Parker marcou história sendo um dos principais críticos do setor
por Arnaldo Grizzo
Após 41 anos como crítico de vinhos, Robert Parker decidiu se aposentar. Sim, no início do ano, a editora-chefe da Wine Advocate, Lisa Perotti-Brown, anunciou que, aos 71 anos, o mais influente personagem do vinho mundial decidiu se retirar de todas as suas funções como crítico e não exercer mais nenhuma atividade na publicação que foi criada por ele, então um jovem advogado, de apenas 30 anos, de Baltimore, em 1978.
O que representa o afastamento de Parker? Vale lembrar que já faz algum tempo que ele vem se afastando gradualmente de algumas funções na Wine Advocate. Aliás, desde 2012, ele já não era mais o dono da publicação, tendo vendido para investidores asiáticos, e tampouco o editor, cedendo lugar para Lisa Perotti-Brown. E, apesar de a sigla RP ainda ser amplamente usada ao lado das pontuações dadas pela Wine Advocate, a verdade é que, nos últimos anos, Parker mesmo estava a cargo da avaliação de poucos vinhos. Desde 2015, por exemplo, ele já não fazia mais as avaliações en primeur de Bordeaux, que o consagrou no começo de seu trabalho.
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Durante mais de 40 anos de trabalho, Parker foi amado e, também, odiado. Sua aptidão para degustar os bordaleses fez com que ele fosse idolatrado na região, mas, por outro lado, foi “excomungado” na Borgonha, por avaliar “mal” os sutis Pinots. Um de seus trunfos foi a ética e, mesmo com algumas polêmicas envolvendo colaboradores que teriam recebido dinheiro para avaliar vinhos, Parker sempre teve o respeito do mercado por sua retidão. Outra crítica deveu-se ao seu gosto e poder ter criado, involuntariamente, uma padronização de vinhos em alguns locais, o que se convencionou chamar de “Parkerização”.
“Tenho profundo respeito por Robert Parker e sua imensa contribuição para o mundo do vinho com sua integridade e entusiasmo. Ele causou um grande impacto na melhora da qualidade dos vinhos de muitos dos mais importantes países produtores do mundo, influenciando e encorajando consumidores e produtores em sua busca contínua pelos mais altos padrões neste fascinante universo”, afirmou Christopher Cannan, produtor e negociante de vinhos, mas, mais que isso, um amigo de Parker, que acompanhou toda a sua carreira. “Sua aposentadoria deixará um legado duradouro. Tenho certeza de que a nova equipe continuará com o bom trabalho, embora o impacto sobre o comércio do vinho provavelmente seja menos importante. Parker era a pessoa certa no momento certo. Será difícil para qualquer um seguir seus passos”, completou.
“Com a publicação da ‘The Wine Advocate’, em 1978, Parker deu uma visão geral dos vinhos e re - giões, com notas de prova detalhadas, e a chave para o consumidor é que os vinhos foram clas - sificados em uma escala de 100 pontos”, afirma Steven Spurrier, o responsável pelo Julgamento de Paris, em 1976, evento que revolucionou a histó - ria do vinho. “Wine Advocate foi criada por uma única pessoa que, durante a década de 1980 e até sua aposentadoria, tornou-se a mais importante no mundo do vinho. Seu paladar, especialmente para os vinhos de Bordeaux e Rhône, é impecável e sua honestidade sem questionamentos. O que come - çou como um julgamento claro, mas pessoal, que o consumidor poderia seguir em suas compras, tornou-se, após o reconhecimento de Parker da excepcional qualidade da safra de 1982 em Bordeaux, uma série de julgamentos que influencia - ram os produtores de vinho, o que terminou com produtores fazendo vinhos ‘no estilo Parker’. Não era isso que Robert Parker pretendia, e essa tendência, como a do uso excessivo da madeira e o uso do que Jancis Robinson descreveu como ‘garrafas inutilmente pesadas’ não durou muito tempo, com vinhos sendo feitos para ‘impres - sionar’ ao invés de ‘expressar’. No entanto, isso ilustrou o poder e a influência que um único paladar pode ter na indústria mundial do vinho. Ele deixa dois legados: a longa e detalhada nota de degustação que descreve o vinho em todos os seus aspectos agora e para o futuro, e a escala de 100 pontos”, conclui Spurrier.
O principal crítico de vinhos da América do Sul, Patricio Tapia lembra que, além da escala de 100 pontos, Parker “criou os padrões para a profissão de crítico de vinhos”. “Ele sempre foi ético e definiu os códigos éticos da profissão. Sim, houve polêmicas, mas devido a seus colaboradores, não por usa culpa”, aponta o chileno, que também isenta Parker de culpa no que se convencionou chamar de “Parkerização”. “Você pode questionar seu gosto por vinhos mais maduros, mas é o seu gosto. Houve muita crítica sobre isso, mas se os produtores quiseram agradá-lo, o problema não é dele, é dos produtores”, pondera.
Parker se aposentou em um momento em que o mundo já não segue seu paladar de forma tão cega. Sim, as notas da Wine Advocate, assim como de outras publicações e críticos pelo mundo, ainda são importantes para os consumidores e produtores, mas não definidoras. Agora, sem Parker por trás definitivamente, qual será o significado de uma nota RP?
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