Grandes Degustações

Dez safras do mítico Mouton Rothschild!

Provamos dez safras da década de 1980 do ícone Mouton Rothschild, um dos melhores e maiores vinhos do mundo

por Eduardo Milan

Provar vinhos icônicos, cheios de histórias e glamour, já não é das tarefas mais fáceis, mesmo para degustadores tarimbados e experientes. Afinal, a avaliação envolve muito mais do que o líquido na taça. Agora, imagine degustar uma vertical de 10 safras do mítico Mouton Rothschild, um dos melhores e mais celebrados vinhos do mundo. Eis o desafio que encaramos em jantar realizado no restaurante paulistano Fasano, em parceria com a importadora Clarets.

Com a tarefa de analisar o vinho do modo mais imparcial possível, ainda que seja praticamente impossível dissociar a expectativa e a aura envolvidas em degustações dessa grandeza, tentamos ao máximo deixar as emoções de lado.

A afinada equipe do Fasano se mostrou impecável tanto no cuidado com a organização, perfeita, como no serviço, fluido e discreto, demonstrando respeito ao que Mouton Rothschild representa. Os apaixonados presentes foram recepcionados com Champagne Cristal Brut 2007, uma oportunidade de brindar ao que viria pela frente.

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A degustação foi dividida em três flights, mas não em ordem cronológica, porém de intensidade das safras

O sommelier Manoel Beato, um gentleman, foi responsável pela  curadoria e apresentação dos vinhos, cumprindo sua missão de forma clara, segura e sem imposições, de modo que todos se sentissem incluídos e pudessem manifestar suas impressões. O ritmo do serviço – cada flight pôde ser degustado antes da chegada do prato – foi exato. A comida dispensa comentários. Todas as taças permaneceram sobre as mesas até o final do jantar, para que se pudesse apreciar as nuances e a evolução do vinho.

Uma tábua de queijos brasileiros (Alpino, Coração da Terra, Gruy, Azul do Bosque e Extra curado de Ovelha) selecionados pelo próprio sommelier Manoel acompanhou com maestria algumas taças de  Château d’Yquem 1995, fechando a noite em grande estilo.

Interessante ressaltar que nem sempre os vinhos mais bem avaliados – tecnicamente superiores – são os favoritos em uma degustação harmonizada. É o que se pôde constatar durante esse jantar, em que as preferidas foram as safras 1980 e 1985, enquanto outras mais afamadas, como a 1982 e a 1986, mostraram-se ainda jovens apesar das décadas de vida para exprimirem mais claramente todas as suas qualidades com a comida.

A degustação vertical foi dividida em três flights, que não seguiram uma ordem cronológica. A decisão se revelou acertada, pois separou os vinhos por estilo, dos menos para os mais estruturados, assim como os pratos que os acompanharam. Tal divisão possibilitou uma compreensão didática de todas as safras apresentadas, permitindo que fossem analisadas sem maiores interferências entre elas. Na primeira bateria, foram degustados os vinhos 1980, 1981 e 1984 na companhia de tartar de carne com fonduta de parmesão. Já na segunda bateria um tortelli de galinha d’angola com creme de burrata e tomate cereja escoltou os vinhos 1983, 1985, 1987 e 1989. Por fim, um brasato de wagyu ao vinho tinto com creme de batata e cenoura ao forno casou perfeitamente com garrafas de 1982, 1986 e 1989. Difícil não se emocionar!

A VERTICAL

AD 90 pontos

CHÂTEAU MOUTON ROTHSCHILD 1980

Château Mouton Rothschild, Bordeaux, França. Mais do que pronto, já em sua fase descendente, mas bem acessível, agradável e gostoso de beber. Notas terrosas, de couro e de ervas secas apareceram com o tempo, além do estilo mais magro de fruta, que indica uma safra realmente difícil. EM

AD 89 pontos

CHÂTEAU MOUTON ROTHSCHILD 1981

Château Mouton Rothschild, Bordeaux, França. Muito em linha com o 1980, mostra estilo mais magro, de taninos marcantes e de vibrante acidez, mas, apesar de ter fruta e estrutura, elas não acompanham, nem sustentam toda essa força. EM

AD 98 pontos

CHÂTEAU MOUTON ROTHSCHILD 1982

Château Mouton Rothschild, Bordeaux, França. 85% Cabernet Sauvignon, 8% Merlot e 7% Cabernet Franc. Mostra a mesma qualidade e equilíbrio do 1986 em termos de força, concentração e acidez, porém com mais exuberância de fruta e taninos ainda mais finos, tornando-o mais sedutor e cativante, ainda muito jovem apesar dos 34 anos. E ainda com muitas décadas pela frente, assim como o 1986. Álcool 11,5%. EM

AD 93 pontos

CHÂTEAU MOUTON ROTHSCHILD 1983

Château Mouton Rothschild, Bordeaux, França. 75% Cabernet Sauvignon, 15% Merlot, 8% Cabernet Franc e 2% Petit Verdot. Uma safra que vem surpreendendo nos últimos tempos, mas que foi ofuscada no seu lançamento por ter vindo depois da majestosa 1982. Gostoso, carnudo e amável para um Mouton, com extrato e fruta suficientes para suportar seus taninos e sua acidez. No auge. EM

