Pioneira na enologia espanhola e referência mundial, a enóloga Maria Isabel Mijares faleceu no último sábado à noite
por Silvia Mascella
O mundo do vinho tem personagens que são referência histórica, conhecida por todos, como o monge Dom Perignon ou outro Don, desta vez o Melchor, chileno criador de uma das mais emblemáticas vinícolas latinoamericanas. Entre esses personagens, no modernidade do vinho, está uma mulher, a enóloga Maria Isabel Mijares Garcia-Pelayo, que faleceu em Madrid (Espanha) no último sábado à noite.
O pioneirismo e o trabalho incansável, além do sorriso fácil e olhar esperto, foram apenas algumas das marcas que a espanhola, nascida em Mérida em 1942 estabeleceu em sua longa trajetória no mundo do vinho.
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Maria Isabel estudou química em 1959 e prosseguiu os estudos no Instituto de Enologia da Universidade de Bordeaux. Já formada foi colaboradora de pesquisa do nome mais importante da enologia moderna, Émile Peynaud, cujos livros são referência obrigatória em todas as faculdades. Maria Isabel fez seu doutorado também em Bordeaux, orientada pelo próprio Peynaud. A partir desse momento a trajetória da enóloga também seria de liderança e desafios.
De volta à Espanha, foi a primeira mulher a dirigir uma vinícola, em Villafranca del Bierzo e também a primeira a presidir um Conselho Regulador, o de Valdepeñas (entre 1982 e 1987) e a primeira expert em viticultura na Real Academia Espanhola de Gastronomia. Ela era proprietária de um laboratório de análises enológicas e criou a equipe TEAM, que produz um guia de vinhos espanhóis.
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Em todos esses lugares Maria Isabel foi se dando conta de que ser mulher no mundo do vinho tinha outros desafios além dos naturais de qualquer trabalho técnico e de gestão. Ela também percebeu que a linguagem com a qual os experts em vinho se dirigiam aos consumidores era falha, pomposa e não agregadora. A partir dessas percepções, ela orientou seu trabalho e suas ações em favor de um igualitarismo no mundo do vinho, derrubando sempre que podia o conceito de 'vinho para mulher'. Ele foi uma das fundadoras da associação franco-espanhola 'Femmes Avenir" (Futuro das Mulheres) onde era membro do conselho de administração.
Felizmente, todo o trabalho de Maria Isabel foi reconhecido em vida, com uma coleção de prêmios ganhos na Espanha e no mundo, e uma legião de admiradores de ambos os sexos e de mulheres agradecidas pelo caminho que ela abriu para todas em suas aulas, degustações e nos vários livros que escreveu. No documentário espanhol "Oído? Ellas, la voz de la gastronomia", de Sara Cucala, ela afirma: " A videira é como uma mulher. Nasce, floresce, chora quando é podada, dá frutos e fica satisfeita por eles. É enormemente sofrida e se adapta ao meio ambiente. Pois a mulher é isso no mundo, na sociedade e no papel que escolheu exercer".
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