietais ou blends. Teria chegado aos Estados Unidos ainda sem nome, em 1829, pelas mãos de George Gibbs. Na região de Boston, passou a ser chamada de zenfendel ou zinfindal. Já em 1949, com a “Corrida do Ouro”, a uva chegou à Califórnia, passando a ser cultivada em Napa e em Sonoma.
A Primitivo é cultivada principalmente na região da Puglia, no sul da Itália, normalmente relacionada ao famoso “Primitivo di Manduria”. Acredita-se que a Crljenak tenha sido trazida da Croácia para a Puglia pelo mar Adriático no século XIII. Já na Itália, a cepa foi batizada de primativo, do latim primativus, que significa “a primeira a amadurecer”. De fato, as videiras dessa variedade florescem mais cedo, com os frutos amadurecendo antes de outras cepas.
Trajetórias distintas, vinhos similares
Os tintos de Zinfandel, em geral, são ricos e encorpados. Isso porque essa uva tende a amadurecer de forma irregular, desigual, e, dessa forma, quando a maturação chega para todo o cacho, alguns bagos fatalmente já começaram a desidratar, tomando a aparência de passas. Essa concentração determina sabores intensos de frutas vermelhas e negras, além de elevado teor alcoólico. Da mesma forma, os vinhos produzidos com Primitivo, via de regra, têm como traço característico a estrutura, o alto teor alcoólico e os toques de ameixas e de especiarias. Ambos apresentando taninos macios, acidez moderada e, geralmente, tendendo para um sabor mais frutado, que gera uma sensação de doçura mais pronunciada. Talvez isso explique o porquê do sucesso da cepa por aqui.