Vinhos do Deserto

Projeto chileno busca resgatar cepas que sobrevivam à aridez do Atacama

As temperaturas no deserto do Atacama, a região mais seca do mundo, chegam a variar entre 25 graus negativos a noite e 50 graus positivos à sombra

por Silvia Mascella Rosa

Projeto chileno busca resgatar cepas que sobrevivam à aridez do Atacama

Região fica 1800 km ao norte da capital Santiago

O projeto "Vino del Desierto" (Vinho do Deserto) foi apresentado no começo deste ano em Santiago para enólogos, cientistas e jornalistas, pela Universidade Arturo Prat, que mantêm, desde 2004, uma Estação Experimental com o cultivo de uvas, rota turística e degustação perto da cidade de Iquique, no Pampa del Tamarugal, região de Tarapacá, a 1800 km ao norte da capital Santiago.

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As temperaturas no deserto do Atacama, a região mais seca do mundo, chegam a variar entre 25 graus negativos a noite e 50 graus positivos à sombra.

É natural se perguntar como videiras podem sobreviver e produzir frutos nessa região. No entanto, é preciso lembrar que esse deserto tem 105 mil km quadrados de extensão e se estende do sul do Peru ao norte do Chile, entre o Oceano Pacífico e a Cordilheira dos Andes. E as videiras vivem e produzem frutos em algumas zonas desérticas pela proximidade do mar e das montanhas, que refrescam partes da região.

Os registros mais antigos de videiras nas localidades de Pica e Mantilla, pequenas cidades da região, são do século 16 e têm a marca dos imigrantes espanhóis e alemães que ocuparam a área. Durante anos a uva Quebranta, utilizada na produção do Pisco, ocupou as terras e nesses mesmo locais, até meados do século 20 se produzia um vinho doce fortificado, conhecido como Oporto.

Projeto chileno busca resgatar cepas que sobrevivam à aridez do Atacama

Estação Experimental tem cultivo de uvas, rota turística e degustação de vinhos da região

Mas foi no começo do século 21 que foi feito o resgate de material vegetal da Primeira Região (antiga divisão de zonas do Chile) de plantas com mais de 100 anos, esquecidas no tempo e que resistiram às condições extremas do deserto. Com o começo da Estação Experimental de Canchones, em 2004, o jardim de variedades possibilitou a pesquisa de algumas uvas, que tiveram seu material genético enviado para laboratórios para identificação das cepas e também pequenas colheitas para vinificação artesanal.

Duas variedades foram identificadas em laboratórios europeus, a País, introduzida no Chile em 1548 e a Gros Colman, com origem na Georgia. Mas uma das uvas do deserto, a única variedade branca, foi comparada com mais de 7 mil outros genomas e não encontrou semelhança com nenhum deles, assim essa uva se tornou a primeira uva vinífera 100% chilena, registrada em 2016 com o nome de Tamarugal, vinda do deserto mais árido do mundo. Dois anos depois, o vinho branco feito com essa cepa tão inusitada, ganha uma medalha de ouro num importante concurso chileno com degustação às cegas e mais 640 amostras na competição, e repete o feito em 2020.

É possível visitar a Estação Experimental, conhecer a região e degustar os vinhos, com tours aos finais de semana que saem da cidade de Iquique. Mas eles mesmos avisam: é bom levar chapéu, protetor solar e água.

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