Dica do Sommelier

Adiu Bastos e suas dicas de harmonizações inusitadas

Sommelier que já trabalhou em restaurantes como Bravin e Tuju fala com ADEGA sobre suas maiores experiências enogastronômicas

por Arnaldo Grizzo

Sommelier Adiu Bastos dá dicas de harmonizações inusitadas

Sommelier Adiu Bastos dá dicas de harmonizações inusitadas

Aos 45 anos, o sommelier Adiu Bastos, que já trabalhou em restaurantes como Bravin e Tuju, acredita que “a combinação de vinhos e pratos não se restringe à harmonização em si, mas abrange também as histórias que cada escolha pode inspirar”.

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É com esse pensamento que o questionamos sobre algumas das harmonizações mais memoráveis de sua carreira. Confira. 

Harmonização que mais lhe marcou?

Um prato de polvo com lardo (gordura curada de porco) e molho de tomates que combinei com um vinho brasileiro de mesa seco, feito com a uva híbrida Isabel, notória base dos famigerados “vinhos de garrafão”. 

Marcou muito porque, além da combinação ficar perfeita, jogando com as diferentes texturas dos ingredientes, a sutil rusticidade do vinho e os aromas típicos da uva de mesa, conseguiu alcançar, para além da harmonização, uma inusitada e singular expressão de outras percepções gustativas, num pareamento muito original. Nesse caso, em particular, fui capaz de evocalembranças emotivas.

Ou seja; além dos sentidos, consegui tocar as instâncias da afetividade, reflexão e memória.

Harmonização menos provável, mas que lhe surpreendeu?

Uma das combinações que mais me marcou foi também um “insight”.

Ao parear um prato de peixe branco cozido no vapor e depois grelhado na brasa vestindo um molho condimentado e espesso, à base de cúrcuma e curry amarelo com banana da terra, manteiga de garrafa e coentro, tive dificuldade pra encontrar um branco que abraçasse o “dressing” de sabores e perfumes intensos e profundos, além da textura a um tempo acetinada e untuosa. Arrisquei um francês doce da região Sud-Ouest, da denominaçãoMontravel, o Château MoulinCaresse “Magie d'Automne” (Sémillon, Muscadelle e Sauvignon Gris).

Foi quando percebi que vinhos com algum açúcar residual abraçam muito bem pratos condimentados e até mesmo picantes. A partir de então fui muito feliz explorando combinações usando vinhos fortificados, como o Madeira, Marsala, Porto e Jerez, em combinações muitas vezes impensáveis, mas que incitavam divagações e reminiscências.

Harmonização campeã que sugere com o prato “carro-chefe” de onde trabalha ou trabalhou?

Nunca hesitei em explorar outras bebidas como cerveja, saquê, cachaça, licor e o muitas vezes esquecido vermute (uma espécie de vinho temperado).

Por falar em vermute, inesquecível a harmonização de um prato com morcilla, bottarga e favas verdes. A mineralidade ferruginosa do sangue curado da morcilla aliada à intensa salinidade das ovas da tainha na primeira garfada me deu um estalo: Antica Formula (Giuseppe Carpano), o clássico vermute italiano, ingrediente dos melhores Negronis. Alguns vinhos como os fortificados, atualmente esquecidos à mesa, e muitos deles relegados ao bar e à cozinha não só podem como devem ser resgatados.

Sommelier Adiu Bastos dá dicas de harmonizações inusitadas

Pratos à base de morcilla podem ser harmonizados com vermutes, dica do sommelier Adiu Bastos 

Gosto de olhar para o bar e explorar as bebidas à base de vinho, como os vermutes brancos e tintos, amaros e garrafadas. 

Sugestões ADEGA

Para acompanhar pratos com morcillas como apontou Adiu Bastos, além do vermute, sugerimos:

Casa Valduga Sur Lie Nature 30 Meses Rosé

Casa Valduga Sur Lie Nature 30 Meses Rosé - AD 91 pontos - Casa Valduga, Vale dos Vinhedos, Brasil

Este é um espumante rosé nature elaborado a partir de 50% Chardonnay e 50% Pinot Noir, com estágio de 10% do vinho base em barricas de carvalho francês e mantido 30 meses em contato com as leveduras. Esbanja frutas vermelhas frescas e notas florais, terrosas e de especiarias doces. Destaque para a textura cremosa e final agradável e persistente, com toques salinos e cítricos. 

Jérôme Arnoux Friandise 2019

Jérôme Arnoux Friandise 2019 - AD 92 pontos - Jérôme Arnoux, Jura, França

Este é um blend de PoulsardTrousseau e Pinot Noir, com estágio de 3 meses em barris de carvalho.  Fresco e tenso, mostra frutas vermelhas como groselhas e cerejas e notas terrosas, florais, de ervas e de especiarias doces Perigosamente fácil de beber, tem final cativante e persistente, que pede uma segunda taça.

Composto de Tempranillo e Viura, com estágio entre 6 e 8 meses em barricas novas de carvalho americano, é um vinho bem feito no estilo mais estruturado. Tem bom volume de boca e final cheio e persistente, com toques de groselhas, de framboesas e de especiarias doces.

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