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A Pinot Noir americana que faz sucesso falando… francês!

O Willamette Valley, no Oregon, é um dos terroirs mais propícios para a Pinot Noir fora da Borgonha

por Arnaldo Grizzo

Willamette Valley, terroir de Pinot Noir no estado de Oregon nos Estados Unidos

We are Pinot Noir, ou “nós somos Pinot Noir”, é o que diz o emblema da associação de produtores de Willamette Valley, a maior AVA (American Viticultural Area, como são chamadas as denominações de origem controladas nos Estados Unidos) do estado do Oregon, na costa noroeste perto do oceano Pacífico. 

Mas por que esse vale de 160 quilômetros entre Portland, capital do estado, e Eugene, é considerado a “terra prometida” da Pinot Noir nos Estados Unidos? 

Além do toque francês na etimologia, afinal o nome “Willamette” é a versão francesa do nome indígena “Wallamt”, a região possui muitas semelhanças com a Borgonha.

Willamette Valley segue o curso do rio de mesmo nome que serpenteia entre as montanhas da costa e a cordilheira Cascade com 60 quilômetros em seu ponto mais largo. Ali forma-se um clima com verões quentes, mas noites frias, invernos amenos e primaveras longas e geralmente chuvosas, o que propicia boas condições especialmente para o cultivo de variedades de clima frio, tal qual a Pinot Noir, mas também Pinot Gris, Pinot Blanc, Chardonnay, Riesling e Gewürztraminer. 

Diz-se que a primeira vinícola verdadeiramente projetada e construída com uma vinícola e não apenas uma “adaptação de um celeiro”, foi a Sokol Blosser em 1971. 

Naqueles anos, os vinhos do Oregon ainda não eram reconhecidos e sequer entre a população local havia grande repercussão. Somente a partir do final dos anos 1970 é que alguns embaixadores tomaram as rédeas e ajudaram a divulgar, como Nick Peirano, dono do famoso restaurante Nick’s Italian Café em McMinnville, local que abriu as portas tanto para os vinhos locais quanto para reuniões de produtores. 

Em seguida alguns eventos ajudaram a trazer luz aos vinhos do Oregon. 

Um deles teve lugar nas Olimpíadas do Vinho de 1979, realizadas em Paris, quando um Pinot Noir de Yamhill County da Eyrie Vineyards ficou em terceiro lugar em uma degustação às cegas. 

O aclamado produtor da Borgonha, Robert Drouhin, não convencido do resultado, promoveu nova degustação em Beaune no início de 1980 e o South Block Reserve Pinot Noir 1975 da Eyrie ficou em segundo lugar contra um Chambolle-Musigny 1959 do próprio Drouhin.

Em 1985, uma série de Pinots do Oregon (majoritariamente da aclamada safra 1983) brilharam em uma prova às cegas em Nova York, novamente diante de exemplares da Borgonha. 

A degustação de Nova York estimulou um surto de crescimento na região. 

Véronique Drouhin, filha de Robert, passou a colheita de 1986 no Oregon, trabalhando em várias vinícolas. 

No ano seguinte, Drouhin comprou um vinhedo em Dundee Hills. Outro nome de peso a adquirir terras no local foi o crítico de vinhos Robert Parker, que, em sociedade com seu cunhado, Michael Etzel, comprou uma propriedade em Chehalem Ridge em 1987 – e começou a desenvolver um pequeno vinhedo e a vinícola Beaux Frères (Cunhados, em francês). 

Não deixa de ser irônico que Parker, que chegou a ser considerado persona non grata na Borgonha, tenha sido um dos que ajudou a tornar lendária a safra de 1983 (mesmo ano em que a AVA foi criada), dando grande publicidade para os Pinots do Oregon.  

Regiões 

O Willamette Valley é uma denominação grande e bastante variada que inclui nove sub-denominações: Chehalem Mountains, Dundee Hills, Eola-Amity Hills, Laurelwood District, McMinnville, Ribbon Ridge, Tualatin Hills, Van Duzer Corridor e Yamhill-Carlton. 

Mais de 80% das uvas cultivadas são Pinot Noir, mas o Willamette Valley também produz bons exemplares de Chardonnay, Pinot Gris, Riesling, Gruner Veltliner, Melon de Bourgogne (Muscadet), Gamay, entre outras. 

Confira detalhes de cada sub-região. 

Chehalem Mountains 

O ponto mais alto dentro do Willamette Valley é o Bald Peak (Pico Calvo) das Montanhas Chehalem, ao sudeste de Porland. Três tipos importantes de solo estão representados nas encostas de Chehalem: basáltico, sedimentar oceânico e loess (sedimento do leito do lago), que possuem cerca de 650 hectares de vinhedos. 

Dundee Hills AVA 

Local das primeiras uvas no Willamette Valley, as colinas possuem solo exclusivamente basáltico e é o local com mais vinhedos do estado, compreendendo cerca de 690 hectares. 

Eola-Amity Hills AVA 

Esta denominação compreende a região entre as colinas Eola e Amity. Duas das influências predominantes nas características dos vinhos de Eola Hills são os solos basálticos rasos e o corredor Van Duzer, que permite que os ventos frios do oceano fluam, reduzindo as temperaturas drasticamente. 

McMinnville AVA 

McMinnville fica a oeste da sede do condado de Yamhill. Ela se estende em direção à foz do corredor Van Duzer. Os solos rasos são principalmente argilosos sedimentares marinhos, com camadas aluviais e uma base de basalto. 

Ribbon Ridge AVA 

Ribbon Ridge é um esporão de elevação de sedimentos oceânicos na extremidade noroeste das montanhas Chehalem. Os solos são sedimentares oceânicos e os vinhedos são protegidos pelas grandes massas de terra ao seu redor. A escassez de água força a maioria dos vinhedos a serem cultivados sem irrigação. Ribbon Ridge está dentro da Chehalem Mountains AVA. 

Yamhill-Carlton AVA 

Ao Norte de McMinnville, em torno dos povoados de Carlton e Yamhill fica esta denominação. Os antigos sedimentos marinhos de granulação grossa da área são alguns dos solos mais antigos do vale. 

Van Duzer Corridor AVA 

O Corredor Van Duzer é uma anomalia na Cordilheira da Costa, através da qual os ventos oceânicos afunilam-se para o vale, criando um efeito de resfriamento que ocorre no início da tarde. Essa brisa diminui a pressão dos fungos em todo vale. 

Tualatin Hills AVA 

Lar do primeiro vinhedo comercial do Oregon. A denominação é reconhecida principalmente pela bacia hidrográfica do rio Tualatin. É protegida a oeste por alguns dos picos mais altos das montanhas da cordilheira da costa e protegida ao sul pela grande massa das montanhas Chehalem. 

Laurelwood District AVA

Uma das mais novas AVAs de Oregon, foi aprovada em junho de 2020. A denominação, que circunda o distrito de mesmo nome, está dentro da Chehalem Mountains AVA. O solo de Laurelwood é composto de uma base de basalto de 15 milhões de anos com uma camada superior de loess. 

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