As áreas mais adequadas para a viticultura provavelmente mudarão para altitudes mais altas devido às mudanças climáticas, segundo os cientistas
por André De Fraia
Cientistas pertencentes ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) descobriram em uma revisão do relatório de 2021 que as últimas quatro décadas foram sequencialmente mais quentes do que qualquer outra sequência desde 1850 e isso levou a mais pesquisas em viticultura e o clima.
Segundo os cientistas, locais que a viticultura é caracterizada por períodos curtos de crescimento ou que tenham temperaturas mais amenas no verão – como aqueles localizados em latitudes ou altitudes mais altas – devem ficar progressivamente mais quentes, permitindo uma seleção mais ampla de castas que poderão ser cultivadas de forma confiável.
Por outro lado, eles também destacaram como as atuais regiões produtoras de uvas premium podem sofrer grandes reduções na qualidade devido a um aumento na temperatura e menor disponibilidade de água.
Nas últimas décadas, o IPCC tem registrado um aumento na temperatura do ar, na concentração de CO₂ e uma quantidade menor de chuvas nas regiões vitivinícolas, afetando a fisiologia e a bioquímica das videiras e, consequentemente, a qualidade das uvas.
A comunidade científica tem insistido que o clima está progressivamente ficando mais quente e que eventos mais extremos se devem ao aumento contínuo das emissões de gases de efeito estufa. Isso significa que, mesmo em cenários futuros de emissões muito baixas, estima-se que as temperaturas permaneçam elevadas até pelo menos o ano de 2100 e, como o cultivo da videira para vinificação é muito suscetível às variações climáticas, é necessário planejar a segurança futura do setor agora.
Segundo o relatório do IPCC, para manter as temperaturas adequadas de crescimento, muitos proprietários de vinhedos “já buscam uma expansão para altitudes mais altas, onde não apenas as temperaturas médias são mais baixas, mas há uma maior amplitude térmica e radiação global, particularmente no espectro UV”.
Na revisão atual, os cientistas disseram que “esses fatores climáticos relacionados à altitude, quando integrados, tendem a causar um atraso geral no ciclo de crescimento, redução do crescimento vegetativo e tamanho da baga, juntamente com um sistema antioxidante aprimorado, tanto por meio de maior acúmulo de compostos fenólicos e maior atividade de enzimas antioxidantes”.
A revisão explicou ainda que “além disso, em altitudes mais elevadas, as uvas apresentam maior teor de antocianinas e maior acidez, aliviando os efeitos das condições de concentração de CO₂ que causam um amadurecimento prematuro” e concluíram que “os vinhos produzidos em vinhas de alta altitude tendem a ter melhores cor, maior acidez e perfis aromáticos mais desejáveis”.