O que você precisa saber sobre os vinhos dessa região francesa
por Arnaldo Grizzo
No século XIV, os “Vin du Pape” (vinho do papa) eram servidos no palácio papal em Avignon
No sudeste da França fica a segunda maior região vitivinícola do país, o Vale do Rhône, com mais de 70 mil hectares de vinhedos (perdendo apenas para Bordeaux). Além da imponência em tamanho, as famosas Côtes du Rhône, como a região é genericamente chamada, são o berço de grandes vinhos e histórias que marcaram a vitivinicultura mundial. Para quem quer conhecer um pouco mais sobre esse local imprescindível, aqui vão 10 fatos-chave.
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No século IV a.C., durante a colonização grega, as primeiras vinhas foram cultivadas em Marselha (que, na realidade, fica na região de Provence) e se espalharam pelos arredores. Já na parte norte do vale do Rhône especificamente, a vinicultura se desenvolveu no século I d.C. graças aos romanos. A cidade de Vienne, por exemplo, foi famosa por seus vinhos durante muitos anos, mas, o colapso do Império Romano fez com que a viticultura das regiões mais ao norte sofresse. Apenas os vinhedos próximos aos portos do Mediterrâneo mantiveram-se prósperos.
O vinho do Rhône voltaria a se tornar famoso na Europa no século XIV, após um grande cisma da Igreja Católica. Na época, o arcebispo de Bordeaux, Raymond Bertrand de Got, assumiu como papa com o título de Clemente V (daí o nome do Château Pape Clement). E, sob influência do rei francês, o papado se mudou para Avignon. João XXII, o segundo dos sete papas de Avignon, tinha uma residência de verão construída em Châteauneuf-du-Pape. Na época, a igreja obviamente passou a produzir vinhos no local, que eram denominados “Vin du Pape” (vinho do papa) e servidos no palácio papal em Avignon e a reputação desse vinho logo ganhou fama. Os vinhos de Châteauneuf-du-Pape são conhecidos por poderem levar até 18 castas diferentes em seu blend.
Costuma-se dividir a região vitivinícola do vale do rio Rhône (rio Ródano, em sua tradução para o português) em norte e sul. De Avignon até Vienne, as duas cidades em pontos mais extremos do vale, são cerca de 200 quilômetros de distância. A parte sul é considerada de Avignon até Montélimar, abrangendo denominações como Côtes du Rhône, Châteauneuf-du-Pape, Vacqueyras, Gigondas, Lirac etc. A parte norte conta com Côte-Rôtie, Condrieu, Crozes-Hermitage, Hermitage, Cornas etc. Entre as principais diferenças entre norte e sul, além do clima, está o uso das variedades de uvas. Enquanto no norte os tintos são baseados em Syrah, quase que exclusivamente, no sul, costuma-se usar mais o blend com variedades como Grenache (predominando), Syrah, Mourvèdre, Carignan e Cinsault.
Costumase dividir a região em norte e sul, de Avignon até Montélimar e depois até Vienne
Hoje ouve-se muito falar sobre vinhos GSM no mundo todo. Há GSMs na Austrália, nos Estados Unidos, na Espanha, no Chile etc. E GSM nada mais é do que um blend das variedades Grenache, Syrah e Mourvèdre – as três principais castas tintas do Rhône. A “expansão” dessa mistura típica do Rhône deve-se ao sucesso dessas três cepas em regiões com climas similares ao sudeste francês e também à adaptabilidade, complementaridade e capacidade delas para formarem bons vinhos sob diversas circunstâncias. Vale lembrar que, em geral, não somente os tintos do Rhône, mas os brancos também costumam ser produzidos com blends de diversas castas.
Durante séculos, houve diversas hipóteses sobre o surgimento da variedade Syrah no mundo. Dizia- -se que ela havia chegado ao Rhône através dos cavaleiros cruzados que retornaram do Oriente Médio, por exemplo. Mas havia diversas outras histórias. No entanto, as origens da variedade estão mesmo diretamente ligadas ao norte do vale, mais especificamente na área do rio Isère à leste do Rhône, até o lago de Genebra, entre a França e a Suíça. Um estudo de mostrou que a Syrah é um cruzamento natural entre a Mondeuse Blanche, uma uva branca, e a Dureza, tinta, duas castas típicas dessa localidade.
