Um guia você para entender e decifrar as informações dos rótulos de vinhos franceses como Bordeaux, Borgonha, Champagne, Rhône e Alsácia
por Redação
Cada vez mais, os produtores de vinho têm deixado claras as informações nos rótulos, facilitando a vida do consumidor. Hoje, é difícil encontrar um produto que não especifique onde foi feito e com quais uvas e processos enológicos (passagem por barrica, por exemplo), além de muitas vezes ainda dar um resumo prévio do que o líquido dentro da garrafa pode oferecer em termos de aromas e sabores – isso sem contar possibilidades de harmonização, história da vinícola, tabela nutricional etc. Todos sabem que, quanto mais clara e direta a informação, mais segurança passa ao consumidor.
No entanto, isso é um fenômeno recente. Foi somente nas décadas de 1960 e 1970, por exemplo, que começou a moda dos rótulos que indicavam a variedade de uva usada no vinho. Até então, a maioria das garrafa vinha apenas com o nome do produtor, a região onde a bebida foi produzida e pouca coisa mais.
Alguns até plagiavam nomes consagrados de vinhos franceses para tentar indicar qual seria o estilo de seus produtos. Não à toa, ainda hoje muita gente chama qualquer espumante de Champagne. Mas, foram os norte-americanos que começaram com a “onda varietal”, hoje tão enraizada nos vinhos do Novo Mundo.
Os europeus, apesar de tradicionalistas, aos poucos, vão aderindo a essa forma de rotular seus vinhos. No entanto, em alguns locais, a tradição (e, além dela, também a legislação) ainda fala mais alto, como na França, por exemplo. Lá, a maioria dos rótulos (clássicos) não apresenta nada mais do que o nome do produtor, a safra, a região, o volume alcoólico e, às vezes, uma classificação (Premier Cru, por exemplo).
Primeiramente porque até muito pouco tempo atrás, ninguém se interessava em realmente saber como o vinho era feito, com quais uvas, com que processos. Depois, o que ficou consagrado com o tempo foram os estilos de vinhos de determinadas regiões – o terroir – e também de seus principais produtores. Ou seja, para os franceses, bastam informações básicas para que o consumidor já identifique o estilo da bebida – ou, ao menos, eles acreditam nisso.
Então, se você não está tão familiarizado com as uvas típicas e outras tradições de cada região, nem sempre vai conseguir identificar isso nos rótulos. Sendo assim, vamos analisar os rótulos de vinhos clássicos de cinco das principais regiões vitivinícolas francesas para tentar explicar o que você pode depreender deles.
Bordeaux é sinônimo de Cabernet Sauvignon? Apesar de ser uma aproximação interessante, infelizmente, isso está longe da verdade. Bordeaux é a terra do blend, ou seja, dos vinhos feitos com mais de uma uva. Sim, a Cabernet Sauvignon costuma ter papel preponderante em muitos rótulos, contudo, há vários em que ela pode ser secundária ou sequer aparecer. As misturas podem ter Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Cabernet Franc, além de outras variedades. Dificilmente as proporções vão estar apontadas no rótulo ou contrarrótulo. Uma dica: as denominações da margem direita (Pomerol e Saint-Émilion, por exemplo) via de regra têm mais Merlot, enquanto as da margem esquerda (Médoc, St.-Estèphe, Graves, Pauillac, Margaux etc), mais Cabernet.
* Algumas sub-regiões de Bordeaux possuem classificações próprias, sendo a mais comum a do Médoc, que divide os vinhos em cinco categorias de Grand Crus, dos Premier até os Cinquièmes. Já em Saint-Émilion, há apenas os Premiers Grand Cru (A e B) e depois os Grand Cru. Alguns vinhos possuem ainda a classificação de Cru Bourgeois, que viria logo abaixo dos Grand Cru.
Na Borgonha, é muito mais simples identificar as variedades de uvas utilizadas. Se o vinho for tinto, ele será um Pinot Noir. Se for branco, será um Chardonnay. Em raros casos, Gamay (tinta) e Aligoté (branca) podem ser usadas, mas geralmente em sub-regiões específicas e, costumeiramente, estão apontadas nos rótulos. Os vinhos de Beaujolais, por exemplo, são produzidos com Gamay. Aqui, diferentemente de Bordeaux, quem recebe as classificações são os terroirs, não os proprietários.
Quando tratamos de Champagne, também não é tão complicado desvendar quais foram as uvas utilizadas para elaborar a bebida. Tradicionalmente, a região usa apenas uma uva branca e duas tintas em seus vinhos: Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier. Eles quase sempre são blend entre as três e a proporção varia conforme o gosto do produtor. É possível que outras uvas sejam utilizadas, mas é extremamente raro. Mais comum é ver Champagnes feitos só com uvas brancas, os Blanc de Blanc, ou só com uvas tintas, os Blanc de Noir. É menos comum a safra estampada no rótulo, pois a maior dos vinhos, além de blend de variedades, são blends de safras.
Raro também é ver alguma classificação estampada no rótulo, mas, assim como na Borgonha, os vinhedos de Champagne também são divididos entre Grand Cru e Premier Cru.
Os rótulos dos vinhos do Rhône costumam ser muito heterogêneos, o que torna difícil definir padrões. Mais complicado ainda é tentar adivinhar com quais uvas eles são feitos. Um Châteauneuf-du-Pape, por exemplo, pode ter até 18 variedades em sua composição. Para simplificar, podemos dizer que o Rhône ficou famoso por seus GSM (Grenache, Mourvèdre e Syrah), geralmente em blend. Essas são as três uvas mais usadas, mas será difícil saber quais e quanto sem conhecer o produtor. Os vinhos e vinhedos também não possuem uma classificação como na Borgonha para determinar a qualidade.
Enfim uma região francesa em que estampar o nome da uva no rótulo é comum. Melhor ainda, o sistema de classificação separa apenas os vinhedos Grand Cru dos “comuns”. Certamente isso é um alívio, mas logo surgem alguns “enigmas”.
Um deles é a questão do grau de açúcar residual do vinho. Apesar da influência alemã, aqui a maioria dos vinhos são secos. Poucos rótulos apresentam um estilo “off-dry” (levemente adocicado), a boa parte feito com Pinot Gris ou Gewürztraminer. Alguns produtores têm colocado até escalas de “doçura” nos contrarrótulos para facilitar o entendimento dos consumidores. O segundo “desafio” são os rótulos onde aparecem as palavras “Gentil” ou “Edelzwicker”, por exemplo. Na Alsácia, os vinhos permitidos pela AOC são monovarietais, porém alguns blends são permitidos e levam os nomes citados anteriormente.
Outro ponto a ser destacado são os estilos Vendange Tardive (colheita tardia) e Sélection de Grains Nobles (Seleção de Grãos Nobres), vinhos feitos com uvas botrytizadas e, consequentemente, doces.
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