Consumo moderado de vinho inibe a ocorrência de doenças cardiovasculares e é a chave da saúde em países onde a bebida é mais popular
por Fabiana Pires
Paradoxo Francês mostrou a importância do vinho na dieta
Em 1991, um estudo publicado no British Medical Journal mostrou ao mundo que os franceses eram menos propensos a apresentar problemas cardiocirculatórios do que outras nações de mesmo nível sócio-econômico-cultural. Sedentários e fumantes inveterados, os franceses nunca foram modelos de saúde e, por isso, a pesquisa intrigou a muitos e foi batizada de Paradoxo Francês.
Parecia mentira, mas o tal paradoxo (uma verdade que contradiz a intuição comum), que foi constatado por dois cientistas franceses da Universidade de Bordeaux - Serge Renaud e Michel de Lorgeril -, comprovou que, apesar de alguns costumes maléficos em suas rotinas, outros fatores ligados à alimentação protegiam a população do país europeu contra problemas cardiovasculares. E um dos elementos encontrados como preventivo ao desenvolvimento das doenças do coração foi o consumo regular e moderado de vinho.
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Uma das substâncias presentes nos vinhos, que combatem o envelhecimento, são os flavonóides. Encontrados nos pigmentos que dão cor à casca da uva, os flavonóides são benéficos devido às suas propriedades antioxidantes. Isso significa que eles protegem as células da ação de radicais livres, que são os causadores de doenças que aparecem com o envelhecimento. Os flavonóides atuam na estabilidade da parede de vasos sanguíneos, diminuindo o acúmulo de placas de gordura - da mesma maneira que outro grupo de substâncias químicas, os chamados polifenóis, também encontrados na bebida de Baco.
Os problemas cardiocirculatórios constituem os tipos mais comuns de doenças cardíacas. Cerca de 60% das mortes são causadas por esse mal. Logo, é possível entender por que os franceses vivem tanto. A expectativa de vida no país chega a 81 anos, segundo dados da CIA (Agência de Inteligência Central, dos Estados Unidos), de 2007. Números que superam os constatados em outros países desenvolvidos como Estados Unidos (78), Reino Unido (79) e Alemanha (79).
Antes de Lorgeril e Renaud concluírem suas pesquisas sobre o Paradoxo Francês, a tese mais consistente sobre os benefícios do vinho era o "Estudo dos 18 países", que havia sido publicado na revista "The Lancet", em 1979. Neste estudo, realizado pelo Dr. Selwyn St. Leger, em parceria com outros cientistas, os especialistas puderam constatar, que nos lugares em que o consumo per capita de vinho era maior, a mortalidade por doenças cardiocirculatórias era menor.
Pesquisas mostram que o consumo moderado de vinho ajuda a diminuir os riscos de doenças cardíacas
Os franceses têm, por tradição, o costume de acompanhar todas as refeições com vinho. Estima- se que, na época da pesquisa, a média anual de consumo no país era de 100 garrafas por pessoa. Atualmente, em relação aos Estados Unidos, por exemplo, o consumo de vinhos dos franceses é mais de quatro vezes maior. Eles bebem em média 50,5 litros por ano, ao passo que os norte-americanos apresentam números bem mais tímidos, com cerca de 8 litros consumidos por cada habitante, de acordo com dados fornecidos pela OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho).
Mais adiante, essa fórmula de "dieta ideal" (que é composta de outros fatores além do vinho, como ingestão predominante de gordura vegetal, carne de peixe, azeite, pouco açúcar etc) foi chamada de dieta do Mediterrâneo, atualmente rotulada como uma das mais indicadas para uma vida longeva.
A repercussão do estudo dos especialistas da Universidade de Bordeaux foi tamanha que tão logo a pesquisa se tornou conhecida ao redor do planeta, outros trabalhos começaram a surgir sobre o assunto.
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Além de doenças cardiocirculatórias, estudos recentes já provaram que outros dos 200 componentes do vinho podem prevenir ou auxiliar tratamentos de diversos males. O resveratrol, por exemplo, tem a capacidade de neutralizar efeitos tóxicos de proteínas ligadas à doença de Alzheimer. Essa mesma substância também tem propriedades anti-inflamatórias e anticancerígenas capazes de diminuir a incidência de tumores e, até mesmo, de inibir o aparecimento de alguns tipos de câncer, como os de próstata e de esôfago.