Uva Peverella cultivada na Serra Gaúcha corresponde à uva Boschera cultivada no Vêneto
por Silvia Mascella Rosa
A imigração italiana para o Brasil, que perdurou entre os anos de 1870 até 1920, foi fundamental para a evolução da vitivinicultura no país, especialmente na Serra Gaúcha. Cooperativas e vinícolas quase centenárias têm em sua genética o DNA italiano.
Já as uvas aqui cultivadas através dos séculos, têm procedências distintas. As que dão origem aos vinhos de mesa são, em sua maioria, descendentes de uvas que vieram dos Estados Unidos da América. Entre as viníferas a origem é plural, com matrizes européias e outras de viveiros da América do Sul.
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Mas o Brasil guarda algumas supresas em sua viticultura. Entre elas uma revelada num estudo recém publicado na Vitis-Journal fo Grapevine Research, e conduzido por seis pesquisadores brasileiros em parceria com três pesquisadores italianos, liderado por Bruno Cisilotto, do Brasil. O estudo comprova que a variedade aqui conhecida como Peverella é correspondente da variedade italiana Boschera.
A pesquisa foi realizada numa colaboração entre o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RS (Campus de Bento Gonçalves), o Laboratório de Enologia e Microbiologia Aplicada do Instituto de Biotecnologia da Universidade de Caxias do Sul e o Centro de Pesquisa e Inovação da unidade de Genética da Videira da Fundação Edmund Mach, de San Michele all'Adige, da Itália.
Acredita-se que a Peverella chegou ao Brasil nos anos 1950 (embora algumas fontes afirmem que ela chegou nos anos 1920), quando da reintrodução de variedades viníferas, como a Trebbiano, Barbera e Bonarda. Originalmente ela era considerada uma parente da Verdicchio Bianco, casta antiga da região do Trentino (zona italiana da qual vieram muitos imigrantes) onde Peverella e Verdicchio são praticamente a mesma uva.
No entanto, a pesquisa moderna das características da planta brasileira revelou que ela é muito diferente dessa parente italiana do Trentino. A análise profunda do DNA das folhas da Peverella (coletadas de plantações do distrito de São Pedro em Bento Gonçalves - RS) foi conduzida aqui e na Itália e comparada com as vitis cadastradas no Catálogo Internacional de Variedades de Uvas.
Através dessas pesquisas a conclusão foi de que a Peverella brasileira tem sim uma correspondente na Itália, mas é a uva Boschera, natural da província de Treviso, região do Vêneto. Embora a uva italiana não tenha - nos registros oficiais - nenhum sinônimo cadastrado, informalmente ela era conhecida na região como Pevarela ou Peverella moscatella.
É provável que as matrizes brasileiras tenham vindo nas mãos de italianos dessa região que chamavam a uva por esse nome informal.
Variedades raras, a Peverella brasileira e a Boschera italiana, não somam juntas 10 hectares cultivados. No entanto, os pesquisadores afirmam, na conclusão do estudo, que "essa descoberta traz imenso potencial para os produtores no Brasil, particularmente se for considerado seu valor histórico na região e o limitado cultivo mundial".
Os poucos rótulos de Peverella existem no país neste moento são muito interessante e ADEGA já degustou alguns deles