Grandes Degustações

A degustação de 1000 pontos de Bordeaux

Conheça a história da estonteante degustação de 10 vinhos que receberam 100 pontos de Robert Parker

por Christian Burgos

Algumas degustações ficam gravadas para sempre na memória. A ADEGA participou de uma dessas. Ela foi batizada de a degustação de “1.000 pontos de Bordeaux”, realizada no Fasano pela importadora Clarets, sob a batuta do craque Manoel Beato. Em uma noite, degustamos 10 Bordeaux avaliados com 100 pontos por Robert Parker, o mais poderoso crítico de vinhos do mundo.

Chegamos cedo ao Fasano, quase três horas antes dos demais participantes, para acompanhar o serviço dos vinhos desde o princípio. As garrafas haviam descansado em posição vertical na adega por vários dias. Esse cuidado visa decantar os sedimentos que entram em suspensão durante o transporte destes vinhos com mais de 25 anos de idade.

Ao chegarmos, os vinhos estavam ordenados no aparador da sala na ordem de degustação. Ao lado de cada garrafa, estavam as 25 taças a serem utilizadas em cada vinho e um decanter para 1,5 litro. Havia três garrafas de cada rótulo, duas que seriam servidas e uma terceira “de reserva”, para o caso de alguma apresentar problema. Na mesa, estaríamos em 25 pessoas, Manoel Beato, que fez a curadoria dos vinhos e conduziria a degustação, Guilherme Lemes e sua esposa, proprietários da importadora Clarets, e mais 21 felizardos, entre eles, nós, de ADEGA.

Preparação e blend

[Colocar Alt]

Cerca de uma hora e meia antes do início da degustação, os sommeliers Marcelo Batista e Felipe Ferragone iniciaram a abertura das garrafas. Como artistas que são, optaram por utilizar saca-rolhas pinça para a missão. Abrir essas preciosidades é um trabalho sempre acompanhado de uma dose de emoção e algumas rolhas se mostraram um desafio. Durante esse processo, fizemos um bolão interno sobre quais seriam os vencedores da noite e, em seguida, provamos todas as garrafas para atestar se estavam perfeitas. E como estavam! Nenhum problema de rolha ou qualquer outro defeito ser manifestou nas 20 garrafas.

Mas como cada garrafa é única, para garantir que todos os degustadores tenham a mesma experiência, é adequado fazer um blend das duas garrafas (do mesmo vinho, é claro!) no decanter antes de servi-los.

Todas as taças foram servidas antes de os convidados chegarem. Se por um lado isso poderia trazer questões com relação à temperatura do vinho, por outro contribuiu para que os vinhos tivessem tempo para se abrir. O tema da temperatura pode ser administrado iniciando com os vinhos em temperatura mais baixa que a ideal para o serviço e mantendo o ar-condicionado também em temperatura baixa. A princípio, um dosador estava sendo usado para servir as taças, mas, como o processo estava muito lento, foi substituído perfeitamente por outro equipamento de precisão, os olhos e mãos treinados dos sommeliers.

Frente a frente

Ao encarar essas degustações, temos sentimentos mistos. Primeiro, é inegavelmente um privilégio participar de uma noite dessas. Por outro lado, há um lamento por não dedicar a noite inteira a cada um dos vinhos individualmente. Entretanto, degustar todos os rótulos lado a lado nos permite uma visão, ao mesmo tempo, ampla e detalhada do que é Bordeaux em seu esplendor. Uma oportunidade única de aprendizado para nossa evolução como apreciadores de vinho.

Além dos 100 pontos, outros fatores uniam os vinhos. Todos são de Bordeaux e são baseados em Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, com exceção do Château Petrus que é edificado a partir de Merlot. O welcome drink já dava uma boa ideia do que teríamos pela frente, Champagne Krug Brut 1990. Em seguida, mergulhamos nos vinhos.

Só 100?

Todos os vinhos receberam 100 pontos de Robert Parker e uma brincadeira comum entre os degustadores de grandes vinhos é discutir qual a diferença entre um vinho de 99 pontos e um de 100 pontos. A resposta é simples, um vinho de 99 pontos é um 99 pontos, ao passo que um 100 pontos pode ser 100, 101, 102, 103 ou mais pontos.

Embarcando nessa brincadeira, e para permitir uma comparação entre diversos vinhos na categoria “perfeição”, vamos nos permitir avaliar com pontuações que ultrapassam os 100 pontos (embora do ponto de vista técnico e, na escala de ADEGA, eles receberão AD 100 pontos).

