Além de originar ótimos rótulos, as margens do Rio Minho guardam rica história
por Euclides Penedo Borges
De origem portuguesa, o vinho verde é uma opção refrescante para os dias de calor
Uma característica comum a todos os vinhos brancos é que nenhum deles é branco. Diante de dois copos - um de leite e outro de vinho branco - qualquer pessoa é capaz de dizer em qual dos dois tem vinho, mesmo não sendo um aficionado. A mesma idéia cabe para os vinhos verdes. Nenhum deles é verde. A palavra não diz respeito à cor e sim ao frescor e à juventude com que deve ser consumido. É verde em oposição a maduro. Leve, pouco alcoólico, ácido, digestivo, bebido bem frio com sua aguda característica, é vinho muito requisitado. No verão como bebida refrescante e, em todas as estações do ano, à mesa, com saladas e verduras ou com sardinhas grelhadas, se for branco, ou com bacalhau à portuguesa quando tinto. Típico e exclusivo de região demarcada no noroeste de Portugal, o vinho verde teve uma longa história que acompanha de perto a própria história da nação portuguesa.
Desde o tempo da ocupação romana, antes da era cristã, a vinha era cultivada na margem sul do Rio Minho da forma característica e invulgar que se mantém até hoje. Não se trata de suposição. As referências à viticultura na região encontram-se nos escritos do naturalista Plínio, o Velho, em sua História Natural, e do filósofo Sêneca, em seu compêndio Questões Naturais. Está também documentada na legislação do Imperador Domiciano, entre 96 e 51 a.C.
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Na Idade Média multiplicam-se as referências escritas ao cultivo das uvas e a elaboração de vinhos no noroeste lusitano, a partir das atividades nos mosteiros e do decisivo suporte da coroa portuguesa. O vinho entra definitivamente, entre os séculos XIII e XIV, nos hábitos das populações entre o Minho e o Douro ao mesmo tempo em que se dá a expansão econômica da região e a crescente circulação da moeda. Ainda que a exportação fosse pequena, os vinhos verdes foram, entre os vinhos portugueses, os primeiros conhecidos fora das fronteiras, particularmente na Inglaterra.
No início do século XX, ultrapassados os problemas das quebras de produção devido às pragas, foram tomadas medidas especiais para a colocação dos vinhos locais e escoamento dos excedentes. Tornava-se obrigatório, para isso, conservar a genuinidade e a qualidade dos produtos, assegurando-se seu valor do ponto de vista cultural e econômico.
O ano de 1908 é crítico na história portuguesa: o rei Carlos I e seu filho são assassinados, abrindo caminho para a República. Nesse mesmo ano, a região dos vinhos verdes é demarcada oficialmente e dividida em seis sub-regiões: Monção, Lima, Basto, Braga, Amarante e Penafiel. O limite a oeste é o Atlântico e, ao norte, a Espanha.
O golpe militar de Gomes da Costa, em 1926, põe fim à curta vida da república liberal. Coincidindo com esse fato, o comércio do vinho verde é regulamentado, os limites geográficos da denominação são definidos e os seus vinhos são caracterizados. Cria-se então a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) para exercer o controle da produção e do comércio.
Nos anos 1950, em pleno Estado Novo salazarista, são constituídas as 21 cooperativas atualmente existentes na região. Também nessa época a Denominação de Origem Vinho Verde é aceita pela Organização Internacional do Vinho. Às vésperas da Revolução dos Cravos, finalmente, a denominação é reconhecida e registrada na Organização Mundial da Propriedade Industrial (Genebra, 1973), conferindo à região do Minho a exclusividade internacional no uso da designação Vinho Verde.
Em consequência da entrada de Portugal na Comunidade Européia, em 1986, a CVRVV é reformulada. Além da delimitação geográfica, o controle se estende às videiras e aos vinhos. Observa-se a natureza do solo, o uso de castas recomendadas e autorizadas, as práticas de cultivo, os rendimentos por hectare. Já nos vinhos: os métodos de vinificação, o teor alcoólico mínimo, as condições químicas e sensoriais. Para isso, ela realiza a análise química e a prova dos vinhos, certifica e fiscaliza os produtos, atribui-lhes o Selo de Qualidade e dedica-se à divulgação dos mesmos em Portugal e no exterior. Essa ação não demorou a dar frutos: a exportação de vinhos verdes atingiu significativos 20 milhões em 2005. A tendência é de se elevar pelo menos em torno de 20% até 2010.
Bebida singular, única no mundo, o vinho verde, branco ou tinto, destacase por seu frescor e originalidade. Os tradicionais vinhos de corte de várias uvas convivem modernamente com vinhos verdes varietais, brancos de Alvarinho, Arinto, Azal Branco ou Loureiro, tintos de Espadeiro, Rabo de Ovelha, Alvarelhão ou Azal Tinto.
Tendo seguido por esses dois mil e tantos anos a história de Portugal, os vinhos do Minho guardam, em sua singeleza, um pouco da alma portuguesa.
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