Primórdios

O Cabernet Sauvignon californiano que superou os franceses em 1976

Durante o "Juramento de Paris" um vinho de Cabernet Sauvignon desconhecido redesenhou o Atlas Enológico Mundial

por Euclides Penedo Borges

Os vinhos californianos ganharam fama internacional no chamado “Julgamento de Paris”, de 1976, quando em uma degustação às cegas, eles foram melhor avaliados do que vinhos franceses do primeiro time. O fato, amplamente divulgado na imprensa, ganhou até a capa da revista Time. O grande vencedor foi um Cabernet Sauvignon da vinícola Stag’s Leap Wine Cellars, de Napa Valley. O que poucas pessoas conhecem são os antecedentes desse fato.

O começo

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A produção de vinhos na Califórnia iniciou-se com a fundação das missões católicas

Do ponto de vista histórico pode-se dizer que a vinicultura californiana teve início há duzentos e quarenta anos, com a chegada da expedição de Gaspar de Portalá a San Diego. Ela tinha sido enviada em missão pela corte espanhola, preocupada com as incursões piratas, como a do britânico Francis Drake, naquela região ensolarada e de poucas chuvas, “quente como um forno” (cali – fórnia, daí o nome da região).

Na expedição estava o Padre Junípero Serra, que deu início, em 1770, à implantação de diversas missões, cada uma formada por uma capela com um anexo, além de vinhedos para a produção do vinho da missa.

As missões

Nos sessenta anos seguintes foram fundadas vinte e uma missões, entre San Diego, no sul, e Sonoma, no norte, originando os nomes de diversas cidades da Califórnia: Santa Bárbara, Santa Lucia, San José, Santa Cruz. A última delas foi a missão de San Francisco Solano de Sonoma, um misto de centro de catequese e guarnição militar, comandada pelo general mexicano Mariano Vallejo e estabelecida para evitar novas invasões após o estabelecimento de uma colônia russa no atual Russian River Valley.

Em 1834, as missões foram secularizadas e, com o tempo, algumas delas tornaram-se apenas ruínas. Mas a faixa costeira da Califórnia já era, então, um jardim de videiras.

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A poderosa Cabernet Sauvignon

+ Os bastidores do Julgamento de Paris

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Os pioneiros e a lei seca

Após a Corrida do Ouro de 1850, surge a personalidade do Coronel Agoston Haraszthy, aventureiro de origem húngara, considerado o pai da vinicultura da Califórnia. Convencido de que a região poderia ser um imbatível centro vinícola, ele se estabeleceu em Sonoma, fundou a Buena Vista Winery (ainda hoje existente, após a restauração de 1980), e convenceu Vallejo a se fixar na Califórnia e tornarse vinicultor. Atualmente Vallejo é o nome de uma cidade ao sul de Napa.

Vários outros pioneiros se instalam por lá: Gustave Niebaum, cujo nome aparece na atual vinícola Niebaum- Coppola, Frederik Beringer (Beringer Vineyards), Jacob Schram (espumantes Schramsberg), John Sutter, hoje no nome da Sutter Home Winery, o alemão Charles Krug, que se estabeleceu no norte do Napa Valley, os franceses Georges de Latour (Beaulieu Vineyards) e Charles Lefranc (Al Madén, ou seja, A Mina).

A proibição de bebidas alcoólicas interrompeu novamente o processo; os poucos produtores que sobrevivem à Lei Seca de 1919 elaboraram suco de uva e/ou uva-passa. O valor patrimonial das vinícolas pioneiras desabou.

Recuperação

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A vinícola fez história ao derrotar os melhores rótulos franceses em 1976

Com o fim da Lei Seca, em 1933, novos empreendedores dedicaram-se ao ressurgimento da vitivinicultura californiana. Nessa época, alguns fatos merecem destaque, como a aquisição e a recuperação da vinícola pioneira de Charles Krug pelo imigrante italiano Cesare Mondavi, em 1943. Seus filhos Robert e Peter desenvolveram o empreendimento e conviveram “entre tapas e beijos” por vinte e três anos, apesar da diferença de gênio entre eles.

Nos anos sessenta, as multinacionais também se interessaram pela vinicultura: A Nestlé adquiriu a Beringer, a United Vintners comprou a Beaulieu Vineyards e a National Distillers, a Almadén. A tecnologia passou a imperar no cultivo da uva e na elaboração dos vinhos. A qualidade dos vinhos da Califórnia floresceu e o consumo interno dos Estados Unidos aumentou.

O julgamento

Em 1966, Robert Mondavi desentendeu- se com seu irmão e deixou a Charles Krug Winery, da família, e dedicou-se à implantação de seu próprio empreendimento, em Oakville, no centro do Napa Valley. Lá, ele colocou em prática sua filosofia voltada para as práticas francesas, influenciando decisivamente uma nova geração de vinicultores da Costa Oeste. Um dos colaboradores de Mondavi foi Warren Winiarski, oriundo de Chicago. Rapidamente, ele também se estabeleceu como vinicultor ao adquirir vinhedos numa localidade de Napa, conhecida pelos caçadores como o Salto do Alce (Stag’s Leap). Em 1976, a Stag’s Leap Wine Cellars, de Winiarski, atreveu-se a colocar seu Cabernet Sauvignon na degustação de 1976, organizada, em Paris, pelo jornalista inglês Steven Spurrier, disputando com Bordeaux e Borgonhas. E venceu!

O evento foi denominado pela revista Time como “The Judgement of Paris”, em destacada matéria de capa. O resto é de conhecimento público.

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