Pantelleira tem bons hotéis, bons vinhos e uma uva que foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade!
por Eduardo Milan
Entre o sul da Sicília e o nordeste da Tunísia está a pequena ilha vulcânica de Pantelleria, conhecida como a “pérola negra do Mediterrâneo” justamente por ser composta quase que totalmente de escuras pedras vulcânicas. Ao longo da história, a ilha foi dominada por diversos povos. Seu nome, todavia, provém da expressão árabe “Bent El-Rhia”, cujo significado é “a filha dos ventos”, devido ao vento constante que refresca as temperaturas, especialmente durante o verão.
Até a década de 1980, Pantelleria era um destino quase que exclusivo para italianos, quando foi descoberta pelo jet set da moda. Giorgio Armani é o frequentador mais famoso da ilha, visitada também por nomes como Sting e Madonna. Fotógrafos e designers abastados compraram e transformaram antigas habitações mouras em vilas com piscinas de borda infinita. Atualmente, há uma série de hotéis e resorts de luxo, prontos para receber turistas que buscam um destino exclusivo. Mas, mesmo sem se hospedar na ilha, é possível conhecê-la e aproveitar alguns de seus encantos. Há, por exemplo, um voo que sai diariamente de Trapani pela manhã, que leva apenas 40 minutos; a volta é no final do dia.
A origem vulcânica de Pantelleria pode ser constatada em todos os detalhes, desde as “dammusi” – casas típicas de paredes espessas construídas com pedras de lava vulcânica e tetos arredondados de gesso branco, que servem para coletar as águas das chuvas – até os campos férteis, riquíssimos em substratos e as nascentes de águas termais, que fluem por toda parte. Na verdade, a paisagem da ilha é bastante diversificada: a costa é de um mar de águas cristalinas, formações de riachos e cavernas, encostas íngremes e recortadas, criadas pelo arrefecimento de fluxos de lava que entraram em contato com a água salgada (e por isso vale a pena um tour de barco em volta da ilha); o interior é verde, rico de uma variedade de vegetais, dentre eles, árvores de frutas cítricas, oliveiras, alcaparreiras e videiras de uva Zibbibo (é possível dar a volta de carro ao redor de Pantelleria em cerca de uma hora). Zibbibo, aliás, é o nome pelo qual a Moscato de Alexandria é chamada na ilha.
Exemplo de “dammusi” – casas típicas, de paredes espessas construídas com pedras de lava vulcânica
De fato, embora se encontre vinhos secos feitos a partir da Zibbibo, a ilha é conhecida por seus vinhos doces: Moscato di Pantelleria DOC e Passito di Pantelleria DOC. Ambas as Denominazione di Origene Controllata – DOC datam de 1971. Os Moscatos devem apresentar teor alcoólico mínimo de 8% e açúcar residual de 40g/l. Já os Passitos – cujas uvas passam por processo de secagem sob o sol e o vento de 10 a 12 dias, tornando-se passas, com aromas e açúcar mais concentrados – devem ter, pelo menos, 14% de álcool e 110g/l de açúcar residual. A tendência para os Passitos, na verdade, é terem a fase de secagem das uvas ampliada para até 30 dias, chegando-se a vinhos com pelo menos 140g/l de açúcar residual. São vinhos com grande potencial de envelhecimento.
O nome Pantelleria vem da expressão árabe “Bent El-Rhia”, cujo significado é “a filha dos ventos”
Pantelleria também é conhecida internacionalmente por suas alcaparras e por seus tomates. Nesse sentido, é comum encontrar plantações junto aos vinhedos, tudo sempre protegido por alambrados de cerca de 80 centímetros de altura, já que os coelhos tornaram-se uma espécie de praga na ilha. É costume local secar os tomates e também as alcaparras, que são conservadas em sal. O ideal é visitar o lugar entre junho e setembro, sendo que nesse último mês, muito provavelmente será possível provar uvas Zibbibo frescas todos os dias.
Um dos locais mais procurados da ilha é o Specchio di Venere
Com pouco mais de 84 quilômetros quadrados (só para efeito de comparação, Ilhabela, no litoral de São Paulo, tem quase 350 km2), percorrer Pantelleria é fácil. Apesar do tamanho diminuto, há várias opções de estadia em hotéis de três a quatro estrelas, como o Mursia & Cossyra, o Suvaki ou o Resort Acropoli, por exemplo. Todos com uma arquitetura de estilo rústico mourisco. Se preferir, ainda pode alugar uma dammusi típica só para você e sua família.
Um dos locais mais procurados da ilha é o Specchio di Venere, um lago vulcânico com águas termais sulfurosas. Segundo a lenda, foi lá que Vênus olhou seu reflexo ao comparar sua beleza com a da rival Psyche. Acredita-se que a lama do local tenha propriedades medicinais. O mesmo se diz das águas do porto de Gadir, protegido por rochas vulcânicas, e também de Nikà. Para quem gosta de sauna, pode se aventurar no “bagno asciutto”, perto da Montagna Grande (cume da ilha, de onde é possível ter uma vista completa de todo o entorno), em uma gruta, chamada Benikulà, de onde emanam vapores quentes de cerca de 38oC. Também para quem tem espírito de aventura (pois o trajeto é complicado), vale a pena conhecer o Laghetto delle Ondine, uma pequena baia cercada com águas cristalinas.
Há diversos balneários e termas para conhecer, além de sítios arqueológicos. Circundar a ilha de barco é certamente uma boa pedida. Há passeios que duram o dia todo e custam cerca de 50 euros, incluindo um almoço com spaghetti e paradas em pontos estratégicos. Há ainda opções de passeios com mergulho.
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