Degustar com Manoel Beato seguramente aportou uma dimensão extra de compreensão a todos os presentes e concordo plenamente quando ele definiu que “os vinhos não estão prontos, nem perto do apogeu, mas estão todos muito prazerosos”. Se você tem alguma dessas garrafas, fique tranquilo para guardar por mais tempo. Se tiver várias delas, permita-se abrir algumas e se deliciar, com exceção do Petrus 1990.

AD 97 pontos

CHAMPAGNE KRUG BRUT 1990

Beirando seus 30 anos, sua cor já tende ao dourado. Um vinho (e reforço o termo vinho) espetacular, capaz de apresentar, ao mesmo tempo potência, estrutura, elegância e o volume de boca que é a assinatura da casa. Nariz com belíssimo bouquet e, em boca, mexerica madura e sua parte branca. Este Champagne está fantástico hoje, quando inicia uma transição importante no perlage rumo à evolução. Para quem valoriza o perlage, estes 27 anos são o ponto ideal. CB

Flight 1986

Château Léoville Las Cases

[Colocar Alt]

Até a Revolução Francesa, o que existia era apenas o Château Léoville, em Saint-Julien. Após o levante popular, a propriedade da família Las Cases foi dividida, dando origem aos Châteaux Léoville Las Cases (a porção central, que representa cerca de 60% da área), Léoville-Poyferré e Léoville-Barton. Em 1855, quando da Classificação de Bordeaux, os vinhos dos três locais foram apontados como Deuxième Cru. Depois de gerações nas mãos dos Las Cases, atualmente o Château é de Jean-Hubert Delon, que possui ainda os Châteaux Potensac e Nénin. A principal porção de seu vinhedo, chamada de Grand Clos, faz divisa com os vinhedos de Latour, em Pauillac. Essa parcela de 55 hectares (dos 98 totais da propriedade) é famosa por ser toda murada e ter um leão em seu pórtico de entrada. Em 1902, o Château foi um dos primeiros a lançar um segundo vinho, o Clos du Marquis, que, na verdade, é considerado um produto de nível igual ao seu principal vinho, já que as uvas vêm de uma outra porção do terroir. Só em 2007 é que Léoville Las Cases lançou realmente um segundo vinho, o Le Petit Lion.

A parte principal do vinhedo de Léoville é famosa por ser toda murada e ter um leão em seu pórtico de entrada

AD 98 pontos

CHÂTEAU LÉOVILLE LAS CASES 1986

Fruta em boca muito presente e sugestiva apesar dos 31 anos. Aroma de musgos e cogumelos, além tons de ervas secas e pimenta preta, e, por fim, cassis. Nervoso e esbelto, com taninos ainda muito presentes. Bastante seco. Surpreendentemente parece mais longevo que o Lafite 1986 que o acompanhou no flight. CB

Château Lafite

As primeiras referências a Lafite são do ano de 1234. Acredita-se que o nome tenha surgido do dialeto gascão “la hite”, que significa colina. A propriedade pertenceu ao “príncipe das vinhas” Nicolas-Alexandre de Ségur e foi apontado pelo Marechal de Richelieu como a “fonte da juventude” em um encontro com o rei Luís XV. O Château já era famoso – sendo um dos vinhos preferidos de Thomas Jefferson e tendo sido classificado como Premier Cru Classé em 1855 – e tinha passado por diversas mãos quando, em 1868, o barão James de Rothschild comprou a propriedade por 4,4 milhões de francos. O barão, porém, morreu três meses após a compra, deixando o Château nas mãos dos filhos Alphonse, Gustave e Edmond. Em 1985, uma garrafa de Lafite de 1787, que supostamente pertenceu a Thomas Jefferson, foi leiloada por US$ 156 mil, o maior preço já pago até então por um vinho. A autenticidade da garrafa, contudo, foi posta em dúvida e é alvo de intrigas e questões judiciais até hoje.

