Nascida na Espanha, a Tempranillo é conhecida por muitos nomes, porém, está na essência do vinho hispânico
por Carolina Almeida
Tempranillo é conhecida por diferentes nomes, como Tinta del País, Tinto Fino, Tinta Roriz, Cencibel, Aragonês etc
Mundialmente falando, quando o assunto é vinho tinto, a esmagadora maioria das pessoas o associa à Cabernet Sauvignon ou à Merlot. Porém, se dermos um zoom no mapa mundi e nos focarmos apenas na Espanha, a figura muda completamente. Lá, quem reina é a Tempranillo, casta originária e plantada em abundância no país.
Durante muitas décadas, a uva era vista como algo que dizia respeito apenas à Península Ibérica, uma variedade local. Porém, na década de 1990, ela se tornou uma casta de interesse internacional. Críticos comparam o papel da Tempranillo na Espanha com a Cabernet Sauvignon em Bordeaux, em relação aos blends.
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Para se ter uma ideia da relevância da Tempranillo na Espanha, basta analisar os números: em Rioja, por exemplo, ela ocupa mais de 60% da área de plantação, porcentagem que vem crescendo ao longo dos anos. No que diz respeito à Espanha de maneira geral, a casta é de longe a mais cultivada, com 20% da área total de vinhedos. Além disso, ela é a uva principal do Vega Sicilia Único, principal vinho da vinícola de mesmo nome, um dos mais celebrados do mundo.
É justo dizer que a variedade representa a essência dos vinhos tintos espanhóis. É difícil encontrar uma casta que tenha tanta influência e domínio num país como a Tempranillo na Espanha.
Ela recebe esse nome por sua maturação ser “temprana”, ou seja, acontecer mais cedo do que a maioria. Dependendo das condições de clima, pode ser colhida varias semanas antes que as demais tintas.
Mesmo em território espanhol, ela nem sempre é chamada de Tempranillo. Em Ribera del Duero pode ser conhecida como Tinto Fino. Em Valdepeñas, Cencibel. Em Toro, Tinta de Toro. Tinto Madrid, Tinto de La Rioja, Tinta del País e outros tantos em outros lugares. Saindo da Espanha, a casta ganha ainda mais nomes. No Douro e no Dão, por exemplo, ela é conhecida como Tinta Roriz e junto a outras, como Touriga Nacional e Touriga Franca, forma o grupo das mais especiais lá cultivadas, sendo uma das cinco uvas principais na elaboração do vinho do Porto. Já no Alentejo, ela é chamada de Aragonês. Saindo da Península Ibérica, ela encontrou boas condições na América do Sul, especialmente na Argentina, e na Austrália, onde foi uma das cepas de maior crescimento no que diz respeito à área de plantio ultimamente.
Existem muitas teorias para a origem da Tempranillo. Embora alguns acreditem que ela tenha sido levada à Espanha por monges que saíam da Borgonha em direção à Santiago de Compostela, com o intuito de levar suas uvas aos monastérios espanhóis – essa ideia ganhava reforço pela suspeita de que a Tempranillo era parente da Pinot Noir –, o mais provável é que a casta seja nativa da região de Rioja. Segundo estudos genéticos feitos recentemente, foi comprovado que a Pinot e a Tempranillo não têm ligação. De acordo com o Instituto de Ciencias de la Vid y el Vino (ICVV) e do Instituto Madrileño de Investigación y Desarrollo Rural, Agrario y Alimentario (IMIDRA), as castas que deram origem à Tempranillo são Albillo Mayor e Benedicto – a primeira uma variedade branca muito conhecida e cultivada no centro da Península Ibérica e a segunda uma tinta que é cultivada em pouquíssimas regiões.
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A elegância da Tempranillo vem de um clima frio. Mas para os altos níveis de açúcar e a casca grossa, que dá profundidade à cor, é necessário calor. É por isso que, em linhas gerais, os melhores vinhos da casta provêm de uvas cultivadas em zonas de alta insolação e noites frias. Na Espanha, essa dualidade é reconhecida em climas continentais, como em Ribeira del Duero, casa do Vega Sicilia, onde a amplitude térmica pode chegar a 20°C entre dia e noite.
Além de ser uma uva de fácil adaptação, o que a Tempranillo tem de mais especial é o fato de ela ser constante nos mais diversos terroirs, de ser capaz de originar vinhos de estilos distintos e de poder se mesclar com vários tipos de uva.
Ela costuma dar origem a vinhos de boa estrutura e acidez gostosa, com taninos não muito pronunciados, o que facilita a apreciação de quem ainda não está acostumado às bebidas mais adstringentes, e fruta e textura que se sobressaem. Para descrever seus vinhos, muitos dizem que é a mistura da Cabernet Sauvignon com a Pinot Noir, pois ela tem a cor profunda e os sabores potentes da primeira acrescidos das frutas vermelhas mais delicadas como morangos, por exemplo, da segunda. Quando envelhecidos em barris de carvalho, tendem a apresentar tons de tabaco e, principalmente, coco. É uma ótima alternativa para as já manjadas Cabernet e Merlot.
Um Tempranillo jovem sem passagem por barricas (ou com pouco tempo de barrica) pode ir muito bem ao lado de uma pizza calabresa. Aliás, embutidos e linguiças em geral combinam bem com esse estilo de vinho. Cordeiro assado com especiarias também pode casar com ele, assim como queijos de massa mais mole, como Brie.
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