Como foi criado um dos mais famosos rituais do mundo do vinho, a chegada do Beaujolais Nouveau
por Carolina Almeida
Festa da chegada do Beaujolais Nouveau acontece na mesma data no mundo todo
“ O Beaujolais Nouveau chegou!”. Na França e por todo o mundo, essa é a frase que melhor descreve o mês de novembro. Aproximadamente dois meses depois da colheita francesa, que geralmente começa em setembro, chega ao mercado o primeiro vinho da safra, o Beaujolais Nouveau.
Os bares, restaurantes, cafés e bistrôs de todos os cantos do planeta começam a ferver e todos querem saber a mesma coisa: onde está o Beaujolais Nouveau? É assim que começa um dos maiores rituais do vinho no mundo inteiro. Desde a década de 1980, religiosamente na terceira quinta-feira de novembro, a França se rende aos encantos do Beaujolais Nouveau e monta uma festa monumental que se espalhou por todos os países. De onde vem tudo isso? É uma longa história.
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Por muito tempo, os comerciantes de Beaujolais – uma região menos famosa dentro da Borgonha – tiveram o costume de comercializar prematuramente algum vinho de suas safras para celebrar o fim da colheita, mas a data mínima para a venda costumava ser 15 de dezembro. Foi só em 1951 que os comerciantes puderam colocar seu vinho à disposição um mês antes, em novembro, e aí sim começou a tal festa. O negociante de vinhos Georges Duboeuf, percebendo o potencial do Beaujolais Nouveau – nem tanto por sua qualidade, mas por ser uma boa maneira de criar fluxo de caixa antes de a nova safra estar pronta –, teve a ideia de começar uma espécie de “corrida a Paris” para levar os vinhos Nouveau da nova safra o mais rápido possível.
Assim como qualquer outra ideia mais “estranha” à época, essa pressa em levar os vinhos à Cidade Luz chamou a atenção tanto dos jornalistas quanto dos próprios consumidores, e o tal 15 de novembro ficou famoso e virou um evento nacional. Foi só em 1985, quando a corrida já tinha se alastrado por toda Europa e começava a chegar aos Estados Unidos, que a data foi flexionada para a terceira quinta-feira do mês, para tirar vantagem comercial do fim de semana, e desde então é assim.
No mesmo dia no mundo todo, os bares e restaurantes ficam agitados e as pessoas se reúnem para provar a nova safra do Beaujolais Nouveau. A chegada dele (cerca de 65 milhões de garrafas), tanto na França quanto nos demais países, é tão esperada que o slogan oficial desses vinhos se tornou o “Le Beaujolais Nouveau est arrivé!” (“O Beaujolais Nouveau chegou!”). Em 2005, foi agregado um novo dizer, “É hora de Beaujolais Nouveau!”.
A casta cultivada em Beaujolais para a produção do vinho Nouveau é a Gamay, que geralmente é considerada uma cepa de vinhos rústicos cujo cultivo já chegou a ser proibido em outras regiões no passado. Para fazer esse vinho, o bago todo, com talo e grãos, é fermentado.
O resultado é um vinho leve, fresco, relativamente simples, bastante frutado e agradável ao paladar, com taninos pouco agressivos e aromas que lembram banana, tutti-frutti etc. É o mais próximo que um vinho tinto pode chegar de um branco em termos de frescor, tanto que ele é melhor apreciado em temperatura mais baixa do que a recomendada para os tintos convencionais.
Pode ser considerado um vinho de vida curta. O consumo vai desde o dia em que é lançado, em novembro, até pouco mais de seis meses após a fabricação. E para que esteja sempre em boas condições, sua venda para os comerciantes é proibida a partir de agosto do ano seguinte.
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