Década de 1980 foi marcante para Bordeaux e teve algumas safras consideradas míticas

AD 91 pontos

CHÂTEAU MOUTON ROTHSCHILD 1984

Château Mouton Rothschild, Bordeaux, França. 78% Cabernet Sauvignon, 12% Merlot e 10% Cabernet Franc. No mesmo estilo do 1980 e 1981, porém mais vivo, mas já mostrando mais estrutura, corpo e fruta para sustentar seus taninos tensos e sua vibrante acidez. EM

AD 95 pontos

CHÂTEAU MOUTON ROTHSCHILD 1985

Château Mouton Rothschild, Bordeaux, França (Clarets - sob encomenda). 75% Cabernet Sauvignon, 12% Merlot, 10% Cabernet Franc e 3% Petit Verdot. Seguramente a maior surpresa do painel. Num estilo muito semelhante ao 1983 em termos de fruta, porém com mais profundidade e equilíbrio. Vivo, vibrante e muito longo. Álcool 12%. EM

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Nem sempre os vinhos melhores avaliados – tecnicamente superiores – são os favoritos numa degustação harmonizada. Esse fato foi comprovado durante o jantar, em que as preferidas foram as safras 1980 e 1985, enquanto outras mais afamadas, como a 1982 e 1986, mostraram-se ainda jovens para exprimirem mais claramente todas as suas qualidades com a comida

AD 97 pontos

CHÂTEAU MOUTON ROTHSCHILD 1986

Château Mouton Rothschild, Bordeaux, França. 80% Cabernet Sauvignon, 10% Merlot, 8% Cabernet Franc e 2% Petit Verdot. Um vinho de 30 anos que parece um bebê. Obrigatório para entender o que significa força e concentração em harmonia com austeridade, verticalidade e finesse. Ainda fechado, mas já mostrando acidez, taninos e fruta em perfeito equilíbrio. Álcool 12,5%. EM

AD 93 pontos

CHÂTEAU MOUTON ROTHSCHILD 1987

Château Mouton Rothschild, Bordeaux, França. 85% Cabernet Sauvignon, 8% Merlot e 7% Cabernet Franc. Mostra-se elegante, discreto, com taninos mais finos e mais verticalidade se comparado ao 1983 e 1985, que mostram estilos semelhantes de fruta e de corpo. Um excelente exemplo de austeridade. Álcool 12%. EM

AD 92 pontos

CHÂTEAU MOUTON ROTHSCHILD 1988

Château Mouton Rothschild, Bordeaux, França. 75% Cabernet Sauvignon, 13% Merlot, 10% Cabernet Franc e 2% Petit Verdot. Provado juntamente com o 1983, 1985, 1987 é o mais denso e exuberante. Parece não ter acidez e tensão para suportar toda essa potência de fruta no decorrer dos próximos anos, e isso só o tempo dirá. EM

AD 94 pontos

CHÂTEAU MOUTON ROTHSCHILD 1989

Château Mouton Rothschild, Bordeaux, França. 78% Cabernet Sauvignon, 14% Cabernet Franc e 8% Merlot. Semelhante em estilo ao 1985, mas com mais força, fruta e estrutura, tudo equilibrado por acidez vibrante e excelente textura de taninos. Ainda jovem, mas provado juntamente com 1982 e 1986 passou a impressão de estar mais pronto que os dois. Álcool 12,5%. EM

OUTROS VINHOS DEGUSTADOS

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AD 96 pontos

LOUIS ROEDERER CRISTAL 2007

Louis Roederer, Champagne, França. Espumante branco brut elaborado a partir de 58% Pinot Noir, 42% Chardonnay, mantido, no mínimo, 60 meses em contato com as borras e com estágio de 15% do vinho base em barris de carvalho. Nariz delicado e intenso, cheio de mineralidade e frescor. Muito elegante, é super cremoso, tem vibrante acidez e muita profundidade. Apesar de ainda jovem, já está exuberante e excelente agora. Cheio de camadas e texturas, impressiona pelo volume de boca e pelo final longo e persistente, com toques salinos e cítricos. Álcool 12%. EM

AD 95 pontos

CHÂTEAU D'YQUEM 1995

Château d’Yquem, Bordeaux, França. Branco doce composto de uvas 80% Sauvignon Blanc e 20% Sémillon atingidas pela podridão nobre, com fermentação e estágio de 42 meses em barricas novas de carvalho francês. Impressiona pela exuberância e complexidade aromática. Mostra cítricos em compota acompanhados de notas florais, de marmelo, de especiarias doces e de cera de abelha, além de toques clássicos de botrytis. Boca rica, untuosa e cremosa, com ótimo equilíbrio entre acidez, doçura e fruta. Tem final longo, cheio e profundo, com toques minerais. Um adolescente começando a mostrar todas as suas virtudes. Álcool 12,5%. EM

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