Curiosidades

Como o Languedoc revolucionou a produção de vinhos tintos

Languedoc é uma das grandes regiões francesas produtoras de vinho

por Euclides Penedo Borges

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A evolução dos vinhos do Languedoc: Da produção em massa à excelência

Na Idade Média, os povos que ocupavam o território da França atual tinham duas maneiras de dizer "sim": os do norte diziam "oïl" e os do sul diziam "oc". Dessa forma, o norte era conhecido como a terra da Língua do Oïl e, o sul, a terra da Língua do Oc ("Langue d'Oc"). Esse segundo nome persistiu e o território mediterrâneo entre Perpignan e Montpellier, no sul da França, incluindo Narbonne e Carcassonne, é até hoje denominado Languedoc.

Vinhos populares

mapa languedoc

Durante séculos, essa região ensolarada, voltada em forma de anfiteatro para o Mar Mediterrâneo, dedicou-se à produção de volumes enormes de vinhos de mesa populares e baratos, os quais eram servidos em copos, nos bares, ou em jarras de vidro ("pichés"), nos restaurantes franceses, a preço de banana.

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Mesmo que nos reportemos, mais recentemente, aos anos 70 e início dos 80, o Languedoc ainda produzia, na maior parte, vinhos algo insípidos destinados ao consumo em massa. Do ponto de vista vitivinícola, isso era impulsionado pela facilidade de cultivo e amadurecimento da uva Carignan, que não está entre as melhores, nas planícies quentes do anfiteatro mediterrâneo. Ela ocupava grande área de cultivo e sua utilização não conhecia limites.

Novos tempos

No entanto, passados trinta anos, poucas regiões vinícolas do mundo são tão excitantes para vinhos tintos robustos e frutados a preços convidativos como o Languedoc.

Nesse período, vinicultores pioneiros ajudaram a elevar a qualidade para novos níveis. As uvas Syrah, Grenache e Mourvèdre ocuparam o lugar da Carignan e a procura pela qualidade reduziu a primazia dos vinhos populares.

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No período de 1982 a 1993, sub-regiões como Faugères, Minervois e Limoux passaram a integrar a Denominação de Origem Controlada. Corbières, o vinhedo mais amplo da França Meridional, corre atrás com tintos apimentados da Grenache.

A virada

Como a quantidade – mais que a qualidade – era a premissa para a maioria dos produtores, isso se constituiu em uma virada no mundo dos vinhos franceses. A melhoria começa timidamente com a vinícola Fortant de France, fundada pelo empreendedor Robert Skalli. Ele se desvia da tradição local, voltando-se para varietais de Cabernet Sauvignon, Viognier e Chardonnay, mas limita-se a enquadrar seus produtos sob a denominação Vin de Pays d'Oc (vinho regional).

Para encontrar os melhores tintos, temos que nos voltar para os terrenos mais elevados. Isso significa, principalmente, os Côteaux du Languedoc, que contam, por sua vez, com diversas sub-regiões na zona de colinas entre a planície costeira e o Maciço Central.

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Descobertas

Os melhores tintos do Côteaux são cortes com base na Syrah e na Mourvèdre. Propriedades emergentes, como os Châteaux la Roque, de Flaugergues e Puydeval, despontam internacionalmente e são recomendadas nos EUA, em 2003, pela Wine Spectator.

Outras, com nomes pouco divulgados até então, como, por exemplo, os Domaines d'Aupilhac, Magellan e St. Martin de la Garrigue, recebem tratamento semelhante. Os vinhos de Gérard Bertrand recebem da revista americana pontuações acima de noventa na sua escala de zero a cem.

O reconhecimento do Languedoc na Califórnia chega ao ponto de Robert Mondavi tentar instalar-se com uma vinícola na cidade de Aniane. A prefeitura local socialista, entretanto, rechaça essa possibilidade e não autoriza o empreendimento. No local, instala-se a Maison Nicolas. O seu vinho Consensus Syrah/Grenache 2000 recebe 91 pontos da WS e comprova que Mondavi havia escolhido um terroir promissor.

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Futuras gerações

De modo geral, pode-se confiar que os tintos contemporâneos do Languedoc – Corbières, Côteaux du Languedoc, Fitou... – são vinhos equilibrados, potentes e cujo frutado não se deixa suplantar por aromas amadeirados. Tendo rompido com o passado, a possibilidade do Languedoc de elaborar vinhos de qualidade ainda mais elevada, reconhecidos internacionalmente, dependerá da dedicação da nova geração de vinhateiros ao se expandir pela diversidade de terroirs da região.

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