Valpolicella, Soave, Recioto, Amarone, Prosecco, Bardolino. Essas são apenas algumas das regiões que estão no Vêneto
por Arnaldo Grizzo
Do Vêneto veio a maior parte dos imigrantes italianos para o Brasil. Não é acaso, portanto, que nomes como Valpolicella, Soave, Recioto, Amarone, Prosecco, Bardolino etc. sejam tão familiares aos descendentes desse povo, pois muitos dos seus ancestrais, mesmo já morando há muitos anos por aqui, ainda faziam questão de consumir os vinhos com que estavam acostumados em sua terra natal.
Essa tradição foi passando de geração em geração. E, em alguns casos, além de consumir os vinhos venezianos, passou-se também a produzir bebidas neles inspiradas. Sim, o vinho da Serra Gaúcha deve muito aos imigrantes e foram influenciados fortemente pela cultura veneziana.
O Vêneto está localizado no nordeste da Itália, próximo ao mar Adriático. Veneza é a capital, mas Verona é uma cidade de porte similar. Pádua, Vicenza e as vizinhanças do lago de Garda também costumam ser os pontos de interesse turístico. Ao todo, são 14 DOCG (denominações de origem controlada de garantida), 29 DOC e mais 10 indicações de procedência.
É a região vinícola italiana de maior produção. São 94.572 hectares de vinhedos produzindo 10,8 milhões de hl de vinho (números de 2020), o que seria suficiente para colocar a região no top 10 da produção mundial se o Vêneto fosse considerado um país.
Curiosamente, mais de 80% da produção é de vinho branco – graças principalmente ao Prosecco (espumante branco no caso). Mas há tintos de renome como Amarone e Bardolino. As principais variedades de uva da região são Glera, Garganega, Merlot, Corvina e Pinot Grigio.
Os tintos podem variar de Merlot, Rondinella, Molinara, Corvina, Carménère, Cabernet Sauvignon/Cabernet Franc, Barbera, Oseleta, Rossignola etc. e podem ter estilo leve, como Bardolino e Valpolicella, ou muito encorpado como o Amarone. Os brancos são geralmente feitos com variedades locais como Garganega e Glera, mas também se utiliza Trebbiano di Soave (Verdicchio), Pinot Bianco, Pinot Grigio e Chardonnay.
Os espumantes são principalmente Prosecco, feitos de Glera na maioria das vezes com o método Charmat. Por fim, os vinhos de sobremesa, como Torcolato de Vicenza são feitos de uvas Vespaiolo, enquanto o Moscato Fior d’Arancio, espumante de sobremesa, é feito com uvas Moscato de uma zona chamada Colli Euganei, ao redor de Pádua.
Pode-se dividir o Vêneto em algumas regiões principais.
Perto de Verona está Valpolicella, onde ficam algumas das denominações mais famosas como Amarone della Valpolicella DOCG, Recioto della Valpolicella DOCG e Ripasso Valpolicella DOC, que contemplam o blend de Corvina, Rondinella e Molinara, basicamente. Bardolino é outro nome importante, que fica às margens do estupendo lago de Garda, e é conhecido por vinhos leves, também feitos de misturas com Corvina e Rondinella majoritariamente. Não muito distante fica Soave, terra de brancos feitos quase que somente de Garganega, uma variedade nativa da região, com acréscimos de Chardonnay e Trebbiano di Soave (Verdicchio).
Na fronteira da Lombardia-Vêneto, na margem sul do lago de Garda, Lugana é uma região especializada em brancos de uva Turbiana (Trebbiano di Lugana) e rosado chamado Chiaretto, feito de Groppello , Marzemino, Sangiovese e Barbera.
Mais ao centro do Vêneto, ao redor de Vicenza, estão denominações como Gambellara (dominada por Garganega), Monti Lessini (e a casta Durella), Breganze e as colinas de Colli Berici. Mais ao redor de Veneza estão as maiores denominações do Vêneto. Na DOC Venezia, por exemplo, os tintos geralmente são feitos com boa base de Merlot e os brancos com Pinot Grigio. Já em Piave, a maior região, a base é de tintos de Raboso (também chamada Friularo). Por fim, um pouco mais ao norte, próximo a Treviso, estão as denominações de Prosecco, especialmente ao redor de Conegliano Valdobbiadene.
Talvez o nome mais conhecido do vinho do Vêneto, Valpolicella fica no oeste da região, limitando-se ao sul por Verona, e ao norte e leste pelas montanhas Lessini, com o lago de Garda ao oeste. Os vinhedos são bastante distintos, mas geralmente trabalhados em pérgulas veronesas apoiadas em muros de pedra.
Os vinhos Valpolicella partem dos leves e acessíveis da denominação mais ampla Valpolicella DOC até o poderoso Amarone della Valpolicella DOCG. As principais uvas utilizadas são Corvina (a mais destacada), Corvinone, Rondinella e Molinara. As áreas tradicionais de cultivo ficam perto das vilas de Fumane, Marano e Negrar. Normalmente, o vinho de Valpolicella é seco, frutado e suculento, com uma típica nota de cereja ácida.
