por Redação
Se falamos em ânforas, pensamos no leste europeu, em vinhos laranjas e um ambiente exótico com recipientes enterrados no chão. Entretanto, foi no Alentejo que participamos do “encontro mundial dos vinhos de ânfora”. A região aposta nesta redescoberta de suas origens, e da vinificação em talhas de barro, iniciada no Alentejo pelos romanos há mais de dois mil anos.
Em novembro de 2019, fomos convidados por Pedro Ribeiro e Catarina Vieira da Herdade do Rocim para ir à Vidigueira, em Portugal, e participar do Amphora Day 2019. Uma celebração com música e gastronomia tradicional, bom vinho, consumidores apaixonados e produtores ainda mais. Todos para celebrar a abertura das talhas da Herdade do Rocim e ter a oportunidade de degustar vinhos elaborados em ânforas por mais de duas dezenas de produtores portugueses e também de outras partes do mundo.
Uma celebração dos vinhos tradicionais do Alentejo
A atmosfera não poderia ser mais interessante e impossível de reproduzir, combinando a modernidade arquitetônica da Herdade do Rocim com a tradição ancestral da produção em ânforas. Aliás, as grandes ânforas parecem mais uma instalação artística do que recipientes e instrumentos de vinificação.
Pedro e Catarina são anfitriões para mais de mil pessoas que participam do evento cujo ponto alto é a abertura das talhas, quando o vinho jorra, é recolhido em decânteresRiedel e servido aos presentes em clima festivo, com muita música e grande amizade.
A sensação de boas vindas é garantida pelos amigos portugueses, pela satisfação de encontrar brasileiros que vão ao país especialmente para a celebração, e finalmente pelas músicas brasileiras entoadas pelos presentes como o “Trem das Onze” cantado com entusiasmo em sotaque da terrinha.
Pedro é um enólogo que se apaixonou pela ânfora e está se tornando um embaixador internacional desses vinhos. Além de unir diversos produtores portugueses nesta celebração, ele acaba de criar uma empresa para distribuir vinhos de ânfora de pequenos produtores e de diversos países em todo o mundo.
Os Vinhos de Talha possuem no Alentejo uma denominação de origem controlada (DOC). O processo em geral passa pela uva ligeiramente macerada que segue para a fermentação nas talhas com uma quantidade significativa de engaços. O processo de fermentação dura pouco mais de uma semana e, nesse período, é usual a remontagem com rodos de madeira duas vezes por dia.
Apesar das características de isolamento térmico natural do barro, é comum que se reguem as talhas com água fria para controlar a temperatura. Depois da fermentação, o vinho segue estagiando nas talhas se beneficiando do contato com as leveduras antes de serem engarrafados.
Embora muitos enólogos elaborem estes vinhos para serem consumidos jovens, o processo oxidativo oferece incrível proteção. Eles merecem a passagem em decanter, mas uma sugestão pessoal é exercitar a paciência e acompanhar a transformação em taça, saboreando por minutos a fio um vinho que consegue trilhar simultaneamente as estradas do prazer e da meditação.
Amphora Day celebra a abertura das talhas da Herdade do Rocim
Há anos degustamos os vinhos elaborados por Pedro e Catarina cuja característica de conjugar qualidade com mínima intervenção sempre nos encantou. Ao fim do dia, os visitantes partem felizes e, após um brinde sob o céu estrelado do Alentejo, jantamos com os produtores em mesas posicionadas entre enormes tanques da Herdade do Rocim.
O Amphora Day nos revelou uma irmandade de produtores de vinhos que unem método ancestral e rigorosa compreensão de agronomia e microbiologia. Ali mesmo convidamos Pedro para conduzir uma degustação exclusiva de vinhos de ânfora no Adega InternationalTasting 2020. Aguardem!
Amphora Branco 2018 - (AD: 91 pts)
Herdade do Rocim, Vidigueira, Alentejo, Portugal (World Wine). O nariz revela o perfil cítrico e a deliciosa oxidação que encanta os amantes de vinhos laranja. A seu favor também pesa a capacidade de combinar isto tudo com finesse e fruta pura (mexerica madura). Tudo isto ressaltado pela acidez marcante e bela estrutura.
Amphora Tinto 2018 - (AD: 93 pts)
Herdade do Rocim, Vidigueira, Alentejo, Portugal (World Wine). Ameixa e amora em boca, com traço marcante de pimenta negra associado ao dulçor da fruta. Os taninos são perfeitos em textura e afinamento. Balsâmico no nariz, no fim de boca explode em terra molhada, ervas e um toque salino.
Terracota Clay Aged Tinto 2017 - (AD: 94 pts)
Herdade do Rocim, Vidigueira, Alentejo, Portugal (World Wine). Este corte tem Alicante Bouschet, Petit Verdot, Trincadeira e Tannat. Estagia 16 meses em talhas de 140 litros. Tem uma profundidade granítica, taninos poderosos e acidez vibrante. Pimenta, amoras e ervas secas. Incrível força em um vinho que vai durar para sempre, apesar de delicioso e instigante hoje. A mais pura definição de um vinho crossfit.
+lidas
1000 Stories, história e vinho se unem na Califórnia
Vinho do Porto: qual é a diferença entre Ruby e Tawny?
Pós-Covid: conheça cinco formas para recuperar seu olfato e paladar enquanto se recupera
Os mais caros e desejados vinhos do mundo!
Notas de Rebeldia: Um brinde ao sonho e à superação no mundo do vinho