Enoturismo

Expresso, pizza, vinho! As delícias de Nápoles

Dicas de enoturismo na terra da pizza margherita

por Mauricio Leme

Em bom italiano, Napoli. Em dialeto napolitano, Napule. Em português, Nápoles. Seja qual for a forma como a cidade é chamada, ela certamente traz uma enormidade de referências.

Alguns lembrarão da parte não tão bela, de sua história marcada pela máfia, ou ainda pensarão em uma cidade confusa e famosa por uma certa bagunça. Mas pensar em Nápoles é entender que esta cidade na região da Campania é o berço para algumas das paixões brasileiras: a pizza e o café espresso (expresso, em português).

Espresso

Il Vero Bar del Professore

Então, a primeira sugestão é começar o dia com um bom espresso (o italiano de expresso). O mais tradicional da cidade é o Gran Caffè Gambrinus (Via Chiaia, 1-2). Seu lindo salão em estilo Belle Époque impressiona e seu curtíssimo espresso também. Com uma “espessa crema” de coloração caramelo, você poderá provar o verdadeiro espresso e perceber que, em apenas um gole, ou no máximo um gole e meio, já não haverá mais nada em sua xícara. Porém, o marcante gosto residual deixado na boca perdurará por bastante tempo, assim como os grandes vinhos da região.

Se estiver em busca de um café diferente, vá para o il Vero Bar del Professore (Piazza Trieste e Trento, 46) e peça um café nocciolato. Em um pequeno copo, é colocada uma imponente porção de creme de avelãs que depois recebe o espresso quente por cima. Extremamente saboroso e marcante. E aqui também vale a pena experimentar o espresso comum, claro.

Para preencher o estômago pela manhã, uma ótima opção na Campania são as deliciosas sflogliatelle. Esse saboroso doce de massa fina com recheio de ricota e frutas secas fica ainda mais memorável quando é servido morno, sobretudo se for do Antico Forno delle Sfogliatelle Calde F.lli Attanasio, ou simplesmente Sfogliatelle Attanasio (Vico Ferrovia 1/2/3/4). Cada sflogliatella daqui sai sempre morna e crocante, com grande leveza em sua fina massa, e há apenas uma opção para ela: com ou sem a doce batida de uma pequena peneira com açúcar de confeiteiro. Certamente, complementado pelos cafés degustados, este se torna um excelente começo de dia.

Pizza

No entanto, certamente uma visita a Nápoles não estará completa sem uma pizza. Uma não, duas ao menos. Para se conhecer a “verace pizza napoletana” há dois lugares pitorescos: a Pizzeria Brandi (Salita S. Anna di Palazzo 1-2) e a L’Antica Pizzeria Da Michele (Via Cesare Sersale, 1).

Localizada em uma pequena ruela, pode-se dizer que a Brandi é mais que uma simples pizzaria, é um patrimônio histórico, iniciando seus trabalhos em 1780. Mas, foi em 1889 que ela entrou de fato para a história. Naquele ano, lá foi inventada a pizza margherita, após a visita da rainha Margherita di Savoia. A monarca experimentou três pizzas preparadas pelo pizzaiolo da Brandi e a que mais apreciou foi exatamente a composta de molho de tomate (em geral, o saboroso Pomodoro di San Marzano), a mozzarella Fior di latte, azeite e manjericão e, por isso, esta pizza recebeu o nome em sua homenagem.

Um pouco mais nova, a Da Michele nasceu em 1870, tempo suficiente para fazer uma das melhores pizzas da Itália. O local, não muito distante da estação de trem, é simples e sempre cheio. Italianos se espalham pela calçada com uma garrafa da típica cerveja Nastro Azzuro nas mãos, enquanto aguardam por uma concorrida mesa. A espera nesse ambiente vale a pena, pois a pizza é simplesmente incrível. Apenas dois sabores são servidos, a margherita e a saborosa marinara. Este segundo sabor é bastante simples, apenas molho de tomate, alho, azeite e orégano. Isso permite apreciar claramente o sabor adocicado do tomate, a intensidade do alho fresco e levemente dourado, o azeite puro e limpo e, claro, o marcante sabor da massa com sua leve elasticidade.

Vinho

Feudi di San Gregorio

Para fechar com chave de ouro, é necessário deixar a cidade de Nápoles e ir em direção aos belos vinhedos nos arredores da cidade de Avellino, a aproximadamente uma hora dali. Toda a região é dominada por uvas autóctones, entre elas, as brancas Fiano, Greco e Falanghina, e nas tintas, a potente Aglianico. Cada uma com características marcantes. Todas podem ser degustadas na vinícola onde se encontra nossa próxima sugestão, a Feudi di San Gregorio. 

É dentro dessa espetacular e moderna vinícola que encontraremos o estrelado restaurante Marennà (Cerza Grossa, 83050 - Sorbo Serpico). Jantar, ou até mesmo almoçar aqui, é entrar em uma experiência marcante de conhecer um pouco mais sobre a cozinha e os ingredientes da região reinterpretados de maneira moderna e muito precisa. Pratos inesquecíveis – como a bochecha de boi com molho de Aglianico acompanhada por purê de abóbora com alcaçuz, o ravióli aberto com espuma de ricota, ragu napolitano e pecorino de Carmasciano (queijo bastante típico da região) ou, ainda, a entrada de carne cruda de vitelo com aliche, pera, avelãs defumadas e trufas – mostram um pouco de como o chef Paolo Barrale consegue ser criativo, mas sempre mantendo os ingredientes tradicionais dessa região tão rica.

Tudo, claro, pode ser acompanhado pelos belíssimos vinhos da tradicional vinícola que ajudou a recolocar no mapa a região, com seu Fiano di Avellino, Greco di Tufo, Taurasi, entre tantos. Aproveite para apreciar da janela a bela vista das montanhas da região e dos imponentes vinhedos, inclusive o vinhedo “experimental” da Feudi, onde as uvas autóctones são testadas, em diferentes situações, desde o tipo de condução da videira até as mais diferentes podas.

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