A vinicultura austríaca produz excelentes vinhos brancos de sobremesa
por Euclides Penedo Borges
As regiões vinícolas do centro da Europa - da Suíça à Eslováquia, passando pela Áustria - estão se tornando cada vez mais importantes no panorama europeu do vinho. A introdução de castas internacionais conhecidas ao lado de castas nativas, bem como a recente renovação da tecnologia, tem ajudado. O rigor dos requisitos de qualidade no sentido de evitar fraudes, a atividade de enólogos estrangeiros e os custos de elaboração mais baixos também os auxiliam na competição.
Os países centrais do continente europeu têm tradição vinícola milenar, mas sua importância no mundo do vinho até os anos 1980 era apenas marginal. Com os novos acordos comerciais, a consolidação da Comunidade Européia incentivando a competição e o influxo de conhecimento dos flying winemakers, as coisas mudaram, principalmente ao longo dos anos 1990.
Os desenvolvimentos mais notáveis na Europa Central nos últimos 20 anos tiveram lugar na Áustria. A história do vinho austríaco remonta à época dos celtas, sendo anterior, portanto, ao cristianismo. Sua colocação durante séculos limitouse, porém, ao consumo local.
Grande impulso na indústria vinícola austríaca deu-se durante o Império Austro-Húngaro, por volta de 1860. Esse período deixou um rico legado para os produtores decorrentes da regulamentação do cultivo e da elaboração, assim como das pesquisas realizadas na escola vinícola do mosteiro Klosterneuburg, no Danúbio. Novo intervalo sem repercussões aconteceu depois disso, até o fim da Segunda Guerra Mundial.
Em 1950, um pequeno círculo de vinicultores começou a reformar a indústria vinícola. Sua ação deu resultados positivos, mas viu-se prejudicada em 1985 quando os vinhos doces do país, os mais notáveis por sinal, caíram em descrédito pela descoberta de adição fraudulenta de produtos químicos ao mosto.
Durante quase dez anos, os produtores austríacos enfrentaram dificuldades, mas os mais conscientes não esmoreceram. Os requisitos de qualidade tornaram-se severos e a obediência a eles mais estrita. Na segunda metade da década de 1990, finalmente, eles viram seus esforços e sua persistência compensados quando alguns dos vinhos austríacos passaram a merecer destaque.
Neste início de milênio, os vinhos da Áustria voltaram a receber o reconhecimento internacional. Seus Rieslings secos do Danúbio e seus vinhos brancos de sobremesa contam-se hoje entre os melhores do mundo. Vista de perto, a vinicultura austríaca é, assim, uma história de ressurgimento.
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A viticultura da Áustria concentra-se no leste do país, na fronteira com a Hungria, República Checa, Eslováquia e Eslovênia. Localizada mais ao sul do que as regiões vinícolas alemãs, o clima austríaco permite um leque de tipos de vinhos mais aberto do que no país germânico.
A uva emblemática da Áustria é a branca Grüner Veltliner. Ela ocupa mais áreas de vinhedos terrenos austríacos do que qualquer outra casta, e propicia vinhos secos frescos, discretamente apimentados. Entre as demais brancas destacam-se a Riesling e a Gewürztraminer. Correndo por fora, a Welschriesling, uma casta secundária que resulta em excelentes vinhos de sobremesa.
A líder das tintas nativas desse país continental é a Zweigelt, que lembra o estilo da piemontesa Dolcetto, com seu aroma de mirtilo e amoras. Aparecem também as alemãs Portugieser e Blaufränkisch. Uma novidade austríaca é a uva tinta St. Laurent, que vem ganhando ótima reputação neste início de milênio.
As classes dos vinhos na Áustria, da mais popular para a mais nobre, são Tafelwein (vinho de mesa), Landwein (vinho regional) e Qualitätswein (vinho de qualidade).
Uma classe especial típica é Smaragd, categoria de qualidade mais elevada do Wachau, equivalente na Alemanha a um Spätlese seco.
As jóias da coroa são os vinhos de sobremesa botritizados, particularmente os elaborados nas margens do lago Neusiedler (região do Burgenland), na fronteira com a Hungria, onde a as condições para desenvolvimento da podridão nobre são favoráveis.
As categorias de vinhos doces são as mesmas da Alemanha, inclusive Eiswein, mas existe uma categoria própria (Ausbruch) entre Beerenauslese e Trockenbeerenausles.
Outra peculiaridade é o Vinho de Palha (Strohwein ou Vin de Paille) feito de uvas supermaduras, passificadas sobre esteiras de palha.
A evolução dos vinhos austríacos desde o desmembramento do Império Austro- Húngaro é uma história de ressurgimentos e rompimentos com o passado. Quem quer provar os vinhos mais fascinantes da Áustria atual, em plena fase de ressurgimento, deve procurar os de uvas nativas, acima citadas. As uvas francesas recémimportadas produzem vinhos com menos tipicidade. Não esquecendo que os grandes caldos austríacos, as jóias da coroa, são os brancos de sobremesa, de uvas botritizadas.