Saber o que muda nas diferentes safras de vinho é fundamental para apreciar melhor a bebida
por Redação
O homem não demorou a perceber que, a cada ano, tinha diante de si um vinho (mesmo que minimamente) diferente ainda que as uvas colhidas fossem de um mesmo vinhedo e o processo utilizado na vinificação fosse exatamente igual ao longo do tempo. Para se ter ideia, os egípcios já colocavam data nas ânforas para distinguir os vinhos de cada safra.
A explicação para essas diferenças está basicamente no clima. Sendo uma planta de ciclo anual, a vinha responde a todas as variações climáticas a que é submetida durante os 365 dias do ano e, convenhamos, não existem dois anos exatamente iguais em parte alguma do planeta. Assim, essas diferenças vão se refletir no fruto, seja na qualidade, seja na quantidade, seja na sanidade etc.
E exatamente por isso é que alguns produtores de determinadas regiões (como Champagne e Vinho do Porto, por exemplo), às vezes, optam por não colocar o ano da safra no rótulo. Para eles, o que interessa é o estilo do vinho, portanto, vão combinar vinhos de mais de uma safra na composição, tentando alcançar um equilíbrio de sabor e aroma que seja similar independentemente da safra.
Contudo, o normal, sobretudo em brancos e tintos, é encontrar rótulos safrados. Sim, os anos fazem diferença. Às vezes, muita. Basta ver, por exemplo, os grandes vinhos de Bordeaux. Em uma safra considerada excelente (em que as condições climáticas favoreceram todo o ciclo vegetativo da planta e também uma colheita sem chuvas), alguns podem valer milhares de dólares por garrafa. Em uma safra tida como ruim, os mesmos vinhos podem custar até 10 vezes menos. Essa influência no preço deve-se porque o clima diz muito sobre a qualidade final e o tempo de guarda, por exemplo.
O ano gravado no rótulo dos vinhos equivale à sua safra, ou seja, o ano em que as uvas foram efetivamente colhidas.
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Em muitos países, para que um vinho receba o ano da safra no rótulo, não é necessário que 100% das uvas tenham sido colhidas na data indicada. Nos Estados Unidos, por exemplo, é preciso que, no mínimo, 95% das uvas sejam daquele ano para que o número vá estampado. No Chile, basta 75% para os vinhos vendidos internamente e 85% para os exportados.
Dessa forma, tudo pode influenciar no vinho: uma temporada de seca ou de chuvas, um inverno mais rigoroso ou mais ameno, a intensidade do sol etc. E isso certamente vai fazer com que ele tenha características diferentes de ano a ano – principalmente quando tratamos de “vinhos de terroir”, aqueles que os produtores querem intervir o menos possível para expressar tanto as peculiaridades do solo quanto do clima local. Em vinhos mais massivos, as diferenças tenderão a ser bem mais sutis devido aos ajustes enológicos feitos pelos produtores, mas, ainda assim, serão diferentes.Isso porque as uvas são diretamente afetas pelas condições climáticas e, mais do que isso, cada variedade é afetada de uma forma, pois cada uma “precisa” de algo específico para um melhor resultado. Sendo assim, dificilmente uma cepa de amadurecimento mais precoce como a Tempranillo terá o mesmo comportamento da Tannat, uma casta mais tardia, caso as duas estejam cultivadas numa mesma área – pois elas têm requisitos ligeiramente diferentes para se expressarem de maneira adequada.
Se antigamente algumas safras eram consideradas ruins, hoje, com mais informação e tecnologia, mesmo em safras ditas ruins, bons enólogos são capazes de criar bons vinhos. Diferentes de um ano para outro, mas bons.
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