Um dos vinhos mais celebrados do Rhône é o Hermitage, ou Ermitage. Segundo a lenda, o nome deve-se a Henri Gaspard de Stérimberg, um cavaleiro que voltou para a casa após a Cruzada Albigense no século XIII e teria se tornado um ermitão
Um dos vinhos mais celebrados do Rhône é o Hermitage, ou Ermitage. Segundo a lenda, o nome deve-se a Henri Gaspard de Stérimberg, um cavaleiro que voltou para a casa após a Cruzada Albigense no século XIII e teria se tornado um ermitão. Os vinhos da região tornaram-se conhecidos e, no começo do século XVIII, o historiador André Julien chegou a classificar Hermitage como um dos três principais vinhedos da França, junto com Château Lafite, em Bordeaux, e Romanée-Conti, na Borgonha. Aliás, houve época em que os vinhos de Bordeaux chegaram a ser “hermitagés”, ou seja, misturados com Hermitage (Syrah, basicamente) para ganharem mais cor e estrutura.
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Pode-se dizer que a filoxera foi a grande praga da história da viticultura mundial e quase acabou com os vinhedos de toda a Europa em meados século XIX. Esse inseto que ataca as plantas vitis viníferas, por muito pouco, não dizimou todas as plantações europeias. Diz-se que ele primeiro chegou à França, por volta do ano de 1860, em videiras americanas que vieram de barco à região do Rhône e foram plantadas por colonos norte-americanos. “Tudo começou ali, na nossa frente, em uma cidade chamada Roquemaure”, conta François Perrin, do Château de Beaucastel. Dali, em pouco tempo, ela se alastrou por toda a Europa.
Um dos fatores que torna a climatologia da região do Rhône (assim como do Languedoc e de Provence) singular é a passagem do Mistral. Ele é um vento frio e muitas vezes implacável que sopra dos mares do norte e faz parte da cultura do sul da França. Os ventos Mistral sopram a uma velocidade média de 100 km/h e fazem isso cerca de 150 dias por ano, principalmente do inverno ao início da primavera. Eles podem ser muito destrutivos, mas também são sempre seguidos por céus claros, proporcionando abundante luz do sol para as vinhas, evitando a umidade e, com isso, o surgimento dos fungos, além de temperaturas mais frescas no verão.
Não existe uma listagem específica de vinhedos Grand Cru no Rhône, no entanto, há uma classificação de vinhos desde os mais genéricos até os ditos Crus, um pouco parecido com o que ocorre na Borgonha
Não existe uma listagem específica de vinhedos Grand Cru no Rhône, no entanto, há uma classificação de vinhos desde os mais genéricos até os ditos Crus, um pouco parecido com o que ocorre na Borgonha. Inicialmente começa-se com os vinhos simplesmente chamados de Côtes du Rhône, na base. Depois, há os Côtes du Rhône Villages (mas que não especificam a vila necessariamente no rótulo). Em seguida vêm os Côtes du Rhône Villages que recebem o nome das respectivas vilas. São 21 vilas autorizadas a colocar seus nomes nos rótulos. Por fim há 17 crus, que compreendem nomes como Châteauneuf- -du-Pape, Cornas, Hermitage, Condrieu, Saint- -Josep etc.
Assim como em Bordeaux e na Borgonha, o vale do Rhône tem produtores famosos mundialmente, que produzem vinhos excepcionais. Alguns que merecem atenção são Guigal, Château de Beaucastel, Chapoutier, Vidal Fleury, Jean Loius Chave, Paul Jaboulet Aîné, Delas Freres, Jean-Luc Colombo, Ogier, Alain Graillot, Château Rayas, Château Saint-Cosme, Domaine Jamet, Moulin de la Gardette, Clos des Papes, entre outros.
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