Vinho de Lafite já foi considerado a “fonte da juventude” pelo Marechal Richelieu

AD 101 pontos

CHÂTEAU LAFITE 1986

Neste flight, o Lafite vence o Las Cases pelo equilíbrio e pela evolução. O nariz do Lafite é um bouquet de flores, com cereja expressiva e uma textura de taninos que permite concluir que vale esperar até completar seus 40 anos. Ervas secas, pimenta e estrebaria vão se desenvolvendo em camadas até o final de boca etéreo. CB

Flight 1989

Château Haut-Brion

“Ho Bryan”, foi assim que Samuel Pepys, membro do parlamento inglês chamou o vinho que provou em 1663 numa taberna londrina chamada Royall Oak, que servia os vinhos da família Pontac – donos do Château Haut-Brion, em Graves. Esta foi a primeira menção a uma marca de vinho bordalesa na história. Mais tarde, o vinho dos Pontac atrairia enófilos famosos como o filósofo John Locke e o estadista Thomas Jefferson. Ambos escreveriam sobre suas experiências com o vinho. Haut-Brion era tão cultuado que, na famosa lista da Classificação de 1855, ele é o único fora do Médoc a figurar, mais do que isso, entre os Premier Cru. A propriedade pertenceu aos Pontac e seus herdeiros até a Revolução Francesa, quando o dono foi morto na guilhotina. Somente em 1935 é que a família Dillon, atual proprietária assumiu. Diz-se que, na época, o banqueiro Clarence Dillon estava disposto a comprar outras propriedades importantes de Bordeaux, mas ficou com Haut-Brion por sua proximidade com a cidade. Hoje, a direção está nas mãos do príncipe Robert de Luxemburgo.

AD 104 pontos

CHÂTEAU HAUT-BRION 1989

55% Cabernet Sauvignon, 25% Merlot e 25% Cabernet Franc. Tabaco e dama da noite. Equilíbrio e taninos polidos com textura que lembra talco. Um pouquinho mais curto que o La Mission. CB

Haut-Brion foi o único Châteaux de fora do Médoc a figurar na Classificação de 1855

Château La Mission Haut-Brion

A história do Château La Mission Haut-Brion confunde-se de certa forma com seu vizinho Château Haut-Brion. No início, acredita-se que ambos pertenciam a uma mesma propriedade sob domínio de diferentes ramos da família Pontac. Com o tempo, porém, elas foram divididas, especialmente quando a devotada Olive de Lestonnac – conhecida como a “Dama de Margaux” por ser herdeira de diversas propriedades – decidiu deixar parte de sua herança para a igreja. Quem assumiu uma pequena parcela dos vinhedos foi a Congregação da Missão, ordem fundada por São Vicente de Paulo anos antes. Daí o nome pelo qual a propriedade ficaria conhecida: “La Mission”. Foi sob o mando dos padres lazaristas que a propriedade prosperou – eles construíram a capela, chamada de Notre- -Dame d’Aubrion. Com o tempo, o Château criou sua própria fama, equiparando-se ou superando a propriedade “irmã” e, depois de séculos separados, os dois Châteaux, em 1983, voltaram a pertencer a uma única família, os Dillon, então donos do Haut-Brion.

AD 106 pontos

CHÂTEAU LA MISSION HAUT-BRION 1989

50% Cabernet Sauvignon, 35% Merlot, 7% Cabernet Franc e 8% Petit Verdot. Muito anos pela frente. Aromas medicinais e tons florais, algo de café e também de estribaria e ervas. Longilíneo e vertical. Toques balsâmicos. Muito longo, com fim de boca eterno. CB

Flight 1982

Château Pichon Longueville Comtesse de Lalande

[Colocar Alt]

Até 1850, a família Pichon Longueville administrou uma grande propriedade em Pauillac. Pouco depois, porém, as terras foram divididas entre os filhos dos Pichon, o que fez com que se formassem dois Châteaux Pichon Longueville, o Baron e o Comtesse de Lalande – nome dado graças a Marie-Laure Virginie, herdeira dos Pichon, quando se casou com Henri de Lalande e recebeu o título de condessa. A propriedade é vizinha do Château Latour, em Pauillac, e, em 1855, foi classificada como Deuxième Cru. De 1925 até 2006, o Château esteve com a família Miahle, que plantou muito Merlot – tanto lá quando em Palmer, outra propriedade deles – e faz com que Lalande tenha uma proporção dessa variedade muito superior aos outros vinhos do Médoc. Em 2006, Pichon Lalande foi adquirido pela família Rouzaud, que, entre outras propriedades, é dona da casa de Champagne Roederer.

AD 102 pontos

CHÂTEAU PICHON LALANDE 1982

Não à toa, este vinho é definido como feminino. Pronto, perfumado, aveludado. A fruta é incrível. Pó de pedra no nariz. Manoel lembrou que sempre dizem estar no apogeu apenas para nos surpreendermos novamente anos mais tarde. Equilíbrio e muita fruta, que é sua marca. Mostrou ameixa madura e amora. Ao mesmo tempo aveludado e opulento. Tem um tempero cítrico. Um vinho sedutor. Tão prazeroso... lembra um Pomerol e não um Pauillac, que se espera ser mais estruturado. CB

A safra de 1982 foi emblemática em Bordeaux e fez a fama de Robert Parker

Château Mouton Rothschild

Até meados do século XIX, o Château Mouton Rothschild era conhecido como Brane-Mouton, pois pertencia ao Barão de Brane, também proprietário do Château Brane (futuramente Brane-Cantenac) – que viria a ser um Deuxième Cru na Classificação de 1855, assim como Mouton. Mas o trabalho incansável e a influência do barão Philippe, neto de Nathaniel de Rothschild (comprador da propriedade em 1853), fizeram com que Mouton se tornasse o único vinho a subir de categoria na famosa classificação realizada por Napoleão III. Em 1973, ele foi oficialmente alçado à categoria de Premier Cru, juntamente com Latour, Lafite, Margaux e Haut-Brion. Philippe foi revolucionário em Bordeaux, fazendo com que sua propriedade fosse a primeira a engarrafar o vinho no próprio Château, em 1924. Amante das artes, o barão também criou uma tradição de comissionar artistas famosos para criar os rótulos de seus vinhos.

AD 98 pontos

CHÂTEAU MOUTON ROTHSCHILD 1982

Sua base está nos 85% de Cabernet Sauvignon. Aromas de café e caramelo. Taninos muito presentes. Mais duro e seco que os demais do flight, revelou-se um vinho feito para a mesa. Cresce uma barbaridade com a comida. Na companhia da codorna recheada com miolo de pão, parmesão e manjericão com sopa de cevadas e cogumelos, acabou acelerando e ultrapassou o Lalande. Apesar disso, preferi atribuir-lhe a pontuação que dei desacompanhado. CB

Château Latour

[Colocar Alt]

A história de Latour remonta à Guerra dos 100 anos, entre França e Inglaterra. A primeira menção ao local é de 1331, quando Gaucelme de Castillon construiu uma torre fortificada para proteger o estuário do rio Gironde de ataques franceses. A torre original de Saint-Lambert teria sido destruída pelo exército francês e reconstruída no século XVII com o formato atual – e serviria apenas como casa de pombos. Latour, assim como Mouton e Lafite, pertenceu ao “príncipe das vinhas” Nicolas-Alexandre de Ségur e foi uma das últimas propriedades a deixar as mãos dos herdeiros da família Segur, somente em 1963. Latour foi classificado como Premier Cru em 1855 e, na época, era vendido por mais de 20 vezes o valor de um vinho convencional de Bordeaux. Em 1993, o empresário e colecionador de arte François Pinault comprou Latour. Em 2012, o Château tomou uma decisão ousada e deixou de ser vendido pelo sistema en primeur.

A torre de Latour foi erguida para defender o estuário do Gironde de ataques franceses durante a Guerra dos 100 anos

AD 110 pontos

CHÂTEAU LATOUR 1982

80% Cabernet Sauvignon, 10% Merlot e 10% Cabernet Franc. Olfato marcado pelo toque metálico (positivo) e mineral. Sua elegância é um disfarce de prontidão, que encobre o poder de sua estrutura. Belíssima fruta. Merde de poule e mel de laranjeira. Com o tempo em taça, abre-se em ervas de Provence secas e chega a revelar um certo fumê. Demonstra grande evolução e fica cada vez melhor. Dedicaria uma noite inteira a essa taça. CB

Flight 1990

Château Margaux

O nome do Château vem de “La Mothe de Margaux”, que seria um colina de Margaux, como o local era conhecido ainda no século XII. Há quem sustente que as terras tenham pertencido a Eleanor, Duquesa de Aquitânia, e Eduardo Plantagenet, futuro Eduardo II, rei da Inglaterra. A parte dos vinhos, contudo, só viria mais tarde, com a família Lestonnac, no século XVI. Diz-se que um gerente da propriedade, conhecido apenas como Berlon, foi responsável por revolucionar a vitivinicultura de Bordeaux ao ser o primeiro a não vinificar uvas tintas misturadas com brancas e também por ordenar a colheita em outro horário que não a manhã, para que o orvalho não diluísse o vinho. Foi o Marquês de la Colonilla quem encomendou a Louis Combes – um dos mais famosos arquitetos da nova república francesa – o projeto do Château, que seria chamado de “Versalhes do Médoc”. Em 1977, o empresário grego André Mentzelopoulos comprou Margaux e, recentemente, em comemoração aos 200 anos do Château, o arquiteto Norman Foster criou uma adega moderna.

AD 101 pontos

CHÂTEAU MARGAUX 1990

Vivo e vibrante. Límpido e mineral, como água de mina. Um início de estrebaria, depois desenvolve rosas, que são aromas que muitas vezes andam em conjunto. Sua assinatura está na textura de taninos e mineralidade. Retrogosto a cânfora. CB

Acreditase que um gerente de Margaux foi o primeiro a não vinificar uvas tintas misturadas com brancas, uma revolução em sua época

Château Montrose

Até o começo do século XIX, a terra que circundava a colina conhecida como Lande d’Escargeon não tinha vinhas. O nome Montrose, ou seja, monte rosa, teria se originado devido a coloração magenta que a elevação ganhava ao ser observada pelos marinheiros que passavam pelo rio Gironde. O Château Montrose também foi de propriedade de Nicolas-Alexandre de Ségur, o “príncipe das vinhas”, mas, por estar concentrado em seus outros Châteaux (Latour, Lafite e Mouton, entre eles) vendeu as terras para Etienne Théodore Dumoulin, que tampouco acreditou que aquele local até então inóspito poderia ser usado para cultivar vinhas. Foi seu filho, que herdou, além das terras, o mesmo nome do pai, quem investiu no local, isso por volta de 1820. Em 1855, Montrose foi considerado um Deuxième Cru. Apesar do sucesso, nenhum de seus herdeiros teve interesse em continuar com a propriedade quando ele morreu em 1861. Hoje, o Château pertence à família Bouygues, que o adquiriu em 2006.

AD 102 pontos

CHÂTEAU MONTROSE 1990

Que surpresa incrível ao lados dos outros gigantes! Ameixa madura e suculenta, com taninos ainda presentes. Apresenta aromas de flor, maçã, tons vegetais, de estrebaria, mel, merde de poule. É fácil entender o porquê de esta ser tida como a melhor safra da história de Montrose. CB

Château Petrus

Diferentemente de outros vinhos ícones de Bordeaux, Petrus não costuma levar o “Château” antes do nome. Uma das razões é porque não há um Château, ou seja, um “castelo”, na propriedade. Essas terras no Pomerol pertenciam à família Arnaud e não chegaram a ser classificadas em 1855 pois não estavam no Médoc, tampouco tinham grande reputação. A grande virada na história de Petrus ocorreu quando Madame Edmond Loubat, dona de um hotel em Libourne, assumiu a propriedade, que, com ajuda do negociante Jean-Pierre Moueix, promoveu seu vinho pelo mundo todo, especialmente nos Estados Unidos. Logo, Petrus se tornou o vinho preferido da família Kennedy e foi servido no casamento da rainha Elizabete. Muito da fama do terroir de Petrus deve-se à argila azul, com grande quantidade de ferro e que, acredita-se, só se encontra lá. O vinho e o vinhedo são 100% Merlot e o símbolo usado no rótulo (São Pedro – Petrus) foi solicitado pela Madame Loubat nos anos 1940.

Petrus adquiriu fama tardiamente, quando caiu nas graças da família Kennedy, dos Estados Unidos

AD 102 pontos

CHÂTEAU PETRUS 1990

Um vinho incrível. Ao inverso do Lalande, é um Pomerol com a cara do Pauillac. Merlot de aço de um vinhedo único em seus 11,5 hectares. Floral, especiarias e uma profusão de aromas. O fim de boca emociona, com alecrim e musgo. O único vinho de toda a noite que fiquei com pena de abrir, pois ainda é uma criança. Uma daquelas crianças destinadas a colégios para superdotados. CB

Final

Para terminar a noite, mergulhamos em outro vinho mítico de uma safra ainda não representada na noite, 1983. Um verdadeiro bonus track de 100 pontos.

AD 100 pontos

CHÂTEAU D’YQUEM 1983

Um vinho mágico que, ao final de uma sequência incrível de rótulos, é capaz de renovar nossa energia com vibração e equilíbrio! Alegria é a palavra que o define. Cor de evolução quase âmbar. Cheiro de açafrão. Compota de laranja e equilíbrio na acidez de uma safra de grande destaque. A reação a este Sauternes foi tão efusiva que Guilherme Lemes generosamente mandou abrir mais uma garrafa. CB

Leia mais sobre Bordeaux

palavras chave

Notícias relacionadas