As novas tarifas dos EUA podem afetar o vinho europeu com aumentos de até 200%. Entenda os riscos para França, Itália e o comércio global.
por Edmundo Ubiratan
O anúncio das tarifas dos Estados Unidos está previsto para as 17 horas (horário de Brasília), pelo presidente Donald Trump. A expectativa é que o chamado Dia da Libertação (Liberation Day) afete praticamente todos os setores, com impactos significativos na indústria do vinho.
Atualmente, as tarifas americanas sobre o vinho europeu são de aproximadamente 10 centavos de euro por litro. Existe a possibilidade de um aumento expressivo, especialmente se forem aplicados impostos de até 200%.
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Ainda assim, analistas de política internacional avaliam que haverá uma taxa linear para todos os produtos e países, variando entre 10% e 25%, com uma média de 20% sendo a mais provável para a maioria dos setores.
Apesar de distante dos 200% mencionados por Trump, esse aumento causará impactos relevantes nas relações comerciais globais, gerando preocupação especial na União Europeia.
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O comércio entre Europa e Estados Unidos movimentou, em 2023, mais de US$ 1,74 trilhão, representando 30% do comércio mundial. O setor agroalimentar é um dos pilares da economia europeia, sendo fundamental para as exportações. Dentro dele, a indústria de vinhos é uma das mais importantes e teme ser duramente afetada pelas novas políticas comerciais.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tem adotado um tom firme nas respostas ao governo Trump. Ela afirmou: “A Europa não começou esse conflito, mas está pronta para responder com força. Estamos entrando nas negociações com uma posição de força; a Europa tem muitas cartas na mão.”
Entre as medidas em estudo está a taxação de setores estratégicos dos Estados Unidos, especialmente os de alta tecnologia. Como retaliação, a União Europeia pode aplicar a Lei do Mercado Digital, atingindo diretamente as Big Techs, além de impor uma sobretaxa ao bourbon americano.
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No entanto, diversos parlamentares europeus demonstram preocupação quanto à forma de retaliação, avaliando se essa é realmente a resposta mais estratégica.
Segundo o ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, as tarifas não favorecem nenhum dos lados e a Europa deve buscar uma solução que proteja as empresas italianas: “Não devemos abaixar a cabeça, mas também não devemos ser antiamericanos”, afirmou Tajani.
A Itália, maior exportadora europeia de vinhos para os Estados Unidos, teme que o setor seja um dos mais prejudicados pelas medidas da Casa Branca — e, potencialmente, por uma eventual resposta europeia. Os Estados Unidos são o maior mercado para os vinhos italianos, representando mais de 1,9 bilhão de euros, de um total de 8 bilhões em exportações da Itália.
A França tem feito avaliações semelhantes. Autoridades francesas consideram que incluir bebidas alcoólicas americanas na lista de possíveis sobretaxas pode ter sido um erro. Recentemente, o primeiro-ministro francês, François Bayrou, declarou que a decisão da União Europeia de taxar o bourbon do Kentucky foi baseada em uma “lista antiga” e pode ter agravado as tensões comerciais com os Estados Unidos.
“Houve algum erro? Provavelmente sim, porque o bourbon do Kentucky foi incluído como se fosse uma ameaça comercial, com base em uma lista antiga, sem a devida revisão. Isso ocorreu no âmbito da Comissão Europeia”, disse Bayrou à rádio France Inter.
Em março, o presidente da Federação Francesa de Exportadores de Vinhos e Bebidas Alcoólicas, Gabriel Picard, destacou que os Estados Unidos são o principal destino do vinho francês, representando 4 bilhões de euros e gerando ao menos 600 mil empregos diretos e indiretos. Ainda assim, ele considera que retaliar com foco em bebidas alcoólicas pode ser um erro tático.
“Os produtores de vinho nos Estados Unidos estão nos estados democratas, especialmente na Califórnia. Já o estado produtor de whisky é Kentucky, reduto do senador McConnell, adversário de Trump dentro do Partido Republicano. Atacar o whisky ou os vinhos norte-americanos hoje é um grande erro tático”, declarou Picard à RFI.
A maioria dos produtores europeus pressiona a União Europeia a adotar medidas alternativas, evitando que uma retaliação paralise ou inviabilize as exportações para os EUA. Mesmo que poucos acreditem na aplicação de uma tarifa de 200%, um imposto nesse patamar triplicaria o preço de uma garrafa de vinho.
“Com 200% de tarifas alfandegárias, os negócios param”, alertou Nicolas Ozanam, diretor da Federação Francesa de Exportadores de Vinhos e Bebidas Alcoólicas.
A França é o segundo maior exportador de vinhos para os Estados Unidos, com 3,9 bilhões de euros em vendas no último ano, o que representa um quarto das exportações do país.
Embora os produtores mantenham cautela diante das novas políticas americanas, o governo francês tem se mostrado disposto ao embate. “Não podemos nos deixar vencer por ameaças desse tipo”, reforçou Bayrou.
Uma nova taxação americana colocaria ainda mais pressão sobre a indústria de bebidas, que já sofre com a sobretaxa imposta pela China, a qual reduziu em cerca de 25% as vendas de conhaque e armagnac naquele país.
Por ora, os produtores europeus aguardam o anúncio oficial das tarifas e dos setores que serão sobretaxados pela Casa Branca.
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