Os quatro estilos de vinhos principais, por grau de intensidade, são: Valpolicella, Valpolicella Ripasso, Amarone della Valpolicella e Recioto della Valpolicella. O que os distingue são as técnicas de vinificação. Como dito, Valpolicella tem um perfil leve. Valpolicella Ripasso é uma versão mais intensa.
Nela, os vinicultores fermentam um Valpolicella básico e, em seguida, iniciam uma segunda fermentação com o bagaço de cascas de uvas que sobraram de Amarone e Recioto. Já o Amarone della Valpolicella é feito com uvas que são secas em esteiras ou penduradas em vigas por semanas ou meses após a colheita. Esse processo, chamado appassimento, concentra os sabores e os açúcares. As uvas secas são fermentadas, resultando em um vinho também seco, porém muito intenso.
Por fim, o Recioto della Valpolicella é um vinho de sobremesa, estilo passito, também feito de uvas secas. Embora semelhante ao processo do Amarone, a fruta desses vinhos é ressecada de 100 a 200 dias, concentrando ainda mais os sabores e o açúcar. Elas são vinificadas, mas a fermentação é interrompida antes que todo o açúcar se converta em álcool, o que cria um vinho doce.
A região de Soave estende-se pelas colinas a leste de Verona. As regras exigem que os vinhos tenham no mínimo 70% de Garganega cultivada em vinhedos de encosta, sendo o restante Chardonnay e Trebbiano di Soave (Verdicchio). Trebbiano Toscano e Pinot Bianco foram proibidos. Os vinhos são secos e refrescantes, com um toque mineral salino atribuído aos solos vulcânicos da região. Faz-se ainda frisantes ou Soave Spumante, e há também um vinho doce conhecido como Recioto di Soave, feito com as mesmas uvas do branco seco.
A área de Soave Classico costuma gerar os melhores exemplares, abrangendo as comunas de Soave e Monteforte d'Alpone, uma faixa montanhosa de solo vulcânico. Outra referência de qualidade é o Soave Superiore – que denota um mínimo de seis meses de envelhecimento, e Riserva, que requer pelo menos um ano.
Situado ao longo das margens sudeste do lago de Garda fica Bardolino. As uvas utilizadas são as mesmas de Valpolicella: Corvina, Corvinone, Rondinella e Molinara. Os vinhos são frutados e bastante aromáticos, com acidez suculenta. A produção está concentrada em torno das colinas com solo moraínico.
Os Bardolino Classico vêm de áreas de cultivo tradicionais nas colinas e se diferenciam um pouco dos que vêm das planícies. Já os Bardolino Superiore devem conter um mínimo de 12% de álcool (contra 10,5% para Bardolino DOC) e ser envelhecidos por pelo menos um ano.
No extremo sul do lago de Garda, Lugana não é uma cidade, mas uma área com mais de 2 mil hectares de produção – que se estendem inclusive pela Lombardia, além do Vêneto. As vinhas aqui crescem em calcário e solos argilosos ricos em sais minerais.
A região produz exclusivamente vinhos brancos de uma só variedade, Trebbiano di Lugana, conhecida localmente como Turbiana e é um outro nome para Verdicchio.
Prosecco representa uma região de mais de 30 mil hectares e uma produção enorme de espumantes feitos de Glera geralmente pelo método Charmat (segunda fermentação em autoclaves). Pelas regras, deve-se ter no mínimo 85% Glera e no máximo 15% Bianchetta Trevigiana, Chardonnay, Perera, Pinot Bianco, Pinot Grigio e/ou Pinot Nero (vinificada como vinho branco). Para o espumante rosé (recentemente adicionado à denominação, 85-90% Glera e 10-15% Pinot Nero – vinificada como tinto).
Mas os principais vinhos surgem de denominações mais restritivas, as DOCG Conegliano Valdobbiadene e Asolo. Todos os espumantes desta denominação se qualificam para o adjetivo Superiore. No entanto, o uso de Superiore é opcional, assim como a própria palavra Prosecco. Além disso, os vinhos da comuna de Valdobbiadene podem descartar “Conegliano”, e os da comuna de Conegliano não precisam incluir “Valdobbiadene” no rótulo. Os espumantes da subzona de Cartizze devem usar a frase “Superiore di Cartizze”.
Há ainda subzonas ditas Rive: com 12 comunas e 31 frazioni que podem colocar seu nome e a palavra “Rive” no rótulo do Spumante Superiore desde que as uvas sejam todas desse local, que representam os melhores vinhedos da região, colhidas à mão e safradas. Os espumantes das DOCG também podem ser “Sui Lieviti”, ou seja, feitos com uma segunda fermentação em garrafa.
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