Do trigo ao vinho na “terra negra”

Conheça Swartland, na África do Sul e seus grandes vinhos

A região de Swartland, na África do Sul, vem se destacando por seus vinhos nos últimos tempos

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por Arnaldo Grizzo

Ao norte da Cidade do Cabo, África do Sul, o distrito de Swartland – que compreende uma área de 65 quilômetros quadrados – sempre foi marcado pela produção de grãos, especialmente trigo.

No entanto, mais recentemente, essas plantações de tons geralmente amarelados vêm apresentando cada vez mais parcelas verdes de vinhedos que escalam o sopé das montanhas Piketberg, Porterville, Riebeek e Perdeberg, se estendem também ao longo das margens do rio Berg.

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Swartland literalmente significa “a terra negra” e a área leva o nome dos renosterbos indígenas (arbusto de rinoceronte), que uma vez deram à paisagem uma cor escura em certas épocas do ano.

O distrito foi tradicionalmente uma fonte de vinhos robustos e encorpados e também fortificados, especialmente com as variedades de uva Shiraz, Chenin Blanc e Pinotage. Swartland hoje tem vinhedos que vão do lado setentrional da montanha Paardeberg, no sul, até as planícies de Piketberg, no norte. A parte menor de Riebeekberg e a montanha Kasteelberg ficam no lado leste da região, enquanto o distrito mais frio de Darling separa a área do Oceano Atlântico.

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O clima é majoritariamente quente e seco e essas as condições reduzem significativamente o risco de doenças fúngicas, e a falta de água no solo leva a rendimentos mais baixos e frutas menores e mais concentradas.

O tipo de solo dominante é o folhelho (uma rocha argilosa de origem sedimentar) de Malmesbury, assim batizado devido à cidade de Malmesbury que fica no meio da região. Também existem bolsões de granito, principalmente ao redor da área de Paardeberg. Embora os solos sejam bem drenados, eles também retêm água suficiente em seus trechos mais baixos para suportar o cultivo sem irrigação, técnica que é amplamente utilizada em toda a região.

História recente

A história da área de Swartland surgiu em 1600, quando o comandante Jan van Riebeeck estabeleceu uma estação de abastecimento para a Companhia das Índias Orientais ao longo do Cabo da Boa Esperança e começou a enviar expedições para encontrar mais indígenas com quem pudesse negociar.

Jan Wintervogel foi enviado em 15 de março de 1655, mas foi a expedição liderada por Pieter Cruijthoff em 30 de janeiro de 1661 que acabaria por colocar a região no mapa como um potencial posto avançado agrícola.

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Ele viajou até Kasteelberg Mountain, encontrando quaggas, rinocerontes, leões e hartebeest ao longo do caminho. As primeiras fazendas nesta área foram posteriormente concedidas a colonos na virada do século XVIII devido a uma demanda crescente por gado e cereais, à medida que o assentamento do Cabo crescia de uma estação de abastecimento para uma colônia.

A área que fica entre as três montanhas de Kasteelberg, Paardeberg e Piketberg foi chamada pela primeira vez de “Het Swartland” por escrito em 22 de agosto de 1701 pelo cabo Tarus do Riebeek Kasteel Military Post.

Uma das primeiras vinícolas fundadas foi a Lammershoek, datada de 1714. Na época, era uma fazenda concedida a Adriaan van Jaarsveld e sua esposa Cornelia Nel, um casal huguenote francês. A fazenda se estendia desde Paardeberg até a montanha Kasteelberg. Nos anos seguintes, bolsões de terra foram vendidos, ou seja, Lammershoek foi a “fazenda original” de Swartland e a boa parte das outras costumava fazer parte dela.

Uma das primeiras famílias de agricultores a se estabelecer no vale de Riebeek foram os Brinks. Eles compraram sua primeira fazenda, De Gift, em 1865 e começaram a plantar diversas culturas, incluindo uvas. Groot Constantia chegou a abordar Pieter Van Der Byl Brink para se tornar seu enólogo em 1918, mas ele ficou nas terras da família.

No entanto, até os anos 1990, Swartland era conhecida por ser uma região de vinhos potentes e fortificados, mas de pouco prestígio. A avaliação da região como uma terra promissora para vinhos mais qualitativos começou no final dos anos 1990. Ao passear por lá, Charles Back, da Fairview Estate, em Paarl, encantou-se com um vinho e, ao visitar o vinhedo, descobriu a parcela de Sauvignon Blanc mais antiga da África do Sul.

Essas vinhas plantadas em 1965, sem irrigação, inspiraram-no a explorar o potencial da região. Ele e o enólogo Eben Sadie plantaram vários vinhedos e construíram uma vinícola chamada Spice Route, e assim ajudaram a mudar a visão dos vinhos de Swartland.

Regiões

Swartland
Até os anos 1990, Swartland era conhecida por ser uma região de vinhos potentes e fortificados, mas de pouco prestígio

Swartland atualmente tem sete “wards” (termo usado para uma área vitícola demarcada relativamente pequena com um padrão homogêneo de fatores naturais, a menor “denominação” da África do Sul): Malmesbury, Paardeberg, Paardeberg-South, Piket-Bo-Berg, Porseleinberg, Riebeekberg e Riebeeksrivier.

Confira as características de algumas dessas sub-regiões:

  • Malmesbury

Malmesbury é o principal centro de negócios de Swartland. As vinícolas se espalham por uma grande área e produzem diversos estilos de vinhos devido aos diferentes solos e climas da região.

Embora os verões sejam tipicamente muito quentes e secos, algumas áreas se favorecem da brisa do Atlântico e, portanto, têm um clima mais fresco. Os solos variam de arenoso (ideal para variedades do Rhône) a vermelho escuro e fértil (perfeito para vinhas não irrigadas), enquanto outros derivam de granito.

  • Piketberg

Os vinhos desta região são feitos de uvas cultivadas em uma vasta área de clima variável, que se estende desde as margens do rio Berg até o sopé das montanhas Groot Winterhoek em Porterville.

  • Paardeberg

Paardeberg (“montanha do cavalo”) divide as regiões vinícolas de Paarl e Swartland. É uma área montanhosa e pouco conhecida. O clima durante o inverno é muito frio, com precipitação média de 400-600 mm. O verão costuma ser muito quente durante o dia, com temperaturas mais amenas à noite. Alguns dos vinhedos mais altos acima do nível do mar na região de Swartland são encontrados aqui, a cerca de 700 metros de altitude. As videiras são plantadas nas encostas de Paardeberg em solo relativamente profundo, composto de arenito decomposto, granito e um pouco de argila, enquanto o solo do tipo glenrosa-scali é encontrado nas encostas mais baixas do nordeste.

  • Vale do Riebeek

Perto de Kasteelberg (“montanha do castelo”) estão as vilas de Riebeek West e Riebeek Kasteel. Os vinhedos do Vale de Riebeek se estendem ao longo dos contornos mais baixos de Kasteelberg. O solo é principalmente xisto de Malmesbury, com solo argiloso nas partes mais altas e franco-arenoso nas encostas, intercalado com solos Hutton ricos. O clima é perfeito para a viticultura, com os meses de verão de baixa pluviosidade temperados por brisas frescas da tarde, e os invernos frios permitem que as vinhas descansem.

Estilos

Swartland
Em Swartland há diversas vinícolas, cada uma com seu próprio conjunto de uvas e estilo

Chenin Blanc e Syrah são apenas algumas de um grande número de variedades de vinho cultivadas na região, que tem se mostrado capaz de fazer excelentes Sauvignon Blanc, Cabernet Sauvignon, Pinotage, etc. Há diversas vinícolas, cada uma com seu próprio conjunto de uvas e estilo. Chenin Blanc, no entanto, tornou-se um dos vinhos que definem a região.

A interação de clima, geografia e solos tende a gerar um Chenin distinto e os enólogos têm usado o envelhecimento em barricas, contato com a pele e outras técnicas para trazer à tona aspectos do caráter da variedade.

Da mesma forma, Shiraz também é uma casta que prospera e é provavelmente a tinta mais característica de Swartland, muitas vezes usada em misturas com Grenache e Mourvèdre, semelhante ao estilo do Rhône.

  • Veja abaixo os melhores vinhos de Swartland degustados recentemente pela Revista ADEGA

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