Bruno Giacosa

TBT Relembre Bruno Giacosa, o mestre do Barbaresco

Um tradicionalista que privilegiava a finesse e não a potência e passou seu legado à filha Bruna, relembre a vida e os vinhos de Bruno Giacosa

por Arnaldo Grizzo

Bruno e Bruna Giacosa

Bruno e Bruna Giacosa, pai e filha, o mestre e a herdeira

Na noite de 21 de janeiro de 2018, o Piemonte deu adeus a uma de suas lendas. Aos 88 anos, Bruno Giacosa faleceu em Alba deixando um legado incomparável.

Ele foi um dos personagens centrais de toda a transformação pela qual passaram os vinhos da região em meados do século XX, especialmente Barbaresco. O “mestre” foi dos primeiros a engarrafar os Crus separadamente, revelando ao mundo todo o potencial do Langhe com rótulos que se tornaram ícones. 

O tamanho da importância de Giacosa para a fama dos vinhos piemonteses (e italianos em geral) só se equipara à sua personalidade serena e humildade que teve durante toda a vida. Homem de poucas palavras, afirmava que seus vinhos falavam por ele. E falavam mesmo. Representavam (e ainda representam) a essência dos terroirs e da elegância do Piemonte, principalmente em Barolo e Barbaresco.

Sem muitas explicações, ele se dizia um “tradicionalista” e seus vinhos privilegiam a finesse e não a potência – com uma capacidade de envelhecimento raramente vistas. Tanto que o crítico Robert Parker chegou a afirmar que esses eram um dos poucos vinhos que ele comprava, para guardar, sem nunca ter provado antes.  

De comerciante a produtor

Giacosa nasceu em Neive em 1929. Desde menino, vivia com o pai Mario e o avô Carlo em meio aos vinhos. A família comprava uvas de terceiros e as vinificava. Após a II Guerra Mundial, diz-se que Bruno teria deixado a escola e passado a trabalhar na empresa familiar – no começo da adolescência. Assim, ainda garoto, aprendeu a vinificar com seu avô (nunca frequentou escola de enologia) e também a selecionar as melhores uvas. Segundo Angelo Gaja, Giacosa conhecia os vinhedos do Langhe palmo a palmo, em cada detalhe, sabia o sabor de cada uva de cada “sorì” (como são chamados os vinhedos delimitados na região de Barolo e Barbaresco). 

Em 1964, Bruno engarrafou seu primeiro “single vineyard” de Barbaresco, o Santo Stefano di Neive, um rótulo que se tornaria um marco na região, por ser um pioneiro dos Crus, e uma lenda. Mas ele não parou aí e passou a engarrafar outros Crus separadamente como Montefico, Rio Sordo, Albesani, San Cristoforo e Asili, por exemplo, todos com uvas compradas. Até os anos 1980, a família somente engarrafava vinhos feitos com uvas de terceiros. 

Bottis de Bruno Giacosa

Os vinhos envelhecem de três a quatro anos em botti

Com o tempo, diante da perda de suas fontes tradicionais de uvas (já que muitos produtores passaram a engarrafar os Crus), Giacosa decidiu ter seus próprios vinhedos. Em 1982, ele comprou o vinhedo Falletto di Serralunga d’Alba. “Realizei um sonho”, teria dito ao adquirir terras no que já era a fonte de seus mais aclamados Barolos e se tornou seu bastião. Mais tarde, também adquiriu os Crus de Asili e Rabajà. 

Os rótulos vermelhos

Durante sua vida, Giacosa pouco revelou sobre os métodos de produção de seus vinhos. Sabe-se que suas fermentações eram bastante longas, durando de duas a três semanas em tanques de aço inoxidável com temperatura controlada e que os vinhos envelhecem de três a quatro anos em botti de carvalho francês. Ele mesmo fazia questão de dizer o momento de engarrafar cada vinho, apenas quando os considerava prontos – e ainda assim a maioria dos críticos apontava que era preciso esperar pelo menos mais 10 anos em garrafa para poder desfrutar de todo o potencial oferecido. 

Bruno Giacosa

“Realizei um sonho”, teria dito Giacosa ao adquirir terras no que já era a fonte de seus mais aclamados Barolos

Com o tempo, tornaram-se ainda mais lendários os rótulos vermelhos de Giacosa, feitos para seus vinhos ditos Riserva. O padrão de Bruno para selecionar os vinhos que poderiam receber o rótulo vermelho era tão alto que pouquíssimos foram agraciados. Dessa forma, há safras em que os rótulos “brancos” têm tanta qualidade que é difícil dizer o porquê de não terem sido selecionados – ou seja, é algo que somente o paladar de Giacosa poderia ter definido. 

Paladar que, infelizmente, ficou um pouco prejudicado em 2006. Naquele ano, Bruno sofreu um acidente vascular cerebral que o deixou incapaz de julgar a qualidade de seus vinhos por um tempo. Na época, suas duas filhas, Bruna e Marina, assumiram a tarefa de ajudar o pai na administração com ajuda do enólogo Dante Scaglione, que havia ingressado na vinícola em 1991, e também de Giorgio Lavagna, que o substituiu em 2008. Scaglione, que voltou a trabalhar com Giacosa a partir de 2011, definiu o “mestre” assim: “A filosofia de Bruno Giacosa é a expressão de uma prática que privilegia a simplicidade de transformar as uvas numa garrafa de vinho excelente, seguindo uma prática estrita de uma enologia conservadora e não intervencionista”. 

Hoje, Bruna é quem se destaca à frente da empresa, sendo uma ferrenha defensora das ideias do pai e especialmente dos “single vineyard” de Barolo e Barbaresco. “Sempre tivemos um grande respeito pelo terroir. Nossos vinhos são limpos, elegantes e, ousaria dizer, únicos”, resume. 

Para encontrar os vinhos piemonteses mais bem pontuados das melhores importadoras do Brasil, clique aqui.

palavras chave

Notícias relacionadas