Um dos mais célebres líderes militares da história, Júlio César, era extremamente harmonioso com o vinho
por Arnaldo Grizzo

Nas histórias em quadrinhos de Asterix e Obelix, os gauleses nunca perdem uma batalha e nunca são dominados pelas legiões romanas, lideradas pelo general Júlio César. Mas, apesar da notória resistência gaulesa, os livros de história contam um desfecho diferente para as investidas dos romanos: o domínio final de Roma de todo o território da Gália, que compreendia o noroeste da Itália e o sul da França.
Pintado no desenho animado como um "chato", que não gostava das boas coisas da vida, Júlio César era mesmo bastante comedido, especialmente com a bebida. Aliás, naquela época em que poucos povos se organizavam em verdadeiras civilizações, não sendo apenas aglomerados de gente que falava a mesma língua, o estabelecimento de regras rígidas para o exército — o que incluía consumo moderado de vinho — fez a diferença entre os bárbaros e os romanos.
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Tanto que, com apenas 25 mil homens (este é o número que os historiadores citam, mas diz-se que depois o grupo contou com cerca de 50 mil homens), César saiu de Roma e conquistou praticamente todo o restante da Europa, chegando até a Grã-Bretanha em apenas seis anos, logo após subjugar os gauleses comandados por Vercingetórix.
Foi após essa campanha espetacular que o nome de Júlio César ficou gravado como um dos maiores estrategistas militares da história — ele escreveu livros contando suas proezas, que futuramente se tornaram referências e seriam lidos com fervor por líderes como Napoleão. Foi também depois de colocar a Europa sob domínio romano que o general ousou retornar a Roma com seu exército e se livrar de seus inimigos, fato que daria início à ruína da República, que posteriormente se transformaria num Império.
Mesmo comedido, César sabia apreciar belos vinhos, especialmente os do Egito e os néctares da Etiópia — que dizem ter sido apresentados a ele por Cleópatra. Mas o grande general, na verdade, gostava era dos vinhos italianos. Mais do que isso, o que mais lhe interessava era salvaguardar o mercado desses vinhos em todo o império que estava construindo.
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Com as rotas de comércio seguras e com milhares de tribos conquistadas e romanizadas, era possível expandir a circulação de vinhos da Itália, garantindo, mais do que poderio militar, o desenvolvimento econômico necessário para manter Roma. E os gauleses, que até então estavam acostumados à cerveja de trigo ou cevada, começaram a apreciar o vinho.
Um historiador grego, Diodoro da Sicília — que viveu neste primeiro século antes de Cristo — afirma que, contrariamente à tradição grego-latina (que misturava a bebida com água e alguns temperos), os gauleses bebiam o vinho puro, embriagando-se facilmente. Logo o vinho se tornou uma mercadoria extremamente valorizada e os mercadores italianos chegavam a trocar uma jarra de bebida por um escravo.
Porém, não era permitido aos gauleses, ou qualquer outro povo dominado por Roma — as ditas nações transalpinas —, plantarem vinhedos ou mesmo olivais, para que os vinhos e óleos italianos fossem valorizados.
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Em 52 a.C., Júlio César promulgou uma lei agrária e acabou por presentear seus legionários veteranos com terras na Gália que deveriam se tornar vinhedos. Daí surgem os "romanées" na Borgonha.
O general foi instituído como o único regente de Roma por volta de 49 a.C., quando trouxe suas legiões para perto da cidade e iniciou uma guerra civil que culminaria com a morte ou fuga de seus opositores. César colecionou outras tantas vitórias militares e diz-se que, em comemoração às suas conquistas, em 46 a.C., ele deu banquetes públicos na cidade que reuniram cerca de 200 mil pessoas.
Foi através dos espólios de guerra — principalmente distribuindo vinho e pão ao povo quando necessário — que ele conseguiu manter a ordem em uma República em estado anárquico e, mais do que isso, acabou pavimentando o caminho para a ditadura. Porém, Júlio César morreria pouco tempo depois, em 44 a.C.
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