"Sentimos muito, não temos mais nada para vender", frase mais dita por produtores da região francesa
por Silvia Mascella Rosa
Pergunte para um sommelier ou enófilo qual vinho da uva Chardonnay você tem obrigação de conhecer se está se aproximando seriamente do mundo do vinho. A resposta será unânime: Chablis. Mas se há alguns anos o entrave para conhecer esse branco da Borgonha era o preço, hoje é outro: quase não há vinho disponível. Na feira Les Grands Jours de Bourgogne, que aconteceu no final de março na França, a frase do título deste texto foi uma das mais faladas.
Entre as mais antigas e importantes regiões francesas, a Borgonha está localizada no centro leste da França, sendo que Chablis é a parte mais ao norte, em direção a Paris. Dessa grande zona de produção (a Borgonha) vem alguns dos mais prestigiados e icônicos vinhos franceses, como o Romanée-Conti, por exemplo.
Caso você nunca tenha visto a região de Chablis em imagens, te convidamos a assistir o vídeo que está no final deste texto (em inglês).
A crise que atinge a região também já é assunto recorrente, mas agora chega o mercado consumidor de frente: safras menores por conta das geadas e de qualidade que não atinge as normas das DOCs regionais, estoques baixos e demanda muito grande tanto dos próprios franceses quanto do mercado internacional. "Falta vinho, talvez no ano que vem", respondem os produtores para os compradores profissionais.
"Tudo isso sem contar o aumento de preços, que já observamos que está entre 10 e 15% nas vinícolas, e deve aumentar ainda mais com o problema dos insumos deste ano", diz Adrien Michaut, enólogo presidente do ODG de Chablis, e completa: "Precisamos saber se o consumidor vai aceitar isso".
Para a mesa de discussão entre os proprietários da região e os órgãos reguladores, volta uma velha proposta (já recusada no passado) de aumentar o limite de produtividade das denominações de Chablis - que hoje é de 70 hectolitros por hectare - para algo entre 75 e 80. "Esse aumento de produtividade nos permitiria termos uma reserva interprofissional. Por isso levamos a ideia para debate novamente", contou Paul Espitalié, presidente da Comissão de Chablis na BIVB (Bureau Interprofissional dos Vinhos da Borgonha).
A dica de ADEGA para o enófilo? Se encontrar um bom Chablis, compre e beba. Pois está ficando cada vez